Como era a Internet no Brasil antes da comercialização
Na linha do tempo da evolução das tecnologias de comunicação do Brasil, a Internet traz consigo abreviações, siglas e protocolos. Porém, muito além dos termos técnicos, a chegada da Internet no Brasil se deve, em grande parte, a cientistas debruçados sobre um único interesse: conectar os pesquisadores brasileiros ao mundo.
“Repnet, BitNet, Internet. Não importa o nome, o importante era conectar.” Essa é a visão do doutor em engenharia Demi Getschko, pioneiro na implantação da Internet no Brasil, e diretor-presidente do Núcleo de Informação e Coordenação do Ponto BR (NIC.BR). Em 1991, ele foi um dos responsáveis por adotar o TCP/IP no Brasil, protocolo usado pela Internet que padroniza as comunicações de rede.
Mesmo apaixonado pelos desafios matemáticos das telecomunicações, Getschko teve sua trajetória totalmente direcionada ao digital quando foi trabalhar no centro de processamento de dados do Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em 1985. O acadêmico gosta de deixar claro que a internet surgiu apoiada sobre as telecomunicações, mas como uma aplicação própria e descentralizada.
VÍDEO DELE FALANDO SOBRE AS DIFERENÇAS ENTRE TELECOM E INTERNET
Para entender melhor essa história, é importante retornar a meados de 1987. O Brasil estava sob o Governo Sarney; o Plano Bresser congelava os preços dos alimentos e a Embratel monopolizava as redes de telecomunicações no país. Nesse período, pesquisadores brasileiros que viajavam para a América do Norte e Europa voltavam ao Brasil após terem contato com novas formas de comunicação por meio de correio eletrônico e de fóruns de discussão em redes de computadores. Para não deixá-los sem acesso a esse novo mundo, organizações como a Fapesp, em São Paulo, e o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), no Rio de Janeiro, buscavam meios de, literalmente, conectarem bits e bytes ao exterior.
Em São Paulo, a solução foi centralizar o fluxo de dados a partir da conexão entre um computador da Fapesp e o laboratório de física de partículas em Chicago nos Estados Unidos, o Fermi National Accelerator Laboratory (Fermilab). O centro de pesquisa norte-americano estava conectado com a uma rede de computadores internacional, a BitNet (Because It’s Time to NETwork” / Porque é hora da rede) . “A gente contratou uma linha internacional da Embratel entre nós e o Fermilab e as outras universidades se conectaram a nós”. Getschko explica que a linha contratada era de apenas 4.800 bits por segundo. Ou seja, 8 kbps, menos de 1% de uma conexão atual de 10 mbps.
Essa solução fez com que universidades brasileiras de São Paulo, Paraná, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro se conectassem entre si pela Bitnet. O problema é que as redes LNCC e Fapesp não se comunicavam diretamente. Assim, um dado da universidade de Santa Maria, que estava conectada ao LNCC, por exemplo, precisava percorrer, ao menos, dezenas de milhares de quilômetros de cabos de telefonia nos Estados Unidos antes de chegar até a USP, ligada a rede da Fapesp, que fica a menos de 1,5 mil quilômetros de distância.
Esse gargalo foi resolvido em 1989 quando LNCC e Fapesp foram conectadas entre si. Nesse ano também surgiu a Rede Nacional de Pesquisa (RNP), o que ampliou a rede acadêmica de conexões brasileiras com a rede mundial de computadores. Era o auge da Bitnet no Brasil.
Mas esse modelo de rede durou pouco. Em 1990, o laboratório Fermilab, que abriu as portas do mundo para a Fapesp, disse que migraria da Bitnet rumo à Internet (TCP/IP) por ter uma maior capacidade operacional. Novamente, a fundação pegou carona nas mudanças tecnológicas e, em dezembro de 1991, sob os olhos atentos Getschko, já haviam pacotes de dados chegando e saindo do Brasil no idioma atual da Internet.
Domínios .br
Em 1989, a Fapesp recebeu os direitos, mesmo de forma informal, de explorar o uso do domínio .br. Assim, como lembra Getschko, as máquinas brasileiras passaram a ter nome e sobrenome. Se hoje é comum pagar um domínio .com.br ou .net.br, até 1998 esse registro era gratuito desde que se respeitasse uma série de regras hierárquicas. O .gov.br, por exemplo era somente para governos. O .br, como já era usado desde o início pelas universidades brasileiras, ficou como estava (usp.br, unesp.br ufrj.br, fapesp.br etc.).
VÍDEO EDITADO QUE FALA SOBRE A BRODAGEM DO DOMÍNIO.BR E COMO A COMERCIALIZAÇÃO DEU RECEITA AO CGI
Em 1995, criou-se o Comitê Gestor da Internet (CGI.br) para dar diretrizes e políticas da Internet no País,passando a controlar formalmente a gestão dos domínios .br. Também foi nesse ano que os provedores passaram a permitir conexões discadas (dial-up) de TCP/IP aos usuários. Meses antes, em dezembro de 1994, a Embratel já havia experimentado o “Serviço de Internet Comercial” com cinco mil usuários inscritos. Contudo, Demi lembra que ele e outros pioneiros perceberam que o modelo adotado limitaria a escalabilidade da Internet no Brasil.
“No começo de 1995, o Ministério das Comunicações soltou uma portaria dizendo que a Embratel não poderia fazer conexões tcp/ip diretamente aos usuários. Ele tinha que dar para as teles ([elecom[. E as teles tinham que repassar ao provedores e os provedores, ao usuários…Em pouco tempo, tivemos um crescimento muito importante em redes porque foi montada uma estrutura que era um círculo virtuoso que era escalável.”
A ECO 92
Se a Internet no Brasil começou em 1991 sob uma velocidade bastante lenta e limitada, Getschko recorda que a Conferência ECO 92 foi responsável por dar um impulso às experimentações e divulgação do potencial que a Internet (TCP/IP) teria em um Brasil, ainda acostumado com o TELEX e o FAX como principais meios de compartilhamento de dados instantâneos.
VÍDEO DO DEMI FALANDO DESAS EXPERIÊNCIA DA ECO 92
Edição: Alessandra Esteves
GERAL
Macron tem o direito de ser contra o acordo UE-Mercosul, diz Lula
No último dia da visita de Estado ao Brasil, o presidente da França, Emmanuel Macron, foi recebido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no Palácio do Planalto, na tarde desta quinta-feira (28). Após uma reunião fechada, ambos fizeram uma declaração à imprensa. Questionado sobre a posição de Macron, contrária ao acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, o presidente brasileiro ponderou que a negociação é feita por blocos de países, mas que é direito do francês ter discordância.
“O Brasil não está negociando com a França. O Mercosul está negociando com a União Europeia. Não é um acordo bilateral entre Brasil e França, é um acordo comercial de dois conjuntos de países. De um lado, a União Europeia, com os seus países. Do outro lado, o Mercosul. Obviamente que, depois da decisão da União Europeia [de aprovar o acordo], se o Macron tiver que brigar com alguém, não é com o Brasil, é com a União Europeia. É com os negociadores que foram escolhidos para negociar, não é comigo. O acordo, tal como proposto agora, é muito mais promissor de assinar do que o outro. Mas, obviamente, como o Brasil tinha o direito de ser contra a outra proposta, o Emmanuel Macron tem o direito de ser contra a [nova] proposta”, afirmou Lula.
Já Emmanuel Macron, que na quarta-feira (27) havia criticado duramente os termos do acordo, em São Paulo, voltou a se posicionar contra o avanço do tratado, que vem sendo negociado há mais de 20 anos, entre idas e vindas. Para o líder francês, o acordo não leva em consideração exigências ambientais na produção agrícola e industrial, e seria uma espécie de “marcha a ré” na luta contra a crise climática.
“Quero recordar aqui que esse texto União Europeia e Mercosul é de um acordo negociado e preparado há 20 anos atrás, e estamos só fazendo pequenas alterações. Somos loucos, continuando essa lógica e, paralelamente, fazendo grandes reuniões, como G20 e COP, falando de biodiversidade e clima, que temos que fazer isso e aquilo. Esse acordo é um freio para o que estamos fazendo para retirar o carbono das economias e lutar pela biodiversidade. Nós, europeus, temos o texto mais exigente do mundo em matéria de desmatamento e descarbonização. Pedimos a nossos agricultores e industriais para que façam transformações históricas, esforços enormes. Houve muitos descontentes que se manifestaram [na França, contra exigências ambientais]. Mas se abrirmos para produtos que não respeitam esses acordos, somos loucos, não vai funcionar”, argumentou.
Guerra na Ucrânia
Durante declaração à imprensa, no Palácio do Planalto, Lula e Macron foram questionados sobre a posição de cada um em relação à guerra na Ucrânia, que já dura mais de dois anos. Há cerca de duas semanas, Macron declarou, em entrevista, que poderia aumentar o envolvimento da França no conflito se a Rússia escalasse a violência. Em Brasília, o francês reforçou sua opinião.
“A França é uma potência de paz, quer o diálogo, voltar à mesa de negociações, mas não somos fracos e se houver uma escalada do agressor, nós temos que nos organizar, para não ter que lamentar, apenas”, disse. O presidente da França também disse que tem uma visão comum com o Brasil sobre a condenação do conflito, embora o governo brasileiro tenha mantido uma postura de neutralidade.
“Estamos do mesmo lado, direito internacional, soberania dos povos. O fato de que quando um país é atacado, no interior de suas fronteiras, por uma potência terceira, nós condenamos. A seguir, tomamos decisões que podem ser diferentes”, disse o presidente, em referência às sanções econômicas e envio de armamentos para os ucranianos.
O presidente Lula, por sua vez, afirmou compreender o “nervosismo” do povo europeu com o conflito, que ocorre próximo de suas fronteiras, mas insistiu que é preciso buscar formas de estabelecer uma negociação pacífica entre as partes.
“O Brasil nunca teve dúvida com relação à guerra da Ucrânia. O Brasil foi, acho, o primeiro país da América Latina a protestar contra a invasão da Ucrânia feita pela Rússia. E ainda fizemos a crítica de que isso está virando uma rotina. Os países que fazem parte do Conselho de Segurança da ONU [Organização das Nações Unidas] não respeitam o Conselho de Segurança e tomam decisões unilaterais, sem discutir em nenhum fórum. Por isso que nós não concordamos, nos colocamos contra a guerra e resolvemos não tomar lado, porque queremos criar condições de encontrar um jeito de voltar à mesa de negociação. Aquela guerra só vai ter uma solução que vai ser a paz”, disse Lula, que ainda completou criticando a destruição e os investimentos em armas em deterimento do combate à fome e às desigualdades.
“Em algum momento, eles vão ter que sentar e chegar à conclusão que não vale a pena o que foi feito até agora, destruição, gastos, investimentos em armas, que é muito maior que os investimentos feitos para combater a fome, a desigualdade e a miséria”.
Fonte: EBC GERAL
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