Opinião
A sustentabilidade da pecuária brasileira e o protecionismo francês
Alegações de que a pecuária seja a principal responsável pelo desmatamento, emissão de gases de efeito estufa e outras problemáticas ambientais frequentemente desconsideram os dados e os avanços recentes no setor, sendo, muitas vezes, uma estratégia protecionista de mercados internacionais, como o francês, para desviar a atenção de seus próprios desafios.
A pecuária na Amazônia, frequentemente acusada de ser uma vilã ambiental, é, na realidade, um exemplo de como os avanços tecnológicos, aliados à aplicação rigorosa da legislação ambiental, podem tornar uma atividade produtiva plenamente sustentável. Alegações de que a pecuária seja a principal responsável pelo desmatamento, emissão de gases de efeito estufa e outras problemáticas ambientais frequentemente desconsideram os dados e os avanços recentes no setor, sendo, muitas vezes, uma estratégia protecionista de mercados internacionais, como o francês, para desviar a atenção de seus próprios desafios.
A visão de que a pecuária seja intrinsecamente prejudicial ao meio ambiente ignora os impactos das transformações ocorridas nos últimos anos. No Brasil, políticas como o novo Código Florestal têm exigido a preservação de pelo menos 80% da vegetação nativa na Amazônia Legal. Essa norma, combinada com maior fiscalização governamental e participação social, resultou na redução das taxas de desmatamento e no aumento sustentável do rebanho.
Adicionalmente, a regularização fundiária promovida pelo programa Terra Legal tem reduzido a insegurança jurídica entre os produtores, assegurando a conformidade ambiental e permitindo práticas sustentáveis. O maior controle ambiental aliado ao uso de biotecnologias, como a inseminação artificial em tempo fixo (IATF); e sistemas integrados, como o de lavoura-pecuária-floresta (ILPF), permitem aumentar a produtividade sem a necessidade de expansão sobre áreas nativas. Gramíneas específicas cultivadas em pastos degradados, por exemplo, sequestram carbono e reduzem significativamente a pegada de carbono da produção pecuária, possibilitando uma maturação bovina mais rápida e eficiente.
Embora práticas criminosas como a grilagem de terras ainda existam, é fundamental separar esses atos ilegais da atividade pecuária legítima e sustentável. Áreas invadidas e desmatadas ilegalmente para a introdução de gado representam a exceção, não a regra, e devem ser combatidas com rigor pelas forças policiais e pela Justiça. Criminalizar toda a pecuária amazônica por conta dessas práticas é desonesto e prejudica os produtores que cumprem as normas ambientais e investem em inovação.
O protecionismo agropecuário francês, sob a justificativa de critérios de sustentabilidade, evidencia um jogo político que visa proteger os interesses de seus produtores domésticos, muitas vezes menos competitivos no mercado global. Por outro lado, penalizar produtores brasileiros desestimula a adoção de boas práticas ambientais, pois gera a percepção de que esforços por sustentabilidade não são reconhecidos. Essa situação contradiz os próprios objetivos de conservação ambiental globais, já que a pecuária brasileira, em muitos casos, apresenta pegadas de carbono negativas, consolidando-se como uma alternativa mais sustentável do que práticas observadas em outros países.
A pecuária brasileira é, atualmente, uma atividade sustentável, capaz de aliar alta produtividade à preservação ambiental, especialmente na Amazônia. Além de contribuir para a segurança alimentar global, a produção brasileira sustenta milhares de empregos, promove desenvolvimento regional e fortalece o equilíbrio democrático, em um contexto global cada vez mais polarizado.
É imperativo reconhecer que a carne brasileira não apenas alimenta o mundo, mas também é um símbolo de como o desenvolvimento e a sustentabilidade podem coexistir. Adotar medidas protecionistas sob pretextos infundados apenas ameaça esse equilíbrio, e tudo isso deve ser combatido com diplomacia, evidências científicas e transparência. A sustentabilidade não deve ser usada como desculpa para barreiras comerciais, mas como um elo para unir nações em prol de um futuro mais equilibrado e justo.
André Naves é Defensor Público Federal especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social, formado em Direito pela USP e mestre em Economia Política pela PUC/SP. É também Cientista Político pela Hillsdale College e doutor em Economia pela Princeton University. Comendador Cultural, Escritor e Professor (Instagram: @andrenaves.def).
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ARTIGO
Inovação e parcerias são o caminho para uma Base Industrial de Defesa mais diversa e impulsionadora do desenvolvimento nacional
A diversificação e qualidade da indústria brasileira em defesa já é reconhecida mundialmente, com produtos como radares, aeronaves, sistemas de comunicação e equipamentos de segurança de alta performance, amplamente utilizados por Forças Armadas e civis. Além disso, a recente certificação de subsidiárias locais, como a Omnisys da Thales, como Empresa Estratégica de Defesa (EED), reforça o compromisso do Brasil com uma produção tecnológica autônoma e alinhada às necessidades nacionais. Esse status não é apenas um selo de qualidade, mas um símbolo da capacidade do país de liderar em áreas críticas, como radares, sistemas de controle aéreo e soluções cibernéticas.
O mundo atual nos apresenta desafios inéditos no campo da defesa e segurança. Vivemos uma era marcada pela crescente demanda por tecnologias de ponta para proteger nossas fronteiras e garantir a soberania nacional. Isso ficou muito claro para todos que tiveram a oportunidade de participar da Mostra BID deste ano, em Brasília, a maior e mais importante feira de defesa e segurança nacional. Nesse contexto, nosso país tem dado passos significativos no fortalecimento de sua Base da Indústria de Defesa (BID), consolidando-se como um ator relevante e resiliente no desenvolvimento de soluções estratégicas. E para alcançar todo o seu potencial, a BID precisa de um impulso que somente parcerias robustas e investimentos consistentes podem oferecer.
A diversificação e qualidade da indústria brasileira em defesa já é reconhecida mundialmente, com produtos como radares, aeronaves, sistemas de comunicação e equipamentos de segurança de alta performance, amplamente utilizados por Forças Armadas e civis. Além disso, a recente certificação de subsidiárias locais, como a Omnisys da Thales, como Empresa Estratégica de Defesa (EED), reforça o compromisso do Brasil com uma produção tecnológica autônoma e alinhada às necessidades nacionais. Esse status não é apenas um selo de qualidade, mas um símbolo da capacidade do país de liderar em áreas críticas, como radares, sistemas de controle aéreo e soluções cibernéticas.
A BID e a diversificação tecnológica
A BID brasileira está consolidada e vive um momento de aumentar a diversificação de seu portfólio. Hoje, o país busca ir além de setores já estabelecidos, como radares, aviação e blindados, para abraçar tecnologias emergentes que definem o futuro da defesa, como inteligência artificial, computação quântica, sensores avançados e cibersegurança. A soberania tecnológica passa pela capacidade de inovar em áreas de alta complexidade, garantindo não apenas a autossuficiência, mas também o protagonismo em um cenário global altamente competitivo.
Para atingir essa meta, é imperativo fomentar um ecossistema que estimule a integração entre a indústria, o governo, as Forças Armadas e a academia. Os programas de offset, por exemplo, têm se mostrado ferramentas valiosas para transferir tecnologia e desenvolver competências locais. Agora é preciso aprimorá-los, garantindo que gerem impactos concretos na capacitação técnica do país e no fortalecimento de uma cadeia produtiva diversificada.
Parcerias estratégicas: o alicerce da inovação
No centro dessa transformação estão as parcerias estratégicas. Empresas globais de tecnologia, como a Thales, têm desempenhado um papel crucial no apoio à BID brasileira, ao trazer inovações de ponta, compartilhar boas práticas e, sobretudo, investir no talento local. Projetos como o desenvolvimento de radares para a defesa aérea, em colaboração com empresas e universidades brasileiras, são exemplos de como essas alianças podem gerar conhecimento e infraestrutura com resultados de longo prazo. Aliar a expertise e a capacidade de investimento internacionais ao talento e oportunidades comerciais do setor no Brasil me parecem ser o caminho seguro para o sucesso.
Investir no futuro: a importância dos talentos locais
A base de qualquer inovação está nas pessoas. O Brasil tem uma riqueza incrível de talentos, e para que eles possam florescer e liderar os avanços tecnológicos, é preciso investir em suas formações e capacitações. Programas de qualificação técnica, incentivos à pesquisa e iniciativas que conectem jovens talentos às indústrias estratégicas são fundamentais para criar uma nova geração de profissionais preparados para os desafios do setor.
A experiência da Thales em cerca de 70 países mostra que o investimento em capital humano é um dos motores mais eficazes para o crescimento de uma indústria de defesa robusta. Ao priorizar o desenvolvimento local, não apenas fortalecemos a BID, mas também contribuímos para o progresso socioeconômico do Brasil, criando empregos de alta qualificação e promovendo inovação.
Um chamado à ação
Temos, no Brasil, a capacidade de liderar a inovação em defesa, e é essencial agir agora para construir um futuro onde a soberania tecnológica seja uma realidade. Ao investir em diversificação, parcerias estratégicas e no talento local, consolidaremos a BID como uma referência global, garantindo não apenas a segurança do país, mas também sua competitividade em um cenário global em constante transformação. E com o adicional de fomentar todo o ecossistema econômico e social em torno da indústria, como universidades, bancos, comércios locais, dentre outros.
Na Thales, acreditamos no poder das alianças para transformar desafios em oportunidades. Estamos comprometidos em colaborar com o Brasil para construir soluções que não apenas atendam às demandas de hoje, mas que antecipem as necessidades de amanhã. Juntos, podemos fazer do Brasil um exemplo de inovação, liderança e soberania.
Luciano Macaferri Rodrigues é Vice-presidente da Thales para a América Latina e Diretor Geral da Thales para o Brasil.
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