Carnaval não eleva casos de covid-19 no Rio, mas pode ter freado queda

Mais de 15 dias após o carnaval, e dez dias depois do fim da obrigatoriedade do uso de máscaras em ambientes fechados, o Rio de Janeiro não enfrenta alta nos casos e óbitos por covid-19, mas a avaliação sobre o cenário epidemiológico divide opiniões de pesquisadores ouvidos pela Agência Brasil.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Infectologia e o infectologista Celso Ramos, membro do Grupo de Trabalho (GT) Multidisciplinar para Enfrentamento da Covid-19 da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é possível dizer que o cenário se mantém favorável. Para o Observatório Covid-19, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), porém, os dados já podem indicar que o número de casos parou de cair.
Professor de doenças infecciosas da UFRJ, Celso Ramos não esperava piora no cenário epidemiológico da cidade devido ao alto percentual de pessoas vacinadas, que é de quase 85% com segunda dose ou dose única e 45% com dose de reforço. Duas semanas depois do carnaval, ele considera que a expectativa se confirmou e que não houve mudança na incidência da doença.
“Estamos em uma situação muito boa no Rio em termos de vacinação. [A situação] do município do Rio é comparável à dos melhores países do mundo e à situação de países desenvolvidos”, afirmou.
Sobre o fim da obrigatoriedade do uso das máscaras em locais fechados,em vigor desde 8 de março, o médico disse que já seria possível perceber em alguns dados do município tendência de piora, se o impacto tivesse sido esse. “Se houvesse um aumento súbito de transmissão, a essa altura, no décimo dia, já deveríamos estar vendo isso. Não estaríamos com aumento de mortes, mas deveríamos ter aumento de demanda em unidades de saúde, aumento de demanda de internação, aumento de solicitação de testes por pessoas sintomáticas e do percentual de testes positivos. Não estamos tendo isso. Até o presente momento, não aconteceu nada”,disse Ramos, que coordena a Câmara Técnica de doenças infecciosas do Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio de Janeiro (Cremerj).
O médico considerou acertada a decisão de retirar a obrigatoriedade das máscaras, mas ressaltou que ainda é preciso mantê-las em unidades de saúde, tanto por pacientes como por profissionais. “São lugares que concentram pessoas que chegam potencialmente com a doença e pessoas que podem ter risco para a doença.Acho que [a máscara] deveria continuar sendo usada, e muitas unidades continuam fazendo isso”, afirmou Ramos, que defende a volta das máscaras caso alguma ameaça concreta apareça. “Surgirem novas variantes é algo que pode acontecer, mas não podemos tomar medidas de saúde pública na suposição remota de algo que pode acontecer.”
É preciso aceitar que qualquer situação epidemiológica é variável e que o vírus não deve desaparecer, ressaltou o professor da UFRJ. “O fato de o R [taxa de transmissão] estar em 0,3 não significa que vai chegar a zero, não significa que a doença vai desaparecer. Estamos sem pólio no Brasil no momento, mas no mundo, como um todo, a doença não desapareceu. Estávamos sem sarampo no Brasil há muito tempo e ele voltou. A covid não vai desaparecer.”
Integrante do Observatório Covid-19 da Fundação Oswaldo Cruz e pesquisador em saúde pública, Raphael Guimarães disse que, na semana que vem, será possível ter mais segurança sobre possíveis impactos do carnaval no cenário epidemiológico. Apesar disso, Guimarães vê indícios de que as aglomerações e viagens podem, sim, ter mudado a curva de casos e destaca que já se nota interrupção da queda (do número diário de novos casos). “Isso é preocupante. A gente não consegue ver aumento de casos, mas consegue ver que parou de cair, o que já é um indício de que se caminha para um cenário de estabilização de casos que não é bom. E isso não está acontecendo só no Rio de Janeiro”, acrescentou.
Sobre o fim da obrigatoriedade do uso de máscaras, ele admitiu uma possível influência nos números no mesmo sentido, mas afirmou que é muito cedo para ter clareza nessa avaliação. “A experiência mostra que, mesmo em lugares com cobertura vacinal alta, quando se tem flexibilização precoce das máscaras, a tendência é haver reversão com alta dos casos. A gente vê acontecer na Europa e em alguns países do Sudeste Asiático.”
De acordo com Guimarães, com a maior transmissibilidade promovida pelas variantes do coronavírus, o patamar ideal de imunização para retirada das máscaras passou a ser 90% da população com duas doses. O dado consta no Boletim do Observatório Covid-19 divulgado na semana passada, que cita pesquisas segundo as quais, além de chegar a esse patamar, é preciso esperar de duas a dez semanas para que todos os vacinados de fato desenvolvam a imunidade.
Para o presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia no Rio de Janeiro, Rodrigo Lins, o carnaval não causou impacto significativo no cenário epidemiológico da cidade, mas a retirada da obrigatoriedade das máscaras poderia ter esperado até que essa avaliação pudesse ser feita com mais clareza, em vez de ter sido decretada na semana seguinte à folia. Mesmo assim, ele afirma ter poucas ressalvas contra a flexibilização.
“Meu ponto é que é uma questão complexa para dizer só: ‘libera ou não libera’. Há pacientes de maior risco, pessoas que não estão com esquemas completos, ambientes que, mesmo fechados, não são iguais entre si e cenários como hospitais e escolas”, afirmou Lins, que sentiu falta de mais orientações para situações específicas como escolas, onde muitas crianças não completaram o esquema vacinal. “Não acho que foi uma decisão errada, estamos vendo que o carnaval não teve impacto significativo.”
Segundo Lins, ainda é cedo para afirmar que o cenário atual é de estabilização dos casos, em vez de queda. “Vamos ter que acompanhar mais alguns dias. Em alguns países, houve uma pequena alta depois de o número cair muito, e as pessoas estão em dúvida. Mas a mortalidade continua em queda”, disse. “Não acho necessariamente que [o número de casos] tenha que cair até zero para tomar essa conduta [fim da obrigatoriedade] em relação à máscara.”
Números
Na terça-feira de carnaval, 1º de março, a média móvel de novos casos de covid-19 era de 1.472 por dia, menos que a metade do registrado 15 dias antes, segundo o painel de dados da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro. Hoje (18), a média móvel chegou a 1.320 casos por dia, mantendo-se, desde 8 de março, oscilação entre 1.248 e 1.380 novos registros diários.
Os números consideram a data de divulgação dos casos, isto é, o dia em que foram notificados ao Sistema Único de Saúde (SUS), número que é sujeito a atrasos e represamentos. Quando considerada a data de início dos sintomas, a média móvel ficou em 227 novos casos em 1º de março, contra 634 em 16 de fevereiro.
Até 14 de março, a média manteve-se acima de 200 casos por dia, e chegou a 149 em 17 de março. Esse número, no entanto, deve ser revisado para cima, porque um paciente que for diagnosticado na próxima segunda-feira, por exemplo, poderá informar que sentiu o primeiro sintoma hoje, o que faria com que seu caso fosse contabilizado retroativamente nesta data.
Quanto aos casos graves, o painel da Secretaria Municipal de Saúde informa que havia 32 pacientes internados em unidades de terapia intensiva em 1º de março, 10 a mais que os 22 contabilizados ontem (17).
Por fim, a média móvel de óbitos em sete dias estava em 27 novas mortes confirmadas por dia em 1º de março e também recuou desde então. Apesar disso, desde 9 de março, a média oscila entre 18 e 21 novos óbitos por dia e está em 20 na data de hoje (18).
Edição: Nádia Franco


SAÚDE
Dia Mundial do Rim: cuidado com a saúde renal deve começar na infância
Somente em 2024, o maior hospital pediátrico do país realizou mais de cinco mil sessões de hemodiálise em crianças e adolescentes.

A doença renal crônica afeta mais de dez milhões de brasileiros e 850 milhões de pessoas no mundo, além de causar 2,4 milhões de mortes todos os anos, segundo a Sociedade Brasileira de Nefrologia e a Organização Mundial da Saúde (OMS). No Brasil, cerca de 157 mil pessoas dependem de terapia renal substitutiva, conforme dados do Censo Brasileiro de Nefrologia de 2023. Só no Hospital Pequeno Príncipe, que é o maior e mais completo hospital pediátrico do país, foram mais de cinco mil sessões de hemodiálise em crianças e adolescentes em 2024.
Embora seja mais comum em adultos, a doença renal crônica também acomete o público infantojuvenil. Estima-se que sejam 20 casos a cada um milhão de crianças, de acordo com a Sociedade Brasileira de Pediatria. Por isso, no Dia Mundial do Rim, lembrado em 13 de março, o Hospital Pequeno Príncipe reforça a importância dos cuidados com a saúde renal desde a infância.
Além da produção de urina, os rins desempenham funções essenciais no organismo, como filtrar impurezas do sangue, controlar a pressão arterial e produzir hormônios. “Muitas pessoas pensam que os rins são responsáveis apenas pela urina, mas eles também são fundamentais para o bom funcionamento do metabolismo, crescimento e desenvolvimento do corpo. Por isso é tão importante que o cuidado com a saúde renal e os bons hábitos iniciem ainda na infância, pois eles interferem na saúde por toda a vida”, enfatiza a nefrologista pediátrica Lucimary Sylvestre, do Hospital Pequeno Príncipe.
A ingestão adequada de líquidos, a alimentação balanceada (evitando processados e excesso de sal) e a prática regular de atividades físicas são fundamentais para manter os rins saudáveis ao longo da vida. Também é importante controlar o peso e a glicose e aferir a pressão arterial regularmente a partir dos 3 anos de idade.
Quando suspeitar de problemas renais?
Existem diferentes doenças renais e que não se limitam apenas aos rins, atingindo todo o trato urinário. Elas se apresentam por malformações congênitas, condições hereditárias ou adquiridas. “Algumas doenças se manifestam com sinais como perda de urina, infecção urinária de repetição, presença de sangue ou proteína na urina, mas outras são silenciosas até que atinjam um estágio mais avançado de alteração na função renal”, explica a nefrologista pediátrica. Além desses sinais, também é importante estar atento para:
- alteração na pressão arterial;
- anemia que não melhora com reposição de ferro;
- alterações ou fraqueza óssea;
- cansaço excessivo;
- inchaço nos pés e no rosto;
- histórico familiar de doenças renais.
Ao observar qualquer sinal ou sintoma, é fundamental passar por avaliação médica. Se não tratada adequadamente, a doença renal crônica pode levar a complicações graves, como insuficiência renal e necessidade de realização de diálise ou até mesmo de transplante de rim. Os problemas renais também podem resultar em edemas, dificuldades respiratórias e problemas cardiovasculares, como hipertensão e aumento do risco de infarto.
Cor da urina como alerta para a saúde
A urina é um indicativo relevante da saúde dos rins, pois a coloração reflete o estado de hidratação e pode sinalizar problemas que exigem atenção médica. “É importante que seja avaliado o aspecto da urina como um todo e sempre buscar para que ela não seja muito escura, concentrada demais e que não tenha alterações do cheiro. Ao observar alguma dessas alterações, é importante buscar por atendimento médico para verificar se existe algum problema renal ou se é algo secundário, causado por desidratação, consumo de alimentos que podem mudar a coloração da urina ou pelo uso de alguma medicação”, realça Lucimary.
Saiba o que cada cor da urina pode indicar
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