Impacto das medidas do governo sobre alimentos é mais político que econômico

O anúncio do vice-presidente Geraldo Alckmin sobre a retirada de tarifas de importação de alimentos, com o objetivo de reduzir os preços ao consumidor brasileiro, já foi amplamente analisado. De modo geral, as avaliações convergem para dois principais pontos:
Em primeiro lugar, a efetividade da medida para baratear os produtos importados será limitada, ainda que possa surtir efeito em casos pontuais. No caso do açúcar e do café, por exemplo, o Brasil é o maior exportador mundial, e seus preços elevados decorrem da redução da oferta global devido a fatores climáticos, tornando difícil reduzir os valores internamente. No milho, pode haver alguma queda, mas essa redução já era esperada com a entrada da safra de inverno no mercado nos próximos 60 dias, o que, por sua vez, poderá impactar positivamente os custos das proteínas animais. No geral, o impacto da iniciativa é muito mais político do que econômico.
O segundo ponto recorrente nas análises é que, para combater de fato a alta dos preços, seria mais eficaz adotar um ajuste fiscal, reduzindo gastos públicos e controlando a inflação, o que traria reflexos positivos sobre os preços dos alimentos.
A necessidade de medidas estruturais
A solução de longo prazo, segundo especialistas, passa pela implementação de políticas estruturais para reduzir o custo da produção agropecuária e ampliar a oferta de alimentos. O Instituto Pensar Agro (Ipa), em parceria com a Frente Parlamentar da Agropecuária, já apresentou ao governo um conjunto de propostas nesse sentido. Entretanto, tais mudanças não produzem efeitos imediatos. Um primeiro passo será o Plano Safra, previsto para ser anunciado no final de maio, cujos impactos serão mais duradouros.
Entre as ações consideradas essenciais estão a ampliação do crédito rural com taxas de juros compatíveis com a atividade agrícola, a revisão da tributação sobre fertilizantes e defensivos agrícolas durante a transição da reforma tributária, além da possível redução temporária do PIS/Cofins sobre insumos essenciais e a revisão de impostos incidentes sobre embalagens. Também se destaca a necessidade de ampliar os recursos destinados à subvenção do seguro rural e eliminar barreiras regulatórias que dificultam a comercialização dos produtos agropecuários.
Outras questões estruturais fundamentais incluem a ampliação da capacidade de armazenagem, um Plano Safra sem contingenciamentos, investimentos na malha ferroviária, hidroviária e portuária, além da aplicação de medidas antidumping em casos de concorrência desleal. Por fim, é essencial intensificar os esforços em acordos comerciais com grandes países consumidores, garantindo melhores condições para o agronegócio brasileiro.
A solução já é conhecida pelos agentes do setor. Agora, basta implementá-la.
Roberto Rodrigues – Ex-ministro da Agricultura e coordenador do Centro de Agronegócios da FGV
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio


Agronegócio
Perspectivas para a Safra de Trigo 2025 em São Paulo: Desafios e Oportunidades no Setor

A primeira reunião de 2025 da Câmara Setorial do Trigo de São Paulo, promovida pelo Sindicato da Indústria do Trigo no Estado de São Paulo (Sindustrigo), aconteceu na quinta-feira, 13 de março, na Cooperativa Capão Bonito, localizada em Capão Bonito (SP). O evento, realizado de forma híbrida, abordou os desafios enfrentados pelo setor, as perspectivas para as safras de 2024/2025 e 2025/2026, além de analisar o mercado internacional do grão.
Para a safra de trigo de 2025, a previsão é de estabilidade na área cultivada, apesar de alguns indícios de redução em algumas cooperativas devido à migração de produtores para outras culturas, como sorgo e milho, motivada pelos custos de produção. No entanto, o trigo continua sendo uma opção atraente para os agricultores paulistas, impulsionado pela forte demanda das indústrias moageiras e pela rapidez na comercialização do grão. O vice-presidente da Câmara Setorial do Trigo, José Reinaldo Oliveira, afirmou: “Existem várias alternativas de cultivo, mas o trigo segue competitivo, pois a demanda permanece constante e o estoque disponível para os moinhos é baixo.”
Embora fatores climáticos ainda apresentem incertezas, Oliveira demonstrou otimismo quanto à produtividade da próxima safra. “Se as condições climáticas forem favoráveis, com chuvas regulares e temperaturas adequadas, podemos alcançar níveis de produção semelhantes aos de anos anteriores. O trigo continua sendo uma opção viável, oferecendo segurança econômica ao produtor”, afirmou.
O presidente da Câmara Setorial do Trigo, Nelson Montagna, que participou remotamente, reforçou a importância da expansão da produção estadual. “Há mercado e demanda para o trigo paulista. Precisamos focar na qualidade e no crescimento do setor, que enfrentará altos e baixos, mas a tendência é de progresso”, resumiu Montagna.
Impactos Globais: Guerra e Competitividade no Mercado Internacional
O analista de mercado de trigo da Safras & Mercado, Élcio Bento, abordou o cenário internacional, destacando como os fatores globais influenciam diretamente os preços no Brasil. “O Brasil está atrelado ao mercado argentino, que é influenciado pelas flutuações das bolsas norte-americanas”, comparou Bento. Ele ainda ressaltou que a guerra comercial entre China e Estados Unidos, que em 2018 reduziu drasticamente as exportações de trigo americano para o mercado chinês, pode criar novas oportunidades para o trigo argentino. “Caso os EUA enfrentem restrições, o trigo argentino pode ganhar espaço na China”, explicou Bento.
Outro ponto importante levantado foi o impacto da guerra na Ucrânia, que tem afetado o fluxo de trigo pelo Mar Negro. Bento prevê que, no curto prazo, a normalização desse fluxo poderia aliviar a pressão sobre os preços globais, embora o impacto para a safra de 2025 seja limitado. Ele ainda destacou a crescente competitividade do trigo argentino em relação ao produto americano, apontando que, para atender à demanda paulista, o estado precisará importar o grão.
Atualizações sobre o Cenário Paulista: Desafios e Inovações no Setor
Raquel Nakazato Pinotti, pesquisadora científica da APTA e assessora de pesquisa da Secretaria de Agricultura e Abastecimento de São Paulo (SAA), representou o coordenador das Câmaras Setoriais da SAA, José Carlos de Faria Cardoso Júnior. Ela enfatizou a necessidade de uma proposta tributária que considere as especificidades do trigo paulista, sem depender de mandatos políticos. “É essencial criar uma política tributária que apoie a produção e garanta que o produtor tenha as condições necessárias para avançar”, afirmou.
A reunião também abordou o panorama atual do plantio no estado, com as maiores cooperativas paulistas compartilhando suas projeções de produção de trigo. Além disso, foram apresentados estudos sobre novas cultivares e alternativas para mitigar problemas fitossanitários. A APTA trouxe um estudo sobre o uso do Tereoil, um composto de terebintina para desinfecção de fungos contaminantes. A Biotrigo Genética, por sua vez, apresentou um panorama sobre o desempenho das principais variedades cultivadas em São Paulo.
O setor segue com desafios a serem superados, mas as perspectivas para o trigo paulista permanecem positivas, com foco na qualidade e na sustentabilidade da produção.
Fonte: Portal do Agronegócio
Fonte: Portal do Agronegócio
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