Média móvel de mortes por covid-19 mais do que dobra no estado do Rio

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O estado do Rio de Janeiro chegou ontem (10) à maior média móvel de mortes por covid-19 desde 24 de junho, com mais de 160 vítimas por dia em um período de sete dias, segundo o painel MonitoraCovid-19, atualizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). O patamar representa um aumento de mais de 150% em 14 dias e preocupa especialistas ouvidos pela Agência Brasil, que temem um novo pico da pandemia. 

A alta da média de óbitos confirmados entre 27 de dezembro e 10 de janeiro ocorreu em nível nacional e reflete o desrespeito às medidas de prevenção à covid-19 em uma série de eventos, segundo o pesquisador Diego Xavier, integrante do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (ICICT) da Fiocruz. O crescimento médio dessa taxa no Brasil, no entanto, foi de cerca de 84%, enquanto no Rio de Janeiro chegou a 154%. Outros estados como Ceará (264%) e Amazonas (239%) tiveram aumentos ainda mais expressivos em termos percentuais.

“Esse aumento indica que a gente falhou. A gente teve alguns eventos bastante capilarizados que fizeram com que a doença se espalhasse de forma bastante acelerada, como a eleição, as compras de final de ano, Natal, Ano Novo, as férias. As pessoas se movimentaram muito nesse fim de ano, e, à medida que se movimentaram, o vírus se espalhou”, afirma o pesquisador, que lembra que o cenário havia sido previsto por uma nota técnica publicada pela Fiocruz no mês passado. “Se a gente for pensar no Natal, é uma festa muito capilarizada. Todo mundo comemora o Natal em família. E a maioria das famílias têm pessoas do grupo de risco, como os idosos”.

A média móvel de mortes é calculada por meio da soma dos óbitos confirmados nos últimos sete dias, dividida por sete. O indicador é considerado importante para reduzir as oscilações diárias de notificações e se aproximar de uma tendência da pandemia. Além disso, mortes são consideradas pelos especialistas menos sujeitas à subnotificação do que as infecções, já que são mais investigadas. As contaminações, por sua vez, muitas vezes não são testadas ou se dão de forma assintomática.

Restrições

Xavier recomenda que novas medidas restritivas sejam adotadas para conter a subida da curva de óbitos no estado, mas alerta que a fiscalização é essencial para que elas tenham efeito. “A gente entende que a população está cansada, mas a gente pede que se faça essa reflexão. Se a gente está cansado dentro de casa, imagine o profissional de saúde que está em uma UTI [Unidade de Terapia Intensiva]”, pede ele, que defende medidas compartilhadas entre municípios que façam parte da mesma região de saúde, como o Rio e a Baixada Fluminense.

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“O vírus não respeita limites administrativos nem respeita decretos. Os decretos são para as pessoas. E as pessoas só vão respeitar decretos se eles forem fiscalizados. A gente precisa, sim, de medidas mais restritivas e impopulares para conseguir diminuir o contágio.”

Apesar do aprendizado dos profissionais de saúde na assistência aos pacientes com covid-19 em quase um ano de pandemia, o pesquisador acredita que a capacidade de resposta a um novo pico também teria algumas desvantagens em comparação com abril e maio do ano passado. “Agora tem um agravante, porque a gente tinha uma mobilização da população, tinha recursos extras de UTI e equipamentos nos hospitais de campanha e equipes de saúde mais motivadas.”

Assim como Diego Xavier, a pesquisadora Chrystina Barros, do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), alerta que os dados ainda não refletem todo o resultado das aglomerações registradas no fim ano. “Nosso verão convida as pessoas à rua, e as pessoas começam a subestimar o poder do vírus, achando que, por estarem ao sol, em ambiente aberto, não vão pegar a doença. Na verdade, o que se tem é uma combinação de fatores. O ambiente realmente vai ser mais seguro quanto mais ventilado for,  mas, se o comportamento das pessoas não for adequado, joga-se tudo por água abaixo. E é o que tem acontecido no Rio”, afirma ela. “O Rio de Janeiro chegou em um tal ponto que pode ser, sim, que a gente passe por um tempo pior do que abril e maio.”

Para evitar o agravamento da pandemia, Chrystina Barros reforça a recomendação de mais medidas restritivas feita no início de dezembro pelo Grupo de Trabalho Multidisciplinar para o Enfrentamento da Covid-19, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), como a ampliação do número de leitos e da testagem, a suspensão de eventos e a limitação do horário de funcionamento dos estabelecimentos, com fiscalização rigorosa. “Em dezembro, lançamos uma nota indicando medidas mais restritivas. Quanto mais o tempo passa, mais restritivas elas precisam”, afirma a pesquisadora. “A gente tem um problema sério que é o transporte público, sem dúvida nenhuma. Mas não é porque o ônibus está lotado que a gente tem que ter tolerância com os bares lotados”.

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A elevação da média móvel de mortes, na avaliação dela, é o indicador mais grave entre outros dados, como a taxa de de transmissão, calculada pelo GT da UFRJ. O índice chegou a 1,27 para o estado do Rio de Janeiro com base em dados do final de dezembro, o que significa que cada 100 casos contagiavam mais 127. 

“É fato que o Rio de Janeiro vem consistentemente aumentando o número de óbitos, mas eles são apenas a ponta e o indicador mais grave”.   

Procurada pela Agência Brasil, a Prefeitura do Rio de Janeiro afirmou que pretende abrir 343 leitos e já disponibilizou 150 deles no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla e no Hospital Municipal Souza Aguiar. O poder municipal acrescentou que pretende aumentar a testagem, com ao menos 450 mil pessoas testadas inicialmente, em um processo que contará com o aplicativo Rio Covid-19 para a autonotificação e o agendamento do teste, caso seja indicado.

Na semana passada, o prefeito, Eduardo Paes, anunciou que pretende adotar restrições de forma localizada, de acordo com o risco de contágio de cada região administrativa da cidade. No boletim divulgado na semana passada, 18 regiões tinham situação de risco considerada alta, 15, moderada, e nenhuma foi considerada de risco muito alto.

Já o governo do estado não respondeu até o fechamento dessa reportagem. Segundo dados informados ontem pela Secretaria de Estado de Saúde, desde o dia 4 de dezembro foram realizados 24.419 testes de RT-PCR nas quatro unidades abertas pelo estado para agendamento por meio de um aplicativo para celular: o Hospital Estadual Alberto Torres e a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Colubandê, em São Gonçalo; o Hospital Regional do Médio Paraíba Dra. Zilda Arns, em Volta Redonda; e a UPA Campo Grande II, na zona oeste da capital.

A secretaria estadual também anunciou na semana passada a intenção de iniciar nesta semana a regulação única dos leitos de covid-19 no Sistema Único de Saúde. Outra previsão é a abertura do Hospital Modular de Nova Iguaçu, que deve ocorrer ainda neste mês, com 150 leitos. 

Edição: Bruna Saniele

Fonte: EBC Saúde

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SAÚDE

Anvisa discute nesta sexta regulamentação de cigarro eletrônico

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A diretoria colegiada da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) discute nesta sexta-feira (19) a regulamentação de cigarros eletrônicos no Brasil. A reunião estava prevista para a última quarta-feira (17), mas foi adiada por causa de problemas técnicos e operacionais identificados no canal oficial de transmissão da agência no YouTube.

Desde 2009, uma resolução da agência proíbe a fabricação, comercialização, importação e propaganda de dispositivos eletrônicos para fumar, popularmente conhecidos como vape. No ano passado, a diretoria colegiada aprovou, por unanimidade, relatório técnico que indicava a necessidade de se manter a proibição dos dispositivos e a adoção de medidas adicionais para coibir o comércio irregular, como ações de fiscalização e campanhas educativas.

Entenda

Os dispositivos eletrônicos para fumar são também conhecidos como cigarros eletrônicos, vape, pod, e-cigarette, e-ciggy, e-pipe, e-cigar e heat not burn (tabaco aquecido). Embora a comercialização no Brasil seja proibida, eles podem ser encontrados em diversos estabelecimentos comerciais e o consumo, sobretudo entre os jovens, tem aumentado.

Desde 2003, quando foram criados, os equipamentos passaram por diversas mudanças: produtos descartáveis ou de uso único; produtos recarregáveis com refis líquidos (que contém, em sua maioria, propilenoglicol, glicerina, nicotina e flavorizantes), em sistema aberto ou fechado; produtos de tabaco aquecido, que possuem dispositivo eletrônico onde se acopla um refil com tabaco; sistema pods, que contém sais de nicotina e outras substâncias diluídas em líquido e se assemelham a pen drives, entre outros.

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Consulta pública

Em dezembro, a Anvisa abriu consulta pública para que interessados pudessem participar do debate sobre a situação de dispositivos eletrônicos para fumar no Brasil, “com argumentos científicos e relatos relevantes relacionados ao tema”. A proposta de resolução colocada em discussão pela agência foi a de manutenção da proibição já existente. A consulta foi encerrada em fevereiro. Pouco antes do prazo ser encerrado, a Anvisa havia recebido 7.677 contribuições sobre o tema. 

Perigo à saúde

Com aroma e sabor agradáveis, os cigarros eletrônicos chegaram ao mercado com a promessa de serem menos agressivos que o cigarro comum. Entretanto, a Associação Médica Brasileira (AMB) alerta que a maioria absoluta dos vapes contém nicotina – droga psicoativa responsável pela dependência e que, ao ser inalada, chega ao cérebro entre sete e 19 segundos, liberando substâncias químicas que trazem sensação imediata de prazer.

De acordo com a entidade, nos cigarros eletrônicos, a nicotina se apresenta sob a forma líquida, com forte poder aditivo, ao lado de solventes (propilenoglicol ou glicerol), água, flavorizantes (cerca de 16 mil tipos), aromatizantes e substâncias destinadas a produzir um vapor mais suave, para facilitar a tragada e a absorção pelo trato respiratório. “Foram identificadas centenas de substâncias nos aerossóis, sendo muitas delas tóxicas e cancerígenas.”

Ainda segundo a AMB, o uso de cigarro eletrônico foi associado como fator independente para asma, além de aumentar a rigidez arterial em voluntários saudáveis, sendo um risco para infarto agudo do miocárdio, da mesma forma que os cigarros tradicionais. Em estudos de laboratório, o cigarro eletrônico se mostrou carcinógeno para pulmão e bexiga.

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Surto de doença pulmonar

Entre agosto de 2019 e fevereiro de 2020, foi registrado um surto de doença pulmonar em usuários de cigarros eletrônicos. Apenas nos Estados Unidos, foram notificados quase 3 mil casos e 68 mortes confirmadas. 

Congresso Nacional

Além do debate no âmbito da Anvisa, tramita no Senado o Projeto de Lei (PL) 5008/2023, de autoria da senadora Soraya Thronicke, que permite a produção, importação, exportação e o consumo dos cigarros eletrônicos no Brasil.

Jovens

De acordo com a Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2019, 22,6% dos estudantes de 13 a 17 anos no país disseram já ter experimentado cigarro pelo menos uma vez na vida, enquanto 26,9% já experimentaram narguilé e 16,8%, o cigarro eletrônico.

O estudo ouviu adolescentes de 13 a 17 anos que frequentavam do 7º ano do ensino fundamental até a 3ª série do ensino médio das redes pública e privada.

Controle do tabaco

O Brasil é reconhecido internacionalmente por sua política de controle do tabaco. Em julho de 2019, tornou-se o segundo país a implementar integralmente todas as medidas previstas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) no intuito de reduzir o consumo do tabaco e proteger as pessoas das doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs).

Fonte: EBC SAÚDE

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