Ministério, Conass e Conasems discutem vacinação contra covid-19
Representantes do Ministério da Saúde do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) e do Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde (Conasems) discutiram as estratégias de vacinação contra a covid-19 em seminário virtual hoje (9) promovido pelas entidades de representação das autoridades de saúde estaduais e municipais.
O presidente do Conass, Carlos Lula, defendeu a meta de universalização da imunização contra a convid-19 e destacou que as estratégias de vacinação não podem ser prejudicadas por disputas políticas mirando eleições.
“Nosso horizonte neste momento tem que ser imunizar a todos o quanto antes. A vida das pessoas deixa de lado as eleições. Graças a Deus as municipais passaram. Mas as próximas não podem estar no horizonte deste enfrentamento que a gente faz hoje. Agora o que importa é o cuidado com a população”, declarou.
O secretário de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, Arnaldo de Medeiros, disse que a equipe está atenta às vacinas em desenvolvimento e que aquelas com segurança e eficácia poderão ser incorporadas no Programa Nacional de Imunização.
Ele citou os dois acordos já firmados, com a Universidade de Oxford e o laboratório Astrazeneca e com o consórcio Covax Facility, que abarca empresas e governos de outros países para acesso a doses. O secretário acrescentou que o órgão tem dialogado com outras empresas e centros de pesquisas.
“Temos constituído memorandos de entendimento. Fizemos com Dimas [Covas, do Instituto Butantan, que desenvolve a Coronavac], com a Covaxx norte-americana e estamos terminando com a Pfizer. Assim que a primeira vacina estiver pronta e registrada na Anvisa, quer no normal ou de emergência, e que nós tivermos a disponibilidade de adquirirmos, o Ministério da Saúde irá sim adquirir essas vacinas”, declarou Medeiros.
A presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Nísia Trindade, destacou que o acordo da entidade com o consórcio Oxford/Astrazeneca prevê 30 milhões de doses até fevereiro, 70,4 milhões entre março e agosto e mais 100 milhões após este período, totalizando 210 milhões de doses, que poderão atender 100 milhões de brasileiros (a imunização demanda duas doses).
O grande desafio, assim como no caso de todas as vacinas, é o registro ou autorização, prerrogativa da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Trindade informou que na última sexta-feira (4) foram enviados à agência dados dos estudos clínicos que embasaram artigo publicado em importante periódico científico nesta semana sobre a vacina.
“Estamos numa fase avançada de submissão. Confiantes no cronograma da validação da vacina pela Anvisa, mas é claro que Anvisa tem seu processo autônomo”, disse a presidente da Fiocruz.
Coronavac
O diretor do Instituto Butantan, ligado ao governo de São Paulo, Dimas Covas, apresentou a situação da vacina Coronavac, desenvolvida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac e que começou a ser produzida no Brasil.
Segundo ele, o Instituto pretende fabricar até 40 milhões de doses até fevereiro e chegar a 100 milhões de doses até maio do ano que vem. Ele apontou que ainda não houve incorporação da vacina ao Programa Nacional de Imunização (PNI).
“Precisamos lutar para a incorporação da vacina no PNI e que nosso Ministério se convença disso”, pontuou.
Tradução: Jonas Valente – Repórter Agência Brasil – Edição: Aline Leal
SAÚDE
Neuromielite óptica: doença autoimune rara tem diagnóstico complexo
Em agosto de 2017, Samara de Jesus, na época com 24 anos, acordou sentindo um desconforto da cintura para baixo. “Uma sensação de cãibra ou de formigamento”. Como tinha passado por uma cirurgia para retirada do apêndice, achou que os sintomas passariam e seguiu para o trabalho. Em meio a uma crise de estresse, o quadro se agravou. “Caí dura no chão. Não conseguia me movimentar. Perdi o movimento das pernas por alguns segundos”.
O diagnóstico veio algum tempo depois: neuromielite óptica, doença rara que afeta o sistema nervoso central, especificamente o nervo óptico e a medula espinhal. O quadro é caracterizado por fraqueza muscular, fadiga e dor e pode deixar sequelas como cegueira e incapacidade de andar. “Falaram que poderia ser lúpus, esclerose múltipla e outras doenças autoimunes”, lembrou Samara. Em meio ao tratamento, a jovem descobriu ainda uma gestação.
“Tive que ficar afastada porque, depois de seis meses, tive um surto da doença, ainda gestante. Fiquei quase 20 dias internada, perdi o movimento das pernas, perdi o controle da bexiga e do intestino. Fiquei usando sonda enquanto estava gestante. Foi bem mais difícil para desinflamar a coluna e ter melhora no quadro”, contou. Ao todo, foram quatro surtos até iniciar a medicação correta. Hoje, Samara recuperou o movimento das pernas, mas a fraqueza muscular persiste.
“Fiquei com essa sequela. O movimento não retornou por completo por conta dessa fraqueza. Depois do último surto, tenho mais cuidado para andar muito. Minha perna cansa, começa a puxar. Ando com mais dificuldade, mas não ando com auxílio”. Atualmente, não há protocolo clínico ou diretrizes terapêuticas específicas para a neuromielite óptica no Sistema Único de Saúde (SUS), o que pode dificultar não apenas o diagnóstico e o acesso ao tratamento.
No Dia de Conscientização sobre a Neuromielite Óptica, lembrado nesta quarta-feira (27), o prédio do Congresso Nacional, em Brasília, recebe iluminação verde, que será mantida até o próximo domingo (31). O objetivo é chamar a atenção para a conscientização sobre a doença.
No Brasil, até o momento, a única alternativa terapêutica aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para a neuromielite óptica é o inebilizumabe, um anticorpo monoclonal aprovado para a redução de risco de surtos e diminuição da incapacidade em adultos diagnosticados. Para que ocorra a oferta desse medicamento no SUS, é necessária a demanda para análise pela Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec).
Sintomas
Em entrevista à Agência Brasil, o neurologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Herval Ribeiro Soares Neto, explicou que a doença, ainda pouco conhecida, atinge principalmente mulheres afrodescendentes e asiáticas entre os 30 e 40 anos.
“Nessa doença, o sistema imunológico do corpo ataca erroneamente e danifica as células saudáveis do sistema nervoso central, o que pode levar à inflamação e à desmielinização, um processo onde a camada protetora dos nervos, chamada mielina, é danificada.”
Especialista nas chamadas doenças desmielinizantes, ele lembra que é importante procurar ajuda médica imediatamente caso o paciente experimente sintomas como perda de visão ou fraqueza súbita, já que o diagnóstico precoce e o tratamento em tempo oportuno são cruciais para evitar danos permanentes.
“O diagnóstico de neuromielite óptica pode ser desafiador, principalmente porque os sintomas são semelhantes aos de outras doenças autoimunes e desordens do sistema nervoso central, como a esclerose múltipla. O diagnóstico geralmente envolve uma combinação de exames de sangue para detectar anticorpos específicos, como anti-aquaporina 4, ressonância magnética para visualizar lesões no nervo óptico e na medula espinhal e, às vezes, uma punção lombar.”
“Não há cura para a neuromielite óptica, mas hoje existem cuidados e tratamentos que podem ajudar a gerenciar os sintomas e reduzir a frequência dos surtos. O tratamento multidisciplinar, como a fisioterapia, pode ajudar a melhorar a função e a mobilidade.”
O manejo da neuromielite óptica, segundo o médico, exige uma abordagem multidisciplinar e acompanhamento contínuo por uma equipe de saúde especializada, incluindo neurologistas, oftalmologistas e fisioterapeutas, para adaptar os tratamentos às necessidades individuais do paciente e monitorar a progressão da doença.
Tratamento
De acordo com o Ministério da Saúde, a neuromielite óptica chegou a ser considerada, por muito tempo, como uma variável da esclerose múltipla. Os principais sinais e sintomas incluem inflamação do nervo óptico, déficits motores e sensoriais, episódio de soluços inexplicáveis ou náuseas e vômitos. Até o momento, não há um esquema de tratamento estabelecido para a doença nem mesmo em protocolos internacionais.
“Embora vários medicamentos sejam considerados eficazes, não há algoritmos de tratamento ou esquemas terapêuticos amplamente aceitos e suportados por altos níveis de evidência. Diferentes alternativas terapêuticas foram recentemente aprovadas para o tratamento no mundo, incluindo o rituximabe, o tocilizumabe, o eculizumabe e o inebilizumabe”, destacou a Conitec.
Fonte: EBC SAÚDE
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