Opinião
Pelo direito de dizer “não consigo” ou “não quero”
que lhe permita ser feliz e realizado. E, para isso, tenha o direito e a coragem de dizer não… Como a sinceridade é um dos valores mais importantes para mim, não consigo mentir. E, se alguém pede para que eu faça algo, dificilmente declino. Acabo aceitando todas as demandas que vão surgindo e isso me deixa angustiado. O prazer instantâneo por agradar e não discutir acaba gerando pendências que muito me custam, como a quebra da minha rotina para que as coisas que ascendi sejam feitas.

Você já se deparou com mais coisas do que é capaz de gerenciar? Já experimentou aquela sensação de angústia e ansiedade em saber que algo pode estar acontecendo com aquilo que não está olhando? Ou sofreu com a falta de concentração ou calma para executar uma tarefa importante, porque você não está seguro de que as outras coisas estão bem cuidadas?
Equilibrar todos os pratos da vida pode ser um desafio. Entre o trabalho, a família, os relacionamentos, as obrigações pessoais e a vida social, parece que nunca há tempo suficiente para tudo.
Às vezes sonhamos em voltar no tempo, se deslocando para a infância. Queria voltar para a rua 3, lá em Rio Claro. Não me refiro a retornar geograficamente, como faço todo mês, mas voltar da escola. Lembro-me que, aos 15 anos, voltava à pé da escola. Saía do Koelle às 12h20 e me dirigia para a casa dos meus pais, para o almoço. Era uma delícia caminhar nessa hora, porque em cada esquina eu sentia o cheiro do menu das casas. A cada aroma diferente, eu ficava imaginando o que minha mãe estava cozinhando. E, ao cruzar a avenida 20, sentia o frescor do almoço e começava minha tarefa mental de adivinhar o que seria servido.
Lembro-me bem do cheiro da farta lasanha à bolonhesa. Nesses dias, era garantia de que meus avós maternos estariam à mesa. Depois da esquina, 60 metros e pronto. Estava em frente ao interfone, avisando que estava lá. Abria-se o portão e eu tinha a plena sensação de segurança. Nada iria me deixar nervoso, ansioso ou tenso. A estrutura que minha família me proporcionava permita que eu fosse feliz de maneira plena. É claro, havia perrengues e problemas da idade, mas quando eu os esquecia, era feliz. Não havia muitos pratos para equilibrar.
Nos idos de 1999, não havia a profusão dos smartphones, ainda. Os celulares eram apenas para ligações aos pais e amigos. Já as mensagens, eram apenas torpedos (sms) para nossos crushes. A conexão online era baseada em pessoas, não em algoritmos. O tempo, apesar de acelerado, era variável aos finais de semana. A angústia e as aflições eram coisas para o longo prazo e a sensação de estabilidade, ainda que curta, existia.
Como viver sem a máquina do tempo?
É importante encontrar um equilíbrio para manter a saúde mental e emocional. Aqui estão algumas dicas para ajudá-lo a equilibrar todos os pratos da vida:
Priorize: determine o que é realmente importante para você e concentre seus esforços nessas áreas;
Delegue tarefas: se você está sobrecarregado, considere delegar tarefas a outras pessoas, seja em casa ou no trabalho;
Desenvolva uma rotina: ter uma rotina ajuda a manter a organização e a produtividade, permitindo que você atenda às suas responsabilidades de maneira eficiente;
Encontre tempo para si mesmo: é importante dedicar tempo para sua saúde mental e física, seja por meio de atividades de lazer ou de práticas de meditação, por exemplo;
Mantenha um diário: escrever suas preocupações e tarefas pendentes pode ajudá-lo a mantê-las organizadas e diminuir a sensação de sobrecarga.
Lembre-se de que equilibrar todos os pratos da vida é uma jornada constante e não há soluções definitivas. Encontre o que funciona para você e continue trabalhando nisso, e tenha em mente que é normal ter altos e baixos. O importante é encontrar um equilíbrio saudável, que lhe permita ser feliz e realizado. E, para isso, tenha o direito e a coragem de dizer não… Como a sinceridade é um dos valores mais importantes para mim, não consigo mentir. E, se alguém pede para que eu faça algo, dificilmente declino. Acabo aceitando todas as demandas que vão surgindo e isso me deixa angustiado. O prazer instantâneo por agradar e não discutir acaba gerando pendências que muito me custam, como a quebra da minha rotina para que as coisas que ascendi sejam feitas.
Como não podemos voltar ao ambiente seguro e sem cobranças excessivas, precisamos lutar pelo direito de falar a verdade e defender nosso planejamento. Para aceitar alguma solicitação ou mudança, pense bem. Só o faça se isso não ferir o seu planejamento de forma dolorosa e não for contra seus valores. Nesses casos, pode parecer perigoso, mas use o direito de dizer não quero ou não consigo. É libertador!
Virgilio Marques dos Santos é mestre e graduado em Engenharia Mecânica.
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ARTIGO
O gosto amargo do vinho
Em 2016, com o golpe que culminou na queda da presidente Dilma Roussef e a ascensão de Michel Temer ao cargo, ganhou corpo a campanha contra a “velha senhora” CLT. Foi então proposta a denominada Reforma Trabalhista, anunciada como a solução de todos os nossos males apesar de, no entanto, não haver criado os 5 milhões de empregos prometidos, fracassando ainda em promover a anunciada formalização das relações de trabalho.

Em minha juventude, não tínhamos o hábito de beber vinho. A importação de boas garrafas era inviável para nossos parcos recursos, e os vinhos nacionais eram sofríveis. A curiosidade e o destemor próprios da adolescência me levaram a experimentar o que seria minha mais traumática lembrança de excesso na ingestão alcoólica: um porre do famoso Sangue de Boi. O impacto foi tão grande que, por anos, o simples cheiro de vinho me causava náuseas e eu cantava, sempre que me ofereciam, a canção de Chico Buarque que pedia para que o cálice de vinho fosse afastado de mim.
Nas últimas décadas, o direito do trabalho foi demonizado como sinônimo de atraso e de obstáculo para o desenvolvimento do país, o que se potencializou nos últimos seis anos como ressonância ao discurso único de triunfo do neoliberalismo sobre qualquer outra ideologia econômica que não tenha o individualismo e o império do deus mercado como o centro de poder.
Em 2016, com o golpe que culminou na queda da presidente Dilma Roussef e a ascensão de Michel Temer ao cargo, ganhou corpo a campanha contra a “velha senhora” CLT. Foi então proposta a denominada Reforma Trabalhista, anunciada como a solução de todos os nossos males apesar de, no entanto, não haver criado os 5 milhões de empregos prometidos, fracassando ainda em promover a anunciada formalização das relações de trabalho.
Entretanto, a reforma trabalhista ou a “modernização trabalhista” como gostavam de chamá-la seus defensores, trouxe benefícios apenas aos empregadores — aos maus empregadores — que viram diminuir o número de ações trabalhistas sem que diminuíssem as fraudes e minguar a força dos sindicatos com quedas nas arrecadações de cerca de 90%. O último governo ainda chegou a defender e propor o fim de qualquer regulação trabalhista. A balança que sempre pendeu para o capital abandonou de vez o trabalho. As fake news apresentavam mentiras como certezas como a que dizia estarem, no Brasil, 98% das ações trabalhistas de todo o mundo ou que inexiste legislação trabalhista nos Estados Unidos.
Uma das mais graves heranças dessa sórdida campanha contra a CLT foi, sem dúvida, a liberalização da terceirização, que prometia mais empregos e melhores condições de trabalho e entregou exatamente o oposto. Alertamos, ainda em 2017, que 94% dos trabalhadores submetidos a condições análogas à escravidão resgatados eram terceirizados (cerca de 60 mil desde que se passaram a registrar os resgates, em 1995, segundo os dados expostos pelo Observatório Smartlab do Ministério Púbico do Trabalho e OIT).
Ainda assim, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) optou por julgar constitucional a irrestrita terceirização, vigorosamente defendida por empresários, parlamentares e até por alguns magistrados do trabalho, supervalorizando o princípio da livre iniciativa empresarial em detrimento dos princípios do valor social do trabalho, da dignidade do trabalhador e da justiça social. Com isso, consolidou-se o entendimento de que é possível existir empresa sem empregados, apenas com terceirizados.
Há poucos dias, fomos surpreendidos com a notícia de que 207 trabalhadores —195 aliciados na Bahia — foram resgatados na lindíssima região serrana do Rio Grande do Sul, onde, além das abjetas condições de trabalho análogas à escravidão, eram submetidos a tortura mediante choques elétricos, spray de pimenta e espancamento. Ato contínuo, as três vinícolas envolvidas se apressaram em declarar que tais trabalhadores eram empregados de empresa terceirizada e que não tinham qualquer controle sobre eles.
O argumento é exatamente o mesmo do utilizado por fazendeiros flagrados no interior do Maranhão, na mesma data, quando foram resgatados 17 trabalhadores e por quase a totalidade dos empresários flagrados submetendo trabalhadores a condições de trabalho análogas à escravidão. Na verdade, a terceirização somente se viabiliza pela diminuição dos custos e da responsabilidade para a empresa que toma os serviços.
Ao ler a notícia dos trabalhadores encontrados sob condições equiparáveis à escravidão na produção de enormes e lucrativas vinícolas nacionais, me veio ao estômago uma sensação de asco, agora causada pela revolta diante do ultraje imposto a esses trabalhadores brutalmente explorados e vilipendiados. Me pergunto, enfim, como se sentem os que defenderam o desmonte da legislação trabalhista e a liberalização da terceirização? Será que, como aquele jovem Ronaldo, o vinho lhes traz agora um sabor amargo?
Ronaldo Curado Fleury é advogado, subprocurador-geral do Trabalho aposentado, foi procurador-geral do Ministério Público do Trabalho.
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