Vitória de Donald Trump traz cenário de incertezas para o agronegócio brasileiro
A vitória de Donald Trump nas eleições norte-americanas trouxe um cenário de volatilidade e incertezas para o agronegócio brasileiro. A primeira reação do mercado foi visível na bolsa de Chicago, onde os preços da soja oscilaram ao longo do dia. A cotação do dólar, impulsionada pela eleição do candidato republicano, também influenciou os preços das commodities, refletindo o impacto da nova gestão nos Estados Unidos para os produtores e exportadores brasileiros.
Segundo analistas do setor, se por um lado há oportunidades comerciais, especialmente no fornecimento de soja para a China, por outro, existem riscos associados a possíveis barreiras comerciais e à alta dos custos. O setor aguarda com cautela os próximos movimentos do novo governo americano e suas implicações para o mercado internacional.
Historicamente, o governo Trump adotou políticas protecionistas e se envolveu em conflitos comerciais, especialmente com a China, principal importador de soja dos Estados Unidos e do Brasil. Caso as tensões sejam retomadas, como em 2018, o Brasil pode ser beneficiado com o aumento da demanda chinesa pela soja brasileira, enquanto a produção norte-americana poderia enfrentar barreiras adicionais. Entretanto, analistas alertam que a China já antecipou suas compras de soja, acumulando estoques que podem frear a procura no curto prazo, limitando o potencial de crescimento dos preços.
A valorização do dólar, decorrente do cenário eleitoral, impacta duplamente o agronegócio brasileiro. De um lado, beneficia exportadores ao aumentar a competitividade dos produtos brasileiros no mercado internacional. Por outro lado, pressiona o custo dos insumos importados, essenciais para a produção agrícola. Essa dinâmica impõe um desafio adicional aos produtores, que enfrentam altos custos em um cenário de aumento dos prêmios nos contratos de exportação.
Para o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, o Brasil e os demais países da América do Sul devem manter boas relações comerciais com os Estados Unidos, mas sem ficar “refém” da postura mais protecionista adotada pelo presidente eleito. Se o Trump cumprir com o que prometeu de aumentar tarifas [de importação], isso vai ser um problema para todo o mundo, porque vai aumentar a inflação nos Estados Unidos, vai aumentar a taxa de juros nos Estados Unidos por causa do déficit público, e isso vai ter repercussão sobre a política econômica no Brasil. O dólar vai subir, as taxas de juros [no Brasil] vão ter que subir, vai ter impacto na inflação.
Além da soja, o milho e o trigo também foram afetados. Os preços do milho já mostraram recuperação durante o pregão em Chicago, refletindo uma demanda global ainda aquecida e a oferta restrita da Argentina e do Brasil. Já o mercado de trigo pode se beneficiar das restrições impostas pela Rússia, o que deve abrir espaço para os produtores norte-americanos e impulsionar os preços em Chicago. Esse movimento, no entanto, pode ter repercussões indiretas para os exportadores brasileiros, que competem pelo espaço no mercado internacional.
As relações entre Trump e o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, trazem um componente de incerteza. Alguns setores temem que uma postura menos amigável do governo norte-americano possa levar a restrições comerciais sobre produtos brasileiros, como carne bovina e açúcar. Isso significaria um desafio adicional para o Brasil, que busca expandir suas exportações para os Estados Unidos e outras regiões.
Um ponto preocupante no momento é o câmbio. Apesar de favorecer os exportadores, boa parte da produção nacional é prejudicada com o dólar mais caro, pois pressiona os custos com insumos.
O retorno de Trump também levanta preocupações sobre o papel dos Estados Unidos em organismos multilaterais, como a Organização Mundial do Comércio (OMC). Durante sua presidência anterior, Trump enfraqueceu a OMC ao bloquear a nomeação de membros do órgão de apelação, situação que pode se repetir e prejudicar países exportadores como o Brasil. O governo brasileiro espera reativar o colegiado para contestar políticas, como a lei antidesmatamento da União Europeia (EUDR). Se os Estados Unidos mantiverem essa postura, as negociações internacionais de comércio podem enfrentar ainda mais obstáculos.
Uma questão em aberto é como Trump abordará o tema climático. Em sua primeira passagem pela Casa Branca, o republicano retirou os EUA do Acordo de Paris. Caso mantenha essa linha, a política ambiental dos EUA poderá se alinhar menos com as preocupações da União Europeia, beneficiando, de certa forma, o Brasil ao diminuir pressões externas sobre questões ambientais. Isso inclui a Lei Antidesmatamento, que afeta diretamente o agronegócio brasileiro e é alvo de resistência por parte do governo e do setor.
Fonte: Pensar Agro
Agronegócio
Produção brasileira cresce e reforça posição de destaque no mercado global
A suinocultura brasileira vive um período de expansão e consolidação, com números que mostram sua relevância tanto no mercado interno quanto externo. Entre 2015 e 2023, a produção de carne suína no Brasil cresceu expressivos 54,4%, passando de 3,4 milhões para 5,2 milhões de toneladas. Esse avanço posiciona o país como o quarto maior produtor mundial, atrás apenas da China, União Europeia e Estados Unidos.
O consumo de carne suína também tem ganhado espaço à mesa dos brasileiros. Em 2015, o consumo per capita era de 15,1 kg; em 2023, esse número chegou a 20,6 kg. O reconhecimento pela qualidade do produto tem ajudado a impulsionar esse crescimento, conforme destaca Marcelo Lopes, presidente da Associação Brasileira de Criadores de Suínos (ABCS): “O mercado interno está aprendendo a reconhecer a qualidade da carne suína, enquanto no mercado externo batemos recordes de exportação.”
Nas exportações, o avanço foi ainda mais notável: um salto de 130,3% no mesmo período. Em 2023, o Brasil exportou 1,08 milhão de toneladas de carne suína, consolidando-se como um fornecedor de peso no mercado global.
Um dos pilares do sucesso brasileiro no setor é o modelo integrado de produção, que abrange cerca de 45% das granjas do país. Essa integração entre produtores e indústrias começou no Sul e se expandiu para regiões com maior disponibilidade de grãos, como o Centro-Oeste. Essa organização eficiente é complementada pela excelência sanitária brasileira, fator essencial para conquistar mercados exigentes.
O Brasil mantém um rígido controle de rastreabilidade, passando por quarentenas rigorosas e adotando práticas que garantem o bem-estar animal e a sustentabilidade. Essa estrutura tem sido um diferencial competitivo frente a concorrentes globais.
O crescimento da suinocultura no Brasil é puxado por estados com forte tradição agropecuária. No terceiro trimestre de 2024, o abate de suínos no país aumentou 2,1%, totalizando 14,95 milhões de cabeças. Entre os destaques regionais estão:
- Rio Grande do Sul: aumento de 197,99 mil cabeças.
- Minas Gerais: incremento de 79,47 mil cabeças.
- Mato Grosso do Sul: crescimento de 36,64 mil cabeças.
- Paraná: alta de 27,89 mil cabeças.
Com a expansão da produção, o Brasil se aproxima do terceiro lugar no ranking global de produção de carne suína. No campo das exportações, a expectativa é alcançar mercados ainda mais exigentes, como Japão e Coreia do Sul, e consolidar a presença nos atuais parceiros, como China e Rússia.
A Associação Brasileira de Criadores de Suínos aposta também em campanhas voltadas ao consumidor interno, buscando fortalecer a imagem da carne suína como uma opção saborosa, saudável e versátil. A combinação de inovação, qualidade e foco no consumidor promete manter a suinocultura brasileira em trajetória ascendente.
(com informações da ABCS)
Fonte: Pensar Agro
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