Opinião

Baruque e a Septuaginta

Baruc não foi encontrado entre os Manuscritos do Mar Morto, mas é atestado por testemunhos gregos e latinos. O livro aparece em quatro manuscritos unciais (Alexandrinus, Vaticanus, Marchalianus e Venetus), bem como em muitos minúsculos. Acredita-se na existência de um Vorlage (original) hebraico para a primeira parte do livro (Br 1,1-3,8, escrita em prosa), mas não há consenso para a segunda parte (Br 3,9-5,9, em poesia).

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Mario Eugenio Saturno é Professor Assistente da Escola de Teologia para Leigos São José de Anchieta da Diocese de Caraguatatuba, Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

Em 14 de fevereiro de 2024, adquiri uma Septuaginta (LXX) em grego para auxiliar minhas aulas no curso na Escola de Teologia para Leigos em São Sebastião. O que eu não esperava era saber que o Antigo Testamento de nossas Bíblias está muito diferente do original que os primeiros cristãos usavam. Isso acaba com a argumentação “Sola Scriptura”.

Na verdade, se pensar bem, as Línguas estão vivas. Por conseguinte, a Bíblia muda o tempo todo, só que não percebemos. Já escrevi seis artigos sobre o assunto e, creio, encerro essa fase com este.

Matthieu Richelle, no livro “The Oxford Handbook of the Septuagint” aponta que na Septuaginta, o livro de Jeremias é inseparável do livro de Baruc. Os Padres Gregos até Orígenes e os Padres Latinos, exceto Jerônimo, citam este livro como sendo de Jeremias. Na antiga Vetus Latina, Baruc segue diretamente Jeremias 52 sem título.

O início de Baruc (Br 1,1-14) retoma o tema dos últimos versos de Jeremias (Jer 52,31-34 MT), ou seja, a inexplicável reabilitação de Joaquim na corte real da Babilônia, fornecendo a razão para isso, este rei se arrependeu ao ouvir as palavras lidas por Baruc.

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Várias composições se desenvolveram em torno da figura de Baruc, como 1, 2 e 3 Baruc. A primeira dessas obras, também simplesmente chamada “Baruc”, é a única incluída nos manuscritos da LXX. É provável que o livro desempenhasse um papel no calendário litúrgico. Supõe-se que tenha sido escrito no dia da comemoração da queda de Jerusalém (Br 1,2) e contém uma oração coletiva destinada a ser lida no Templo “em um dia de festa”. Henry Thackeray intuiu que os judeus o liam no nono dia de Ab, junto com Lamentações.

Baruc divide-se em quatro partes, (A) uma introdução histórica (Br 1,1-14); (B) uma oração coletiva de confissão e lamento para ser lida no Templo (Br 1,15-3,8); (C) uma meditação sobre a Sabedoria e uma exortação para buscá-la (3,9-4,4) uma composição poética reminiscente de Jó 28 e Eclesiástico 24, claramente se destaca, embora haja um vínculo com o resto do livro, essa parte começa afirmando que Israel foi exilado porque abandonou a fonte da sabedoria (Br 3,10-12); (D) uma exortação profética com palavras de consolação aos exilados e uma promessa de retorno (4,5-5,9), provavelmente é do segundo século a.C. porque seu conteúdo ajusta- se ao período macabeu.

Baruc não foi encontrado entre os Manuscritos do Mar Morto, mas é atestado por testemunhos gregos e latinos. O livro aparece em quatro manuscritos unciais (Alexandrinus, Vaticanus, Marchalianus e Venetus), bem como em muitos minúsculos. Acredita-se na existência de um Vorlage (original) hebraico para a primeira parte do livro (Br 1,1-3,8, escrita em prosa), mas não há consenso para a segunda parte (Br 3,9-5,9, em poesia).

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Devido ao seu compromisso com a Hebraica Veritas, Jerônimo não traduziu Baruc. A ausência de Baruc passou despercebida até os anos 800 d.C.. Nos séculos seguintes, o livro foi reintegrado à Vulgata utilizando manuscritos da Vetus Latina. As versões latinas antigas são preciosos testemunhos indiretos da LXX.

Mario Eugenio Saturno (fb.com/Mario.Eugenio.Saturno) é Professor Assistente da Escola de Teologia para Leigos São José de Anchieta da Diocese de Caraguatatuba, Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

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ARTIGO

Índice de viabilidade de produção de culturas anuais pode contribuir para a sustentabilidade da agricultura

Identificar, em grandes regiões como a do Cerrado, áreas mais aptas a se produzir, tanto em condições de sequeiro como sob irrigação, é estratégico para o estabelecimento de políticas públicas que visem ao desenvolvimento sustentável e à melhoria da qualidade de vida das pessoas. A identificação de regiões mais aptas a se produzir é parte crucial de um planejamento estratégico, cujo desenvolvimento tem sido dificultado pela falta de entendimento da complexa interação existente entre clima, solo e planta. A dificuldade no planejamento é aumentada pela falta de dados hidroclimáticos nas escalas de espaço e de tempo adequadas. Tal fato tem dificultado o planejamento, contribuído para aumentar os conflitos pelo uso da água e comprometido o desenvolvimento do Cerrado.

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Lavoura de soja em ponto de colheita no Cerrado. Foto: Fabiano Bastos

Num mundo onde os desafios associados à produção sustentável de alimentos se intensificam, o crescimento da agricultura deve ser bem plenejado e ordenado para reduzir tanto os impactos do clima sobre a produção de alimentos como a demanda de água azul – aquela encontrada em cursos d’água, lagos e reservatórios. Nesse contexto, é fundamental dispor de metodologias e ferramentas que possam apoiar políticas públicas que visem ao desenvolvimento regional sustentável.

A produção mundial de alimentos precisará aumentar em aproximadamente 60% para atender a demanda projetada para o ano de 20501. O desafio é aumentar a produção de forma sustentável, compatibilizando aspectos ambientais, econômicos e sociais2.

O clima é o fator que tem mais influência na produção agrícola. A incerteza, especialmente quanto às chuvas, principal fonte de água para as culturas, compromete a estabilidade da produção de alimento, sobretudo na agricultura de sequeiro, e coloca em risco a segurança hídrica de bacias hidrográficas3.

No Brasil, principal produtor e exportador de diversas commodities agrícolas, tem-se observado a redução da produção agrícola em vários locais em virtude da redução e/ou da má distribuição das chuvas, principalmente na região do Cerrado4, que responde por cerca de 45% da área agrícola nacional5.

Estima-se, por meio de estudos relacionados às projeções climáticas no Cerrado, aumentos na temperatura, prolongamento da estação seca e redução na disponibilidade hídrica, o que pode comprometer a agricultura na região, especialmente a agricultura de sequeiro6. Essas projeções têm implicações ainda mais significativas para áreas já sujeitas a conflitos relacionados ao uso e alocação de água7.

É imprescindível desenvolver resiliência diante das mudanças climáticas e mitigar os conflitos pelo uso da água. Entre as alternativas destacadas, inclui-se a intensificação de práticas agrícolas em áreas já cultivadas, como pastagens degradadas, bem como aprimorar a gestão e o planejamento dos recursos hídricos locais com base em informações hidrológicas básicas e confiáveis.

No contexto da intensificação, a irrigação se apresenta como uma das estratégias com maior potencial para aumentar a produção em uma mesma área, reduzindo os efeitos negativos do clima. Por outro lado, o crescimento da irrigação, maior usuária de recursos hídricos no Brasil, tem que ser bem coordenado para não intensificar os conflitos pelo uso da água, principalmente naquelas regiões que já se encontram com baixa disponibilidade hídrica. O principal desafio nessas regiões está em conciliar a expansão da irrigação, visando à estabilidade na produção de alimentos, com a disponibilidade de recursos hídricos8. No Cerrado, é cada vez mais importante produzir mais com uma menor quantidade de água9.

O desenvolvimento de várias regiões está pautado na sua capacidade de desenvolver a agricultura de forma sustentável10. A previsão da Agência Nacional de Águas é de que a área irrigada no Brasil aumentará em 3,64 milhões de hectares até o ano de 203011. Cerca de 64% da área irrigada no Brasil está na região do Cerrado12.

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Essa região, onde a agricultura é a base da economia, já apresenta várias áreas em situação de estresse hídrico e com diferenças sociais devido às diferentes oportunidades de acesso à água. O crescimento da agricultura no Cerrado deve ser muito bem planejado, priorizando culturas mais aptas, datas de plantios mais adequadas, rotações de cultura mais sustentáveis e evitando regiões com baixa disponibilidade hídrica. O crescimento desorganizado compromete a segurança hídrica e alimentar, piorando a qualidade de vida das pessoas.

Identificar, em grandes regiões como a do Cerrado, áreas mais aptas a se produzir, tanto em condições de sequeiro como sob irrigação, é estratégico para o estabelecimento de políticas públicas que visem ao desenvolvimento sustentável e à melhoria da qualidade de vida das pessoas. A identificação de regiões mais aptas a se produzir é parte crucial de um planejamento estratégico, cujo desenvolvimento tem sido dificultado pela falta de entendimento da complexa interação existente entre clima, solo e planta. A dificuldade no planejamento é aumentada pela falta de dados hidroclimáticos nas escalas de espaço e de tempo adequadas. Tal fato tem dificultado o planejamento, contribuído para aumentar os conflitos pelo uso da água e comprometido o desenvolvimento do Cerrado.

Por outro lado, essa situação oportuniza o uso de ferramentas de planejamento, como os indicadores de sustentabilidade. Em relação à disponibilidade hídrica, vários indicadores de sustentabilidade foram desenvolvidos13. Porém, eles não possibilitam, pelo menos de forma direta, uma avaliação comparativa da aptidão produtiva de áreas dentro de uma região, reduzindo a oportunidade de desenvolvimento de áreas com menor aptidão. Uma ferramenta adequada deve, portanto, ser capaz de indicar as áreas mais adequadas ao desenvolvimento da agricultura irrigada e de sequeiro, considerando as melhores épocas de semeadurea, variedades e rotações de culturas.

Uma das iniciativas nesse sentido foi o estudo desenvolvido pela Embrapa Cerrados em parceria com a Universidade Federal de Viçosa (UFV). Nesse estudo, foi desenvolvido o Índice de Viabilidade para Produção de Culturas Anuais (IVP) para avaliar as áreas mais adequadas em uma determinada região para a produção de culturas anuais de sequeiro e irrigadas. O IVP foi desenvolvido para subsidiar políticas públicas que contribuem para o crescimento sustentável da agricultura de sequeiro e irrigada. O IVP indica áreas, dentro de regiões, que sejam mais viáveis à produção de culturas agrícolas anuais, com foco na demanda e na oferta hídrica. O seu valor varia de zero a um. Quanto mais próximo da unidade, maior a aptidão da área para se produzir uma determinada cultura ou rotação de culturas. O IVP pode ser utilizado para comparar aptidões entre áreas de uma região, considerando diferentes datas de plantio e rotações de cultura.

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O IVP é formado por dois indicadores para representar a agricultura irrigada (ISDIA) e de sequeiro (ISDRA), que por sua vez são compostos por cinco indicadores cada. No estudo da Embrapa e da UFV, o IVP foi aplicado no Bioma Cerrado para a cultura da soja, considerando três épocas de semeadura – 15 de setembro, 15 de outubro e 15 de novembro. Para obter o IVP do Bioma Cerrado, foi desenvolvido um modelo computacional em linguagem de programação Python. Esse modelo simulou mais de 20 mil regiões (pixels), realizando mais de 320 mil simulações. Além de avaliar a aptidão agrícola das áreas de Cerrado em relação a cada data de plantio, foi avaliada a melhor data de plantio em cada área.

Os resultados indicaram que a viabilidade da produção de soja é mais favorável nas regiões Noroeste, Norte e Nordeste do Cerrado, quando o plantio é feito nos meses de outubro e novembro, em comparação com setembro. Embora haja pouca variação entre outubro e novembro nessas regiões, o mês de outubro se destaca com valores mais altos. Já na região Central do bioma, a diferença entre o plantio em setembro e outubro não é significativa. No entanto, quando se compara o plantio em setembro e em novembro, torna-se evidente que o mês de setembro é a escolha mais vantajosa. E nas regiões Leste, Sudeste, Sudoeste e Oeste, o plantio em setembro se mostra mais viável em comparação a outubro e novembro. Dentro dessas regiões, outubro, de maneira geral, se destaca como o mês de maior aptidão para o cultivo de soja. Essas descobertas oferecem valiosas diretrizes para os agricultores na escolha das datas de plantio.

O Índice de Viabilidade para Produção de Culturas Anuais é uma ferramenta que foi desenvolvida para subsidiar o planejamento, visando ao desenvolvimento organizado e sustentável da agricultura. Ele se apresenta, portanto, como uma ferramenta para os gestores e produtores avaliarem a aptidão agrícola de áreas dentro de uma região, indicando as melhores culturas, épocas de plantio e rotações de cultura.

Lineu Neiva Rodrigues, pesquisador da Embrapa Cerrados e Fernanda Laurinda Valadares, doutora em Engenharia Agrícola pela Universidade Federal de Viçosa.

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