O líder Sindicalista que foi assassinado em Carmo do Rio Verde faz parte da história do Brasil

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Falamos um pouco da biografia de um líder que foi assassinado em Carmo do Rio Verde, Goiás. Nativo da Natividade de Oliveira, nascido em Perobas, Minas Gerais, em 20 de novembro de 1953, lavrador, líder sindical no município de Carmo do Rio Verde, secretário rural da Central Única dos Trabalhadores (CUT), atuou nas Comunidades Eclesiais de Base, ligadas à Igreja Católica e foi morto.

A militância de Nativo da Natividade de Oliveira começou na década de 1970, quando realizou trabalhos de conscientização política junto aos camponeses em Carmo do Rio Verde, desenvolvendo um trabalho educativo de conscientização indicando a forma opressiva e exploradora como os latifundiários a tratavam. Estava certo que com esse engajamento logo despertaria o ódio nos proprietários rurais. Em função da militância política foi demitido de vários empregos e vigiado por órgãos de repressão. Chegou a ser preso por defender um lavrador e foi liberado 24 horas depois e mesmo assim não se intimidava com as ameaças.

Foi assassinado no dia 23 de outubro de 1985 na porta do Sindicato dos Trabalhadores de Carmo do Rio Verde. O crime, praticado por pistoleiros e motivado pelos conflitos agrários constantes na região, fora encomendado pelo então prefeito de Carmo do Rio Verde, Roberto Pascoal Liégio (falecido recentemente no dia 15/01/2015 aos 75 anos), pelo presidente do Sindicato Rural (patronal), Dr. Geraldo dos Reis de Oliveira – pertencente à temível UDR – União Democrática Ruralista – e pelo fazendeiro e ex-prefeito de Uruana por dois mandatos (31/01/73 a 31/01/1977 e 01/01/1989 a 31/12/1992), Genésio Pereira.
O caderno do assassino de Nativo, Júlio Santana foi roubado posteriormente pelo tio pistoleiro, e está (ou estava) escrito: “Matar Na­ti­vo da Natividade (presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais) em Carmo do Rio Verde, Goiás. Man­dante, prefeito Roberto Pas­coal. Contato na cidade, Genésio. Pa­gamento, 2 milhões de cruzeiros”.
Santana morava em 1985 em Por­to Franco, com sua mulher, quando foi procurado pelo tio Cícero Santana para fazer um serviço: matar o sindicalista goiano Nativo da Natividade. “A mulher de Júlio odiava Cícero. Dizia que o tio era o culpado por ele levar aquela vida desgraçada de matador. Júlio sempre rebatia. Dizia que entrou para a pistolagem por vontade própria. Queria ganhar dinheiro e viver grandes aventuras. O tio havia apenas o ajudado a fazer o que desejava.”
O jornalista e escritor Klester Cavalcanti na obra “O Nome da Morte”, escreveu: “Numa conversa que não demorou mais de 10 minutos, Cícero passou todo o serviço ao sobrinho. Ele teria de matar Nativo da Natividade, presidente do Sindicato dos Trabalha­dores Rurais de Carmo do Rio Verde, no interior de Goiás. O mandante do crime era o prefeito da cidade, Roberto Pascoal, que se dizia incomodado com a influência política de Nativo na região e, principalmente, com os boatos de que o sindicalista seria candidato a prefeito nas eleições municipais de 1988. Quando contatou Cícero, Roberto Pascoal disse que queria eliminar Nativo antes que ele ganhasse ainda mais força e projeção”.

Assim, a mando de Roberto Pascoal, Genésio buscou Júlio em Brasília e o levou para Carmo do Rio Verde. “Pelo trabalho, receberia 2 milhões de cruzeiros — pouco mais do que três salários mínimos da época, que era de 600 mil cruzeiros.” Júlio tinha 31 anos. Genésio disse ao pistoleiro que ele mesmo poderia fazer o trabalho. “E por que não fez?”, perguntou Júlio. “O prefeito disse que era mais seguro trazer um matador de fora, para não levantar suspeitas sobre ele”, explicou Genésio.

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Nativo, informou-se Júlio, era casado e pai de dois filhos pequenos. Tinha 33 anos. “Muito pacato, só saía de casa para ir ao sindicato ou a alguma reunião de agricultores.” O motorista Pelé, num Fusca azul, levou Júlio para conhecer o sindicato onde Nativo atuava.

Informado dos hábitos de Nativo, Júlio decidiu matá-lo quando estivesse voltando para casa. “Eram quase 7 horas da noite quando o carro do sindicalista apareceu na esquina. Júlio ajeitou o chapéu de palha para esconder o rosto e ficou de pé. Caminhava lentamente, no lado oposto da rua, na direção da casa de Nativo. Tirou o revólver da cintura no mesmo instante em que o carro parou. Estava a uns 20 metros do homem. Mas queria chegar mais perto, para acertar o tiro na cabeça. O sindicalista estava tranquilo. Nem desconfiava que estava prestes a morrer”, escreve Klester.

“Nativo andava devagar, a caminho da porta”, relata Klester. “Do outro lado da rua, a uns 10 metros de distância, Júlio o tinha na mira de seu revólver. Estava puxando o gatilho quando viu uma menina de uns 5 ou 6 anos abrir a porta e correr, sorrindo, na direção do pai. Não teria coragem de matar um homem diante dos olhos da própria filha. Imediata­mente, apontou a arma para o chão. O sindicalista agachou-se e pegou a menina nos braços. Júlio ainda viu quando os dois se beijaram pouco antes de entrarem em casa.”

No dia seguinte, Júlio saiu à caça de Nativo. Este voltou para o sindicato à noite e foi seguido pelo pistoleiro. [Júlio] “Chegou na porta do carro de Nativo antes que ele saísse. Apontou a arma para a cabeça do sindicalista. O homem reagiu, segurando o braço direito de Júlio com as duas mãos. Durante o embate, ele puxou o gatilho quatro vezes — os exames feitos no cadáver encontraram três perfurações no tórax e uma no pescoço. Só parou de atirar quando teve certeza de que Nativo estava morto (em 1996, 11 anos após o episódio, o prefeito Roberto Pascoal foi julgado como mandante do crime, e absolvido).” Promo­tores, juízes e advogados que atuaram no caso têm o dever de ler as informações do livro de Klester. Trata-se do próprio pistoleiro revelando quem encomendou o crime e mostra como este foi feito.

Crime cometido, Júlio foi levado para Brasília numa ambulância. Genésio disse: “Acho que, agora, concordo com o prefeito. Você fez por merecer os 6 milhões de cruzeiros pelo serviço”. Cícero havia passado o sobrinho para trás. Para matar Nativo, Júlio recebeu “apenas” 2 milhões de cruzeiros.

Em Imperatriz, ao se encontrar com o tio, Júlio ameaçou matá-lo. Cí­cero disse: “Já parou para pensar que você deve tudo o que tem a mim? Se não fosse por mim, você não teria nada, Julão! Você não seria ninguém”. Júlio replicou, gritando: “Grande vida de merda essa que o senhor me deu. Eu sou um assassino, tio. Ganho a vida matando gente. E o senhor tem coragem de dizer que isso é bom”. Cícero morreu em 1993, aos 53 anos, e o sobrinho descobriu que, ao contrário do que todos na sua família acreditavam, não era policial militar. Júlio também se passava por policial militar. Detalhe: o maior assassino do Bra­sil agiu livremente em Goiás no mandato dos governadores Iris Re­zende e Onofre Quinan — matando pessoas no Estado — e os peemedebistas-chefes não conseguiram, nem tentaram, prendê-lo.

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Tempos depois, o jornal O Popular, em edição de 25 de dezembro de 1996, noticiou: “Embora sempre tenha figurado como suspeito nas investigações sobre o assassinato de Nativo Natividade, o prefeito Roberto Liegio só foi formalmente envolvido, no início do ano, com a prisão do pistoleiro João José Magalhães. Ele contou que, em companhia do pistoleiro Neném, executou o sindicalista por Cr$ 7 milhões, a mando do Roberto Liegio e do advogado Geraldo Reis, tendo como intermediário o fazendeiro Genésio Pereira da Silva. Ao ser ouvido pela polícia, o fazendeiro negou que tenha intermediado o crime, mas admitiu que o prefeito lhe pedira referência de um pistoleiro ‘para fazer o serviço”.

Em 15 de novembro de 2002, Maria de Fátima Martinelli, viúva de Nativo, apresentou requerimento perante a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos por meio do qual solicitara que a Comissão “se dignasse a reconhecer Nativo como vítima da violência de Estado”. O pedido, apreciado em 26 de agosto de 2004, foi indeferido e o relator do processo de Nativo, reconheceu sua militância política, mas considerou que as circunstâncias da morte não eram suficientes para afastar a hipótese de que o líder sindical poderia ter sido vítima da ação de pistoleiros.
Na ocasião, a Comissão, a partir do voto do relator, Conselheiro André Saboia Martins, entendeu que apesar de “os elementos indicarem que Nativo fora morto por ação de pistoleiro contratado por fazendeiros da região onde exercia sua militância política”, tais circunstâncias não se enquadravam em quaisquer das hipóteses previstas pela Lei nº 9.140/95.

Anos mais tarde, a partir de criteriosa pesquisa realizada pelo jornalista e escritor Klester Cavalcanti, que resultou no livro “O Nome da Morte – a história real de Júlio Santana” e que narra a vida de Júlio, que matara 492 pessoas, o personagem alegou que fora ele o autor da morte de Nativo, sem, no entanto, deixar claro a identidade dos mandantes.

A partir desse fato novo, contextualizado com o início da transição política nos centros urbanos e, paradoxalmente, com o acirramento da repressão exercida pela ditadura militar no campo, analisado em harmonia com as provas já presentes nos autos do procedimento anteriormente indeferido, a Comissão, instada pela família a rever sua decisão, decidiu, embasada em voto da Conselheira Diva Soares Santana, reconhecer Nativo como vítima da repressão do estado. Para a Conselheira, “está presente a relação de causalidade entre a participação de Nativo em atividades políticas e sua morte em decorrência da perseguição que sofrera, praticada por agentes públicos ou – como no caso – a mando desses”.

Em 2010, com o envio de novos documentos pela família, a comissão reanalisou o caso e Nativo Natividade ganhou o status de morto político. Em setembro de 2013 foi concedida a anistia política a Nativo, sendo publicada no Diário Oficial da União a declaração de anistia política post mortem ao líder sindical Nativo da Natividade de Oliveira em 17 de abril de 2014. A portaria determinou o pagamento de prestação mensal permanente e continuada de R$ 1.356,00 a Maria de Fátima Marinelli, viúva de Nativo. Prevê também o pagamento de R$ 273 mil referente à soma do valor mensal retroativo da data do julgamento, em setembro de 2013, a março de 1998.

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Realizada 5ª Sessão Ordinária de novembro na Câmara de Vereadores de Ceres

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Câmara Municipal de Vereadores de Ceres. Foto: Divulgação

Na última terça-feira, dia 27, foi realizada a 5ª Sessão Ordinária do mês de novembro de 2024. Na oportunidade foram votadas e aprovadas as seguintes matérias:

Moção de Pesar pelo falecimento do Senhor Francisco de Assis Gomes da Silva – Tidão.

Moção de Pesar pelo falecimento do Senhor Sebastião Cândido da Silva.

Moção de Pesar pelo falecimento da Senhora Gasparina Peixoto da Silva.

Moção de Pesar pelo falecimento da Senhora Maria Rosalina de Jesus.

Aprovado em segunda o Projeto de Lei Nº 033/2024 de autoria do Poder Legislativo, institui o “Setembro Amarelo” no calendário oficial do município de Ceres, dedicado à realização de ações de prevenção ao suicídio e promoção da saúde mental, e dá outras providências”.

Aprovado em segunda o Projeto de Lei Nº 035/2024 de autoria do Poder Legislativo “Dispõe sobre o direito de toda mulher a ter direito a acompanhante, pessoa de sua livre escolha, durante as consultas e exames, inclusive os ginecológicos, outros procedimentos médicos nos estabelecimentos públicos e privados de saúde no âmbito do município de Ceres/GO.

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Aprovado em segunda o Projeto de Lei Nº 037/2024 de autoria do Poder Legislativo “Institui o Programa Adote um Campo para Captação de Parcerias para a Implantação, Reforma e Manutenção de Campos Públicos de Futebol Municipais de Ceres/GO e dá outras providências”.

Aprovado em segunda o Projeto de Lei Nº 038/2024 de autoria do Poder Legislativo “Institui o Programa Permanente de Inspeção de Pontes e Mata-Burros no Município de Ceres/GO, e dá outras providências”.

Aprovado em segunda o Projeto de Lei Nº 039/2024 de autoria do Poder Legislativo “Institui o ‘Dia Municipal de Acolhimento do Paciente Oncológico no município de Ceres/GO e dá outras providências”.

Ver. FREDERICO DE OLIVEIRA SANTOS

– Presidente da Câmara Municipal –    

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