Tecnologia
Patrícia Takako Endo: na área de computação, cientista luta por espaço e une tecnologia e saúde para transformar vidas

Nordestina, pesquisadora, percussionista e ex-jogadora de vôlei, Patrícia Takako Endo é uma das vencedoras do primeiro Prêmio Mulheres e Ciência, na Categoria Estímulo. Promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), em parceria com o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), o Ministério das Mulheres, o British Council e o Banco de Desenvolvimento da América Latina e Caribe (CAF), a iniciativa reconhece a atuação feminina na ciência.
Professora e pesquisadora da Universidade de Pernambuco (UPE), Patrícia é um exemplo de trajetória marcada por desafios, persistência e paixão pela ciência. Ela tem na computação seu campo de estudo e atua na interseção entre tecnologia e saúde pública. “Me dá muito orgulho ser uma das representantes do Nordeste neste prêmio. Sou paraibana de nascença, fui criada e fiz minha graduação em Belém do Pará, no Norte, e estou em Recife, Pernambuco, há quase 20 anos. Poder representar o Nordeste, considerando toda essa trajetória da minha própria vida, me deixa extremamente feliz e honrada”, conta Patrícia.
A ciência não foi sua primeira paixão. Quando mais jovem, ela sonhava em ser atleta profissional de vôlei e chegou a considerar cursar Educação Física. Mas a vida tomou outros rumos e Patrícia se graduou em Engenharia da Computação. “Minha paixão pela ciência só descobrir muito depois, já no doutorado. Venho de uma família oriental e, embora meus pais não tenham ensino superior, sempre me incentivaram a estudar. Entrei no mestrado sem saber exatamente o que era um mestrado, e foi no doutorado que finalmente me vi cientista. Foi também nessa época que ingressei como professora na Universidade de Pernambuco”, acrescenta.
Ambiente masculino
Ao longo de sua trajetória acadêmica, Patrícia enfrentou um ambiente majoritariamente masculino. Ela lembra que na graduação, em uma turma de cerca de 30 alunos, eram apenas ela e outra mulher. “No início, isso não era um grande desafio para mim, mas quando me posicionei como cientista e pesquisadora, senti essas dificuldades na pele. Muitas vezes me perguntei: ‘O que estou fazendo aqui? Devo mesmo estar nesse espaço?’. Mas entendi que o nosso papel é justamente ocupar esses lugares e nos posicionarmos”, lembra a pesquisadora.
Nesse caminho, uma figura feminina se tornou essencial para sua formação: sua orientadora de doutorado, a professora Judith Kelner, da Universidade Federal de Pernambuco. “Ela sempre se posicionou com firmeza e brigou pelo que acreditava. De certa forma, acho que herdei um pouco disso dela, essa determinação para lutar pelo que quero”.
Cientista premiada
O reconhecimento pelo Prêmio Mulheres e Ciência tem um significado especial para a cientista, é símbolo de seu compromisso com a inclusão e a formação de novas cientistas, especialmente mulheres. “Essa premiação vai muito além dos muros da universidade. Me dá forças para continuar minha trajetória e reforça minha responsabilidade de inspirar outras mulheres”, afirma. Ela acredita que ser uma referência para meninas e mulheres que sonham com a ciência é uma forma de dar continuidade à sua própria trajetória, algo que ela mesmo vivenciou ao longo dos anos.
“Hoje, tenho alunos da graduação ao pós-doutorado, mas a disparidade de gênero ainda é grande. No meu campo, há muito trabalho a ser feito para mudar isso. Quero que mais meninas e mulheres ocupem espaços na pesquisa e que possamos, juntas, produzir ciência de qualidade”, destaca Patrícia. E é com esse foco que ela dedica sua vida acadêmica, buscando construir um ambiente mais inclusivo e acolhedor para as mulheres.
A musicista
Além da dedicação à ciência e à formação de mulheres, Patrícia tem outra grande paixão. Ela integra o grupo percussivo de Recife, Tambores de Saia, formado exclusivamente por mulheres. “É um motivo de muita alegria e orgulho fazer parte desse coletivo. Poder compartilhar essa experiência com tantas mulheres incríveis, unindo música e cultura. É algo que me traz uma felicidade imensa”, ressalta Patrícia.
A ciência e o SUS
Patrícia busca transformar a pesquisa em soluções para a sociedade e deseja ver seus projetos sendo aplicados de fato. Seu grande objetivo é levar suas soluções para o Sistema Único de Saúde (SUS) e, assim, beneficiar a população. “A ciência exige paciência, mas meu grande sonho é ver esses projetos rodando nos hospitais, beneficiando o SUS. O sistema de saúde tem escalabilidade nacional, e essa é uma das minhas principais metas”, compartilha, com entusiasmo.
Sua pesquisa se concentra na aplicação de inteligência artificial na Saúde, com dois focos principais: doenças tropicais negligenciadas e saúde materna e neonatal. “As doenças tropicais negligenciadas afetam principalmente países pobres e não recebem o investimento necessário. Meu trabalho busca desenvolver soluções eficazes para essas doenças, como dengue, zika e tuberculose”, explica. Além disso, ela trabalha no desenvolvimento de modelos para auxiliar os profissionais de saúde a tomarem decisões mais assertivas no cuidado de gestantes e recém-nascidos.
Segundo Patrícia, o trabalho desenvolvido acontece em parceria com o SUS e, nos últimos seis anos, ela tem se dedicado para que, em algum momento, possa ver uma de suas soluções sendo, de fato, utilizada na ponta, no SUS.
Conselho para as Mulheres Cientistas
Para as mulheres que desejam seguir carreira na ciência, Patrícia deixa um recado: “Ninguém nunca disse que seria fácil, mas também ninguém contou que seria tão difícil. Se esse é o nosso sonho, precisamos construir esse caminho e ocupá-lo com confiança.” Ela sabe que os obstáculos são grandes, mas acredita que, ao enfrentá-los, as mulheres podem transformar a ciência e a sociedade.
“Sem ciência, a humanidade não avança. E eu desejo que todas as pessoas, especialmente as mulheres, não se deixem abater pelas barreiras impostas pela sociedade”, afirma. Para Patrícia Takako Endo, a luta das mulheres na ciência é uma luta de resistência, uma resistência que ela carrega com orgulho e determinação.
*Patrícia Takako Endo foi uma das três cientistas que receberam o prêmio na categoria Estímulo, para mulheres com até 45 anos. A cientista concorreu na área Ciências Exatas, da Terra e Engenharias.


TECNOLOGIA
MCTI e Governo do Ceará lançam programa Mais Ciência na Escola

A ministra da Ciência, Tecnologia e Inovação, Luciana Santos, lançou, ao lado da vice-governadora do Ceará e secretária da Proteção Social, Jade Romero, o programa “Mais Ciência na Escola no Ceará”, visando impulsionar o letramento digital e a educação científica na educação básica. O ato ocorreu nesta sexta-feira (14), em Fortaleza, no Palácio da Abolição, sede do governo cearense.
Segundo Luciana Santos, as tecnologias oferecidas pela iniciativa são uma forma de desenvolver uma perspectiva crítica e cidadã dos jovens de todo o país. “O que nós queremos é aproximar nossos estudantes da ciência. A ciência não pode ser algo distante das pessoas, a ciência faz parte do dia a dia da vida das pessoas e nós precisamos fazer esse tipo de aproximação”, afirmou a chefe da pasta.
Com financiamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT), a iniciativa vai implantar laboratórios maker, que promovem a ciência mão na massa, em 75 escolas públicas, estaduais e municipais, distribuídas por todo o estado, além de capacitar professores e auxiliar financeiramente com bolsas docentes e estudantes. Serão contemplados com os equipamentos os municípios de Baturité, Fortaleza, Horizonte, Ibicuitinga, Ipaporanga, Itaitinga, Juazeiro do Norte, Limoeiro do Norte, Maracanaú, Maranguape, Mauriti, Quixadá, Quixeramobim, Redenção e Solonópole.
“Programas como esse democratizam ainda mais o conhecimento, principalmente para os filhos da classe trabalhadora. Mais importante ainda, esse programa dá aos nossos filhos o direito de sonhar com um futuro diferente, um futuro com mais ciência, com mais compromisso com a sustentabilidade e com mais cidadania”, disse a vice-governadora, Jade Romero.
O programa no Ceará é resultado da articulação da Secretaria da Ciência, Tecnologia e Educação Superior (Secitece) com o MCTI e será conduzido pela Universidade Estadual do Ceará (Uece), que recebeu um investimento de R$ 7,5 milhões por meio do Edital Conecta e Capacita nº 13/2024. Dentre as outras instituições envolvidas com o programa no estado estão: a Secretaria da Educação do Ceará (Seduc), Universidade Regional do Cariri (Urca) e a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (Unilab).
O Programa
Lançado em 2024, o Mais Ciência na Escola é uma iniciativa nacional, parceria entre o MCTI, o Ministério da Educação (MEC) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). O programa foi instituído por meio do Decreto nº 12.049, de 11 de junho de 2024, assinado pelo Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. O investimento é de R$ 100 milhões na implantação de mil laboratórios maker em todo o país. A previsão é que esse número dobre em 2025. Os recursos são do Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (FNDCT).
“A maneira mais adequada que encontramos de aproximar a ciência dos grandes pesquisadores da população foi o programa, que chega dentro das escolas, do ensino fundamental ao ensino médio, de maneira a ampliar o raio de popularização da ciência, da educação científica do nosso povo”, disse o secretário de Ciência e Tecnologia para o Desenvolvimento Social do MCTI, Inácio Arruda.
As diretrizes e os objetivos do Ciência na Escola incluem o estímulo à educação científica e digital, a promoção da inclusão social, a valorização dos educadores, a equidade no acesso à educação e o incentivo ao desenvolvimento sustentável.
Veja também: Programa federal Mais Ciência na Escola vai apoiar estudantes e professores cearenses com bolsas
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