A morte de uma mãe e dois filhos pequenos na rodovia BR-153 em Anápolis, em junho de 2008, motivada por um motorista de 18 anos que dirigia embriagado, foi a primeira tragédia no trânsito registrada no Brasil após a sanção da Lei Seca que foi analisada conforme as novas diretrizes. Começava ali, com um exemplo sintomático do poder de destruição da combinação entre álcool e direção, a aplicabilidade da lei que completa 10 anos neste mês. Apesar dos tantos exemplos e do tempo decorrido, os casos continuam sendo registrados no Estado. Em uma década, 77.965 pessoas foram autuadas por dirigirem sob efeito de álcool em Goiás, conforme o Departamento Estadual de Trânsito (Detran-GO). Desse total, 5,3 mil foram só este ano.

O acidente aconteceu às 16h30 de um domingo, dia 22 de junho, três dias após a sanção da Lei nº 11.705. O carro em que estava a família de Lindomar Rodrigues de Araújo sofreu pane seca e ele parou no acostamento para ir a pé até um posto de gasolina buscar combustível. A esposa e os filhos ficaram no veículo esperando. Foi o tempo de ele caminhar 100 metros apenas. Um Vectra desgovernado que vinha a 180 Km/h bateu na traseira do veículo de Lindomar e o jogou ribanceira abaixo. Morreram Maria de Lourdes Silva Moreira, de 26 anos, e os filhos Ryan de Lincon Moreira Araújo, de 4, e Lois Brenda da Silva Moreira, 8.

Aos policiais e ao delegado que investigou o caso, o motorista do Vectra deu a famosa versão verificada cotidianamente ainda hoje, 10 anos depois: que tinha bebido apenas um copo de cerveja. “Há três dias, um amigo caiu na blitz da Balada Responsável. Ele disse que tinha passado no bar para encontrar um amigo e tomou ‘dois copinhos’, apenas. Geralmente é isso, as pessoas dizem que ingeriram pouco álcool e preferem arriscar a sorte”, conta o diretor de Operações do Detran-GO, Francisco de Assis Peixoto. Dentro do Vectra envolvido no acidente de 2008, por exemplo, foi encontrada uma lata de cerveja.

Numa comparação ano a ano, nas rodovias federais que cortam o Estado, a quantidade de autuações de motoristas alcoolizados vem diminuindo. Um fator que explica essa tendência talvez seja a presença acirrada da fiscalização, com o aumento de testes de bafômetro nas barreiras policiais e a consequente mudança de comportamento de parte dos motoristas. Foram 109,9 mil testes só no ano passado nos postos da Polícia Rodoviária Federal em Goiás (PRF-GO), um recorde desde 2013.

Agentes mais presentes

O chefe da Comunicação Social da PRF-GO, inspetor Newton Morais, no entanto, não deixa de frisar a necessidade de atenção. “Entendo que houve a redução, mas poderia reduzir muito mais. Ainda existem aqueles que nunca foram flagrados, afinal a fiscalização não está em todos os lugares, e acreditam que isso nunca vai acontecer, insistindo na prática de dirigirem alcoolizados”, aponta. Esta época do ano exige uma presença maior dos agentes por coincidir o período de férias escolares com a temporada do Rio Araguaia e uma série de festividades em cidades do Estado.

O Detran-GO cita o exemplo dos 150 primeiros dias deste ano, comparados ao mesmo período de 2017. Segundo Francisco Assis, a redução de autuações nas cidades goianas foi de quase 20% nos cinco primeiros meses de 2018, tendência contrária ao verificado ano a ano. Por outro lado, existe um dado que preocupa. A maioria dos que vem sendo flagrados está bebendo mais, com uma concentração de álcool maior no sangue: “65,88% das pessoas autuadas estão acima de 0,34 mg/L”, diz.

Da Redação com OP