Quais as oportunidades e desafios da economia com o coronavírus?
Com previsão de que a pandemia do coronavírus dure, no mínimo, até meados de 2021, o presidente norte americano, Donald Trump, confirmou que há possibilidade de os Estados Unidos entrem em recessão. A notícia abalou o mercado mundial, que será impactado por eventuais crises internas da maior potência econômica atual. Os americanos já seguem algumas recomendações, como cancelamento de reuniões, fechamento de escolas, bares e restaurantes, suspensão de viagens e de alimentação fora de casa. Há receio, ainda, de que sejam banidas as viagens domésticas.
A crise, antes ignorada, começa a ganhar preocupações entre os líderes dos países, podendo ser o estopim para abalos na economia. No Brasil, esse cenário de medo e incertezas faz com que instituições e especialistas projetem retração de 0,5% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no ano de 2020. De forma otimista, o Governo Federal estima crescimento de 2,1% no PIB.
Com as medidas de quarentena e a orientação para que as pessoas evitem sair de casa, atuação prudente diante dos riscos com o Covid-19, o comércio passa a ser prejudicado, com reflexos em efeito dominó a outros segmentos de produção. Já a indústria sofre com a falta de peças importadas e insumos básicos para seu funcionamento.
Muito disso se dá à dependência que as indústrias têm em relação à China. Atualmente, ela abastece países de todo o mundo, sendo responsável por mais de 10% da produção global de bens intermediários no segmento eletroeletrônico, sem contar os produtos já acabados e distribuídos por todo o mundo. Com a desaceleração da produção em todo o planeta, além do país reduzir a importação de produtos básicos, inclusive brasileiros, ela rompe o fornecimento de materiais com valor agregado para outras cadeias.
As pequenas e médias empresas, que são a base do PIB brasileiro, são as que, no futuro, devem sofrer ainda mais os impactos do momento atual. O Ministério da Economia e os cinco principais bancos do país adotaram medidas para tentar conter o impacto na economia, flexibilizando linhas de crédito e prorrogando dívidas em até 60 dias. Com a expectativa de um baixo faturamento, arrocho nas contas e paralisação das atividades até a normalização da epidemia, percebe-se pouco apetite pelos empresários na tomada de crédito, mesmo com as medidas adotadas. Ou seja, as incertezas que estão no ar prejudicam todo o sistema, de ponta a ponta.
As oscilações diárias das bolsas de valores do mundo apenas antecipam o que será observado nos negócios locais. A B3, a nossa bolsa de valores, já passou por cinco paradas em menos de 10 dias (as famosas circuit breaker, acionadas quando há quedas acima de 10%) que desestabilizaram investidores e acenderam um alerta vermelho sobre a conjuntura atual.
Quem estuda ou vivencia os ciclos econômicos sabe que crises vêm e vão ao longo do tempo, tendo momentos de turbulências e posteriormente uma forte recuperação. Dificilmente esta será a última do nosso sistema e muito provavelmente haverá uma recuperação global e, como já prevemos essa ciclicidade, são nas crises que se abrem grandes janelas de oportunidades em vários mercados e segmentos, como no mercado de ações. Se, até o começo deste ano, investidores operavam adquirindo ativos com a bolsa batendo recordes, chegando a quase 120 mil pontos, hoje a mesma bolsa chega a 70 mil pontos: cenário semelhante ao observado a dois anos atrás.
Seria um contrasenso adquirir papéis a preços elevados e, agora, com ativos valendo menos, as pessoas ficarem receosas de comprar. Com a queda das ações, o valor de mercado das empresas cai, ao ponto de algumas possuírem em caixa mais que a precificação de seus papéis. Ou seja, muitas empresas possuem bons fundamentos, com a saúde de mercado e valendo pouco na prateleira. Neste caso, crises como a que estamos passando até podem abalar o faturamento, mas não colocam em risco sua existência: uma oportunidade que pode ser agarrada neste momento.
Ainda é cedo para avaliar como será o futuro, mas já temos previsões sobre a retomada das atividades normais. A China, onde o surto da doença começou e o pico do problema já foi superado, vê sua produção voltar, gradualmente. No Brasil, a expectativa é que esse movimento demore até o início do segundo semestre para ser observado.
Mais do que em outros momentos, esta é a hora de manter a calma. A visibilidade que o problema de saúde pública tomou chega a gerar certo pânico generalizado. Mas, vale lembrar, medo não é sinônimo de prudência. Agora é hora de analisar friamente as situações e tomar atitudes coerentes e racionais, não permitindo que comportamentos alheios ilógicos interfiram nas próprias decisões.
Pedro Varella é economista e financial advisor da Aurum Global Advisory, empresa goiana de finanças
Jornal do Vale, desde 1975 – www.jvonline.com.br
ARTIGO
PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.
A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.
A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.
A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.
Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.
André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).
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