Opinião
A Zika e a dengue até 2050
Os pesquisadores utilizaram um modelo matemático do impacto de vetores dependentes da temperatura no risco de doenças. Com os dados de temperatura de 2015 a 2019 e projeções para 2045 a 2049, tiveram como resultado que o potencial epidêmico da Zika aumentará além dos níveis atuais no Brasil em todos os cenários climáticos.
Foi publicado na revista “PLOS Neglected Tropical Diseases” o estudo sobre o impacto do aquecimento em doenças de Zika e de dengue em quatro cidades brasileiras, por pesquisadores da Escola de Saúde Pública da Universidade de Michigan: “Long-term projections of the impacts of warming temperatures on Zika and dengue risk in four Brazilian cities using a temperature-dependent basic reproduction number”.
Os vírus da Zika e da dengue são arbovírus que são transmitidos aos seres humanos pelos mosquitos Aedes aegypti e A. albopictus. A Zika foi introduzida nas Américas em 2015, causando numerosos surtos. Como a transmissão de doenças por vetores depende da temperatura, trabalhos recentes procuram estimar como as mudanças climáticas impactarão em novas regiões. Dado os resultados preocupantes da Zika, incluindo microcefalia e síndrome de Guillain-Barré, o desconhecimento de como as mudanças climáticas influenciarão a propagação dos vírus é preocupante.
A dengue tem uma história mais longa na região, surgido nas Américas no século XVII, foi eliminada na década de 1960 através do uso de pesticidas, mas ressurgiu no início dos anos 1980. Desde então, a dengue permaneceu endêmica em muitos países da América Latina. Devido à isso, ela foi mais estudada do que a Zika e fornece um ponto de comparação útil ao considerarmos o impacto potencial das mudanças climáticas desses arbovírus.
Como resultado das mudanças climáticas, estima-se que cerca de metade da população mundial viverá em regiões geográficas que se tornarão favoráveis para a transmissão de arbovírus até o ano de 2050. Vários fatores tornam o Brasil particularmente vulnerável além dos impactos das mudanças climáticas. Entre eles, destaca-se o desmatamento na região amazônica, bem como o aumento generalizado das temperaturas, ambos favoráveis à reprodução de mosquitos.
Surtos de arbovírus, como o surto de Zika no Brasil em 2015, também foram atribuídos em parte às condições de El Niño daquele ano, o Aedes aegypti, o principal vetor da Zika e da dengue, é particularmente adaptado para condições quentes e úmidas. Assim, o Brasil é uma região importante para estudar o potencial de transmissão da Zika, conforme destacado por projeções globais da Zika.
Os pesquisadores utilizaram um modelo matemático do impacto de vetores dependentes da temperatura no risco de doenças. Com os dados de temperatura de 2015 a 2019 e projeções para 2045 a 2049, tiveram como resultado que o potencial epidêmico da Zika aumentará além dos níveis atuais no Brasil em todos os cenários climáticos.
A estação de risco de arboviroses para o Rio de Janeiro aumentará cerca de três meses, a de Zika em Recife aumentará cerca de dois meses. Com temperaturas mais baixas, São Paulo está no limite, não configurando estar livre. Já Manaus, os pesquisadores estimam que em alguns anos a região terá temperaturas muito altas, favorecendo a transmissão do Zika. Assim, medidas de contenção são necessárias e urgentes. Um trabalho para todos os governos federal, estaduais e municipais, incluindo senadores, deputados e vereadores!
Mario Eugenio Saturno (fb.com/Mario.Eugenio.Saturno) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano
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ARTIGO
PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.
A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.
A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.
A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.
Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.
André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).
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