Opinião
Plano Real – Uma conquista democrática
O Plano Real é, sem dúvida, uma conquista democrática que merece ser celebrada e lembrada por todos os brasileiros. Sua implementação transparente e participativa é um exemplo de como a Democracia é um instrumento poderoso na construção de uma sociedade Sustentável, Inclusiva e Justa!
O nascimento do Plano Real, em 1994, representa um marco significativo na história econômica e política do Brasil. Em um contexto de hiperinflação que assolava o país há décadas, o Plano Real foi uma iniciativa essencial para estabilizar a economia e devolver o poder de compra à população brasileira. Sob a liderança do então ministro da Fazenda, Fernando Henrique Cardoso, e de sua equipe econômica, o Plano Real foi concebido e implementado como uma verdadeira “pedagogia democrática”.
Fernando Henrique Cardoso sempre destacou que o Plano Real respeitava a autonomia individual, sendo implementado de forma pública, explicada e sem surpresas ou tutelas. A transparência foi um elemento fundamental para o sucesso do plano, pois permitiu que a população entendesse e confiasse nas medidas que estavam sendo adotadas. Esse processo participativo fez da sociedade brasileira uma grande parceira na implementação do plano, contribuindo decisivamente para o seu êxito.
Pérsio Arida, um dos principais idealizadores do Plano Real, frequentemente ressalta que o sucesso do plano foi resultado dessa enorme parceria democrática. Apesar das mudanças de presidentes, governos e condições sociais, a inflação nunca mais voltou aos níveis alarmantes anteriores, graças à vigilância popular que, por meio do voto, passou a privilegiar a estabilidade monetária. Essa vigilância constante é um testemunho da importância do engajamento cívico na manutenção das conquistas econômicas.
Um episódio ilustrativo dessa parceria democrática é narrado por Gustavo Franco, outro membro crucial da equipe econômica do Plano Real. Nos primeiros dias do lançamento do plano, ainda durante a fase de transição com a Unidade Real de Valor (URV), Franco viu uma barraquinha na praia vendendo um coco por uma URV. Para ele, aquele momento simbolizou a aceitação popular da nova moeda, indicando que o plano estava no caminho certo. A URV foi uma etapa crucial na preparação para a introdução do Real, pois substituía gradualmente o Cruzeiro Real e estabilizava a economia para o florescimento da nova moeda.
Com o lançamento do Real, o valor das coisas tornou-se mais compreensível, facilitando o investimento e o planejamento de longo prazo. A superação da hiperinflação abriu caminho para enfrentar outras mazelas que afligiam, e ainda afligem, a população brasileira. Novas estruturas sociais inclusivas e justas começaram a ser erguidas, proporcionando uma base mais sólida para o desenvolvimento do país.
É importante frisar que a estabilidade monetária obtida com o Plano Real foi o ponto de partida para o enfrentamento de vários outros problemas brasileiros. A inflação controlada possibilitou um ambiente mais propício para o crescimento econômico sustentável e para a implementação de políticas sociais mais eficazes.
Entre tantos feriados vazios de significado, que tal substituir um deles pelo dia 1 de julho, que passaria, então, a ser dedicado ao Plano Real? Este dia serviria para celebrar uma das maiores conquistas democráticas do Brasil, um marco que transformou a vida de milhões de brasileiros e continua a influenciar positivamente o país.
O Plano Real é, sem dúvida, uma conquista democrática que merece ser celebrada e lembrada por todos os brasileiros. Sua implementação transparente e participativa é um exemplo de como a Democracia é um instrumento poderoso na construção de uma sociedade Sustentável, Inclusiva e Justa!
André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor, professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro “Caminho – a Beleza é Enxergar”, da Editora UICLAP (@andrenaves.def).
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ARTIGO
PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.
A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.
A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.
A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.
Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.
André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).
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