Opinião

Os impactos das demandas da Geração Z e Alpha no consumo de eventos culturais

Um report realizado pelo YouTube em 2023 aponta que pelo fato da CazéTV utilizar múltiplas plataformas para dar aos fãs o que realmente querem, conseguem conquistar um público cada vez maior, o que eventualmente faz com que quebrem recordes de audiência, como foi o caso da transmissão da Copa do Mundo, onde atingiram cerca de 6 milhões de pessoas assistindo, o que inevitavelmente chama atenção das marcas.

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Luiz Menezes é empresário e fundador da Trope.

As Olimpíadas 2024 chegaram ao fim, mas ficarão marcadas para sempre como um divisor de águas para alguns criadores de conteúdo. Pela primeira vez, um streamer teve permissão concedida para a fazer a transmissão do evento, além da Rede Globo. Estou falando de Casimiro Miguel, de 30 anos, que é criador da CazéTV, canal no YouTube que já conta com 15 milhões de inscritos.

Casimiro ganhou fama por meio de lives na Twitch, serviço de streaming de vídeo ao vivo, onde fazia cobertura de esportes. Foi seu sucesso que viabilizou a autorização para transmitir a Olimpíada. Até então, a Rede Globo detinha total exclusividade dos jogos, porém, o Comitê Olímpico Internacional (COI) gostaria que o evento tivesse um impacto maior na internet e percebendo que a CazéTV poderia dar esse destaque nas redes sociais, concedeu parte dos direitos digitais da competição.

É claro que para fazer uma transmissão de qualidade, Casimiro investiu na contratação de ex-atletas, influenciadores e até jornalistas que já trabalharam na Globo, como é o caso de Fernanda Gentil. O objetivo era fazer uma cobertura descontraída, mas sem deixar de ser profissional, o que já é característica de muitos criadores de conteúdo na internet, que entendem cada vez mais qual é a linguagem que deve ser utilizada e a demanda das novas gerações por conteúdos informativos, mas ainda com códigos e linguagens do entretenimento.

Além disso, a transmissão da CazéTV contou com dez patrocinadores de peso, que ajudaram e investiram no serviço de Casimiro, como iFood, Havaianas, MercadoLivre, Samsung, Volkswagen, Corona, Esportes da Sorte, Hellmann’s, Visa com Banco do Brasil e Vivo. A partir disso, surgem algumas perguntas: o que leva essas grandes empresas a tomarem a decisão de patrocinar transmissões online em canais do Youtube de forma geral? Qual é o impacto futuro? O que ganham com tudo isso?

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A resposta é simples: sem contar a visibilidade e o retorno financeiro, as marcas estão cada vez mais preocupadas em conseguirem se conectar com novos públicos e, para isso, precisam estar presentes em espaços digitais, utilizando uma linguagem que vai conversar de verdade com essas pessoas. É por esse motivo que decidem começar a investir em parcerias com influenciadores e plataformas.

Um report realizado pelo YouTube em 2023 aponta que pelo fato da CazéTV utilizar múltiplas plataformas para dar aos fãs o que realmente querem, conseguem conquistar um público cada vez maior, o que eventualmente faz com que quebrem recordes de audiência, como foi o caso da transmissão da Copa do Mundo, onde atingiram cerca de 6 milhões de pessoas assistindo, o que inevitavelmente chama atenção das marcas.

Além disso, vivemos com a constatação de que a Geração Z, pessoas de 13 a 27 anos e que geralmente são o público alvo dessas marcas, tem assistido menos à televisão aberta. Dados do relatório anual da Ofcom de 2024, para o Reino Unido de 2024, mostram que menos da metade (48%) dos jovens assistem TV aberta. No Brasil, dados do Grupo de Mídias de São Paulo apontam queda no número de espectadores para a televisão tradicional, incluindo a Geração Z, Alpha e até mesmo Millennials.

E você deve estar se perguntando: onde eles assistem os conteúdos então? Tirando as plataformas de streaming, como Netflix, Amazon Prime, HBO Max, Disney+, Globoplay e outros, o YouTube faz sucesso entre a GenZ, principalmente porque democratiza o acesso ao conteúdo, algo proposto pela CazéTV. Inclusive, uma pesquisa da Offerwise com pessoas da Geração Z, revelou que 66% dos entrevistados assistem ao YouTube na TV conectada, compartilhando esses momentos com familiares e amigos.

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No entanto, é importante termos consciência de que apesar da GenZ não estar de fato ligando o aparelho televisor, está consumindo aquele canal da TV por outras mídias. A diferença é: mudou o formato e a linguagem, mas o conteúdo é o mesmo. A lógica é parecida com não acompanhar o BBB pela Globo, mas ver os cortes no streaming, ou direto na rede social. E isso serve para qualquer evento cultural no calendário, como Copa do Mundo, Olimpíadas, entre tantos outros.

Acredito que a internet nunca vai substituir a televisão, principalmente pelo fato do que está sendo exibido na TV é o mesmo que está sendo transmitido em diferentes formatos. E vale ressaltar que no nosso contexto latino de sucesso das novelas, a GenZ tem se interessado cada vez mais pelas produções, porém, assistindo e sabendo do que se trata pelo streaming, por meio da internet e dos memes. Isso demonstra que as Gerações Z e Alpha estão ressignificando a forma que consomem conteúdos, mas sem deixarem de estar de alguma forma ligadas ao que a televisão aberta ainda repercute.

Luiz Menezes é empresário e fundador da Trope.

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ARTIGO

PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação. 

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André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.

A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.

A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.

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A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.

Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.

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A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).

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