Opinião

Alguns Mandamentos Climáticos

O impacto que a vegetação tem nos ciclos de água e energia, e, portanto, no próprio clima, são ignorados. A proteção das florestas nativas é essencial para preservar a biodiversidade e o equilíbrio no ciclo do carbono.

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Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.

O cientista Antônio Nobre do INPE (irmão do Carlos Nobre), que sempre fala com sabedoria sobre o desastre que o ser humano provoca no planeta, elaborou dez mandamentos de efeitos biogeofísicos para o clima, de conservação e restauração da vegetação nativa. Em outras palavras, para salvar a humanidade. Veremos alguns neste artigo.

O impacto que a vegetação tem nos ciclos de água e energia, e, portanto, no próprio clima, são ignorados. A proteção das florestas nativas é essencial para preservar a biodiversidade e o equilíbrio no ciclo do carbono. Eis os mandamentos:

(1) Os esforços de reflorestamento e de recuperação de ecossistemas tem que levar em conta a disponibilidade de água. A longevidade do sequestro de carbono em projetos de reflorestamento não pode ser adequadamente avaliada sem também considerar as condições hidrológicas e os ambientes climáticos de cada local. Assim, a vegetação que promove e sustenta um clima úmido pode também capturar e manter mais carbono em sua biomassa.

(2) Solos compactados absorvem pouca ou nenhuma água da chuva. Chuvas que caem em solos impermeáveis são, portanto, perdidas em escoamentos superficiais, gerando inundações e drenando inutilmente para os oceanos. A vegetação em geral, especialmente as árvores, são excelentes promotoras de infiltração. Capazes de perfurar profundamente o solo compactado com suas raízes, as árvores também criam uma camada de detritos orgânicos, formando um colchão de raízes que atrai e mantém uma ampla variedade de insetos escavadores e uma imensa população de organismos decompositores, que transformam o solo endurecido em uma terra fofa e fértil, capaz de reter umidade. Além de uma série de benefícios hidrológicos, a água retida na paisagem promove a produtividade das plantas por um período prolongado e, portanto, contribui para a capacidade das plantas de condicionar e favorecer o clima.

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(3) As árvores bombeiam água do solo e emitem vapor d’água através da copa, aumentando a umidade do ar. Tal efeito, por mais estranho que pareça, resfria a superfície. Uma caloria é uma medida da energia térmica necessária para aumentar a temperatura de 1 grama de água líquida em 1 grau Celsius. Apenas 100 calorias são absorvidas para elevar um grama de água de zero graus até o ponto de ebulição a 100 graus Celsius, enquanto cinco vezes mais energia é necessária para converter esse grama de líquido em gás (vapor). Assim, a evaporação absorve eficientemente a energia térmica do ambiente, diminuindo a temperatura local. As plantas transpiram em grandes quantidades durante o dia, chegando até 1000 litros por dia em uma árvore madura de grande porte em uma floresta tropical.

Ao contrário de um ar condicionado, a transpiração das plantas captura o calor do ambiente na superfície, armazenando-o em vapor de água que é transportado para altitudes maiores e para latitudes distantes na atmosfera. O transporte de calor é uma parte extraordinariamente importante e necessária do efeito de resfriamento promovido pelas florestas.

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Trataremos os demais mandamentos futuramente.

Mario Eugenio Saturno (fb.com/Mario.Eugenio.Saturno) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

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ARTIGO

PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação. 

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André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.

A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.

A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.

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A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.

Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.

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A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).

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