Justiça

Advogado será indenizado após comer sanduíche com agulha de injeção, em Goianésia

O advogado Emannuel da Mata vai receber R$ 5,3 mil de indenização por danos materiais e morais. O Poder Judiciário determinou que o pagamento não poderá ser parcelado.

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Advogado será indenizado após comer sanduíche com agulha de injeção, em Goianésia. Fotos: Arquivo pessoal/Emannuel da Mata

Na hora de saborear um sanduíche muita gente se aventura em fazer combinações diferentes, como sorvete e até batata frita, mas um goiano encontrou algo incomível: uma agulha de injeção. O advogado Emannuel da Mata de 25 anos, vai receber R$ 5,3 mil de indenização por danos materiais e morais após comer um sanduíche com uma agulha dentro, em Goianésia no Vale do São Patrício. O caso ocorreu em fevereiro do ano passado, durante o carnaval de 2023.

“Assim que eu dei a segunda mordida, senti alguma coisa inflexível na boca. Tirei e coloquei em um prato e vi que era algo metálico, fui mexendo melhor, e aí vi que era uma agulha de seringa, que realmente é feita para passar um líquido dentro”, lembra Emannuel.

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O advogado contou que não se machucou com a ponta aguda da agulha, mas sentiu muito nojo e medo de ter se contaminado. Logo após o ocorrido, ele entrou em contato com a sanduicheria e recebeu reembolso. Mas como gastou com uma série de exames médicos, por medo de uma eventual contaminação, decidiu entrar na Justiça contra a empresa.

No processo, a empresa argumentou que em nenhuma das fases de produção dos alimentos são usados objetos semelhantes à agulha encontrada pelo consumidor. A empresa também tentou questionar a necessidade de uma perícia técnica, mas a Justiça entendeu que os documentos apresentados eram suficientes para decidir o caso.

“O processo foi julgado, tendo como prova apenas uma foto e o depoimento de uma amiga íntima do autor, de modo que era impossível concluir que o objeto realmente estivesse no produto”, lamentou o advogado da empresa, André Luis Moreira Silva.

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Emannuel nunca tinha comido no lugar. De acordo com ele, naquele sábado de carnaval estava com uma visita e resolveu pedir o sanduíche por delivery, pela praticidade. O advogado disse que, após a surpresa negativa, até a visita sentiu vontade de vomitar, com medo de achar algo parecido no próprio lanche.

Ação indenizatória

O Poder Judiciário condenou a empresa a pagar a indenização em 9 de janeiro deste ano. Recentemente, em 10 de setembro, foi determinado que a empresa não pode parcelar o valor fixado.

Na condenação, a juíza Lorena Cristina Aragão Rosa fixou o pagamento de R$ 5 mil pelos danos morais, considerando o risco à saúde e o constrangimento sofrido por Emannuel ao encontrar a agulha no sanduíche.

Também foi fixado o pagamento de R$ 360 de indenização por danos materiais, considerando o reembolso do valor dos exames clínicos que o advogado fez para verificar uma eventual contaminação pelo contato com a agulha.

“Entendo que foi disponibilizado produto que continha em seu interior objeto impróprio para o consumo […] não há como elidir (retirar) a responsabilidade do fornecedor do produto pela segurança e qualidade esperada”, considerou a juíza ao condenar a empresa.

Veja a nota na íntegra da empresa

Como o próprio autor alegou na ação, ele entrou em contato com a lanchonete para relatar o suposto fato. A lanchonete, como ele mesmo afirma, se colocou a disposição imediatamente e pediu que o produto fosse conservado para ser submetido a uma perícia. Isso porque, em casos como esse, o procedimento correto consiste justamente em conservar o objeto, registrar um boletim de ocorrência e remeter o produto para a delegacia do consumidor.

Porém, o autor, eliminou o objeto de modo que a empresa não teve a oportunidade de produzir sua prova. O autor não deveria ter procedido dessa maneira, pois, é advogado e sabe que em casos como esse o ônus da prova é invertido contra a empresa.

O processo foi julgado, tendo como prova apenas uma foto e o depoimento de uma amiga íntima do autor, de modo que era impossível concluir que o objeto realmente estivesse no produto. Tanto é verdade que a fundamentação da sentença diz que era provável que o objeto estivesse no produto, ou seja, nem mesmo o juízo tinha certeza, afinal, o que é provável ainda está ainda pendente de comprovação. Assim, cabia recurso da decisão.

No entanto, o valor das custas processuais e honorários advocatícios para atuação em recurso seriam bem maiores do que o pagamento da indenização. Em virtude disso a empresa decidiu não recorrer, assim, decidiu acatar a condenação, mesmo discordando dela.

Frisa-se que durante toda a sua história a MFZ Alimentos nunca teve esse tipo de problema, pois, seus produtos são preparados a partir de rigorosa inspeção, razão pela qual a empresa vem crescendo e conquistando cada dia mais seu espaço no mercado goianesiense.

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JUDICIÁRIO

Novo SAC obriga atendimento humano e ataca problemas recorrentes na Justiça

A ideia é atacar os problemas mais enfrentados pelos consumidores no cotidiano das reclamações. Hoje, há um caminho tortuoso percorrido pelo cliente para conseguir falar com um atendente humano.

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Novo SAC obriga atendimento humano e ataca problemas recorrentes na Justiça. Foto: Freepik

A proposta de mudança do Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC), que já tem minuta de decreto em discussão na Secretaria Nacional do Consumidor, deve reduzir o uso de robôs para atendimento de demandas, tendo em vista que obriga empresas a disponibilizar atendimento humano, e exige que o cancelamento de produtos e serviços seja facilitado. O texto discutido ainda determina que empresas forneçam atendimento 24 horas por dia em casos de emergência.

A ideia é atacar os problemas mais enfrentados pelos consumidores no cotidiano das reclamações. Hoje, há um caminho tortuoso percorrido pelo cliente para conseguir falar com um atendente humano.

Um levantamento feito pela MindMiners no Brasil mostra que apenas 12% das pessoas preferem ser atendidas por um robô, e o problema acabou impulsionado pela última alteração do SAC, feita em 2022, que incentivou o uso da tecnologia no atendimento.

Outro ponto é que o decreto em vigor não regulamentou como o atendimento humano por telefone deve ser feito nem os horários em que isso deve ser observado. Pelo texto, cabe aos “órgãos e entidades competentes” regular o tema para cada setor.

O avanço dos robôs no SAC acabou gerando um efeito em cascata; o consumidor, muitas vezes, não consegue explicar sua demanda à máquina. As insatisfações não são resolvidas, se acumulam e desaguam no Judiciário. A situação fica mais grave quando os problemas envolvem cancelamentos, serviços não contratados e cobranças indevidas.

O reflexo disso é o crescimento das ações que envolvem Direito do Consumidor na Justiça. Nos tribunais estaduais, conforme dados do Datajud, foram ajuizados 5,9 milhões de processos que envolvem consumo em 2022; em 2023, o número subiu para 7,4 milhões; neste ano, até o dia 30 de novembro, eram 7,8 milhões de novos casos.

O texto do novo decreto ainda ataca diretamente o tipo processual mais recorrente dentro deste contexto: a contratação de produtos de bancos e instituições financeiras (consignados, cartões, etc). Dos casos novos de 2024, 1,1 milhão envolve inclusão indevida em cadastro de inadimplente, 571 mil são sobre empréstimos consignados e mais de 300 mil são sobre repetição de indébito ou cartão de crédito.

Pela nova regra, as instituições terão dois dias para resolver o problema. Diz o parágrafo 3º do artigo 8º: “Deverá o fornecedor diante da demanda sobre serviço não solicitado ou de cobrança indevida tomar providências imediatas para suspensão da cobrança, não sendo superior a 48 (quarenta e oito) horas o prazo para a conclusão do atendimento”.

As principais mudanças no texto são:

— Fica proibida a repetição de demanda, ou seja, o consumidor não precisa falar sobre o mesmo problema para diferentes camadas do atendimento fornecido;

— Empresas não podem obrigar consumidores a resolver o problema por aplicativo;

— Todos os atendentes têm de ter poder para cancelar o serviço ou o produto contratado, e isso deve ser feito já no primeiro contato;

— Canais eletrônicos não humanos, ou com baixa atuação humana, devem obrigatoriamente oferecer a possibilidade de atendimento humano, sem prejuízo do atendimento por telefone;

— Canais eletrônicos devem prestar atendimento das 6h às 22h, sete dias por semana;

— O atendimento telefônico é obrigatório, e não pode ser inferior a oito horas diárias, com atendimento humano 24 horas para demandas urgentes;

— Quando o cliente optar pelo atendimento humano, o tempo máximo de espera será de 60 segundos;

— Ficam estipuladas como urgentes as demandas que tenham relação com a saúde do consumidor, e em casos de eventos extremos e de força maior (eventos climáticos, por exemplo); e

— O texto vale para todas as empresas ou grupos econômicos que forneçam produtos ou serviços que tenham faturamento anual maior que R$ 300 milhões.

A advogada Fabíola Meira de Almeida Breseghello, sócia do escritório Meira Breseghello Advogados, diz que iniciativas para melhoria no atendimento ao cliente são louváveis e merecem apoio, especialmente para que, cada vez mais, o consumidor seja acolhido por meio dos canais oficiais das empresas e não por meio de sites de reclamações ou redes sociais.

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Ela argumenta, no entanto, que regras rígidas, como o limite de 48 horas para resolução de cobranças indevidas, podem gerar uma interferência indevida do Estado no organograma das empresas, tendo em vista que cada segmento tem suas particularidades.

“Vale reforçar que, independentemente da alteração ou não do decreto, os fornecedores de produtos e serviços aos consumidores devem cumprir o Código de Defesa do Consumidor, na medida em que um serviço de atendimento ao cliente ineficiente pode configurar falha na prestação de serviço.”

Direitos e eficácia

O advogado e professor Marco Antonio Araújo, especializado em consumo, enxerga com bons olhos a restrição aos robôs no atendimento que, segundo ele, “é um incômodo grande para o consumidor que aciona o fornecedor para solucionar um problema, realizar um cancelamento ou registrar uma reclamação e fica preso numa dinâmica infindável de um labirinto digital”.

Murilo Sechieri, advogado e ex-procurador do estado de São Paulo, concorda. “Inúmeros fornecedores têm se utilizado exclusivamente – ou quase exclusivamente —, de robôs, chatbots e outros procedimentos automatizados, na maior parte dos casos com inúmeras etapas para que o consumidor possa encontrar o caminho para comunicar efetivamente sua demanda ao fornecedor”.

“A experiência comum tem demonstrado que os sistemas automatizados, em grande parte dos casos, não são suficientes para atender às necessidades dos consumidores de se comunicar adequadamente com os fornecedores”, argumenta.

Sechieri diz, ainda, que a obrigatoriedade de atendimento humano adequa os SACs “aos objetivos da Política Nacional de Defesa do Consumidor previstos do ‘caput’ do art. 4º do CDC”.

Araújo, no entanto, acredita que a proposta para atendimento em até 60 segundos pode não ter eficácia e ainda gerar um efeito rebote nos preços.

“Obrigar o atendimento humanizado para todos fornecedores, seja nas hipóteses de demandas urgentes ou não, em todas as etapas do atendimento, com um tempo curto de espera (60 segundos) pode não ser exequível, ou ainda, pode representar um aumento considerável no custo da operação, que fatalmente será repassado ao consumidor no preço do produto ou do serviço.”

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Segundo ele, a imposição de atendimento humano 24 horas, a depender do serviço, pode ser vista como uma intervenção na atividade econômica e ter sua constitucionalidade questionada por violação ao princípio da liberdade econômica. O advogado cita que o atendimento feito por um funcionário não é sinônimo de um bom serviço prestado ao consumidor.

“A defesa do consumidor deve sempre atender a um princípio relevante do CDC: o da harmonização dos interesses. Talvez não seja razoável e interessante para o consumidor que o Estado imponha uma regra rígida acerca do atendimento humanizado, em detrimento de um atendimento automatizado eficiente, que possa representar um aumento de custos para o fornecedor e, por consequência, um repasse no preço dos produtos e serviços, que será arcado, invariavelmente, pelo consumidor. O consumidor quer respostas eficientes, seja por que canal vier.”

Duas faces da moeda

O advogado Diogo Furtado, sócio gestor do Queiroz Cavalcanti Advocacia, acredita que a minuta do decreto traz avanços importantes, como delinear quais demandas são urgentes, além de estabelecer oficialmente quais são os canais de atendimento de cada empresa.

Ele argumenta, entretanto, que não se pode excluir boas experiências com o uso da tecnologia nos atendimentos, citando o setor de varejo como um exemplo de chatbots que são eficientes.

“A legislação poderia prever a medição do índice de satisfação dos consumidores e do percentual de resolução de demandas, criando incentivos positivos, como selos de eficiência ou rankings por setor. Modelos semelhantes já funcionam bem nos tribunais, com selos de empresas amigas da Justiça e rankings de Procons, e poderiam ser replicados para reconhecer as empresas mais eficientes em atender seus clientes”, argumenta.

Meira Breseghello cita que o texto delimita qual o canal de atendimento que a empresa deve oferecer. “O ideal é que o consumidor contate a empresa por um canal que se trate de SAC, e não por outras vias, como mensagem direta no Instagram, por exemplo, que podem até prejudicar a rápida interação e resolução do problema.”

Sobre o tempo limite de atendimento, Furtado diz que a meta de 60 segundos é ambiciosa, mas acredita que será de difícil execução. O prazo, diz, “embora bem-intencionado, é inviável em momentos de alta demanda ou durante situações fortuitas, e geraria a necessidade de equipes muito superiores às efetivamente necessárias tão somente para atingir o requisito legal”.

Alex Tajra é repórter da revista Consultor Jurídico

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