Opinião

Como foi o ano de 2024 para o mercado de cannabis medicinal?

No âmbito legislativo, aconteceram avanços estaduais e municipais, como o fornecimento de produtos à base de cannabis medicinal pelo SUS em estados como São Paulo e Santa Catarina, ampliando o acesso a tratamentos. Também ocorreram avanços importantes nas indicações de uso da cannabis medicinal. A planta demonstrou impacto significativo na saúde mental, sendo eficaz no controle de ansiedade, depressão e insônia.

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Pedro Sabaciauskis é fundador e presidente da Santa Cannabis, uma associação sem fins lucrativos que busca fomentar os estudos da cannabis medicinal em pacientes com indicação para o uso, assim como a distribuição legal de CBD e THC medicinal.

Estamos no final do ano, momento de refletir sobre tudo que aconteceu ao longo dos meses e também de entendermos o que deu certo e o que deu errado. Quando penso sobre o mercado de cannabis medicinal, fico aliviado em saber que continuou em expansão em 2024. O número de pacientes, prescritores e empresas no setor cresceu consideravelmente, consolidando a cannabis como uma importante alternativa terapêutica.

No âmbito legislativo, aconteceram avanços estaduais e municipais, como o fornecimento de produtos à base de cannabis medicinal pelo SUS em estados como São Paulo e Santa Catarina, ampliando o acesso a tratamentos. Também ocorreram avanços importantes nas indicações de uso da cannabis medicinal. A planta demonstrou impacto significativo na saúde mental, sendo eficaz no controle de ansiedade, depressão e insônia.

Além do progresso em áreas como dermatologia, com canabinoides tópicos para tratar condições como psoríase, dermatite e envelhecimento da pele. Na odontologia, houve eficácia no manejo de dores orofaciais crônicas e em áreas como a odontologia do sono. Inclusive, a regulamentação da prescrição veterinária possibilitou o uso de produtos à base de cannabis no tratamento de dores crônicas, inflamações e ansiedade em animais.

Diante de tantos avanços, resolvi elencar as quatro principais novidades do mercado da cannabis medicinal que aconteceram em 2024:

– Revisão da RDC 327/2019: a Anvisa evoluiu no processo de revisão, prevendo mudanças (inclusão de farmácias de manipulação, ampliação de formas farmacêuticas disponíveis e revisão dos limites de THC). O avanço demonstra maior enfoque e ampliação do acesso no setor, refletindo um esforço para ampliar o acesso e fortalecer o setor.

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– Inclusão da Cannabis na Farmacopeia Brasileira: a aprovação da monografia da Cannabis Sativa trouxe reconhecimento formal da planta como medicinal, consolidando sua posição no mercado de medicamentos.

– Lei pioneira em Santa Catarina: Santa Catarina aprovou a primeira lei estadual que considera as associações no fornecimento de produtos de cannabis pelo SUS, fortalecendo a participação de pacientes e associações no processo regulatório e de distribuição.

– Decisão do STJ sobre cultivo medicinal: o STJ validou o cultivo de cannabis por instituições com fins medicinais e estabeleceu um prazo para regulamentação, garantindo maior segurança jurídica e incentivando a produção nacional.

Por outro lado, nem tudo são flores. Apesar das novidades e do progresso no mercado de cannabis medicinal, ainda há lacunas que poderiam ter sido preenchidas. O apoio federal permanece ausente, com uma omissão em criar políticas abrangentes que uniformizem o acesso à cannabis medicinal no Brasil. A produção nacional de insumos farmacêuticos também continua insuficiente, com apenas 5% dos insumos utilizados sendo produzidos localmente, o que mantém o país dependente de importações.

A consulta pública para a revisão da RDC 327/2019 trouxe algumas atualizações limitadas e manteve restrições significativas, como a proibição da manipulação de derivados de cannabis não isolados em farmácias. Outro ponto crítico foi a exclusão das associações do processo de debate e revisão, desconsiderando o papel essencial que desempenham no fornecimento e desenvolvimento de tratamentos.

Aliado a isso, a decisão do STJ que autoriza o cultivo de cannabis foi restrita ao canabidiol (CBD), ignorando a necessidade de tetraidrocanabinol (THC) em terapias para condições como dor crônica, esclerose múltipla e epilepsias refratárias. Essas limitações deixam lacunas no acesso a tratamentos abrangentes e efetivos, especialmente para pacientes que dependem da combinação de CBD e THC para melhores resultados terapêuticos.

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Sabemos que o caminho é longo até chegarmos em uma ampliação de políticas públicas benéficas para a cannabis medicinal e até mesmo na diminuição do preconceito contra a planta. No entanto, o saldo de 2024 foi bastante positivo, impulsionado por um crescimento significativo no mercado e avanços regulatórios significativos, como a inclusão da cannabis na Farmacopeia Brasileira e a expansão do fornecimento pelo SUS.

Esses marcos consolidaram a cannabis como uma alternativa terapêutica acessível e eficaz disponível em nosso país. Mas considero extremamente fundamental termos claro de que ainda existem muitos desafios que limitam o pleno potencial desse setor. Ainda assim, o aumento de estudos científicos reforçam a perspectiva de um futuro promissor para a cannabis medicinal no Brasil.

Pedro Sabaciauskis é fundador e presidente da Santa Cannabis, uma associação sem fins lucrativos que busca fomentar os estudos da cannabis medicinal em pacientes com indicação para o uso, assim como a distribuição legal de CBD e THC medicinal.

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ARTIGO

A leitura de literatura e a saúde mental das crianças

A saúde mental das crianças nunca esteve tão fragilizada como está agora!

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Dr. Francisco Neto Pereira Pinto é Professor Universitário, Psicanalista e Escritor.

Neste janeiro branco, mês dedicado à conscientização da saúde mental e emocional, esta afirmativa nos convida a refletir sobre a situação desse público tão singular que, cada vez mais cedo, está experimentando as dores do adoecimento psíquico. Nesse sentido, o psiquiatra e psicanalista brasileiro Joel Birman, em seu texto A juventude na atualidade, diz que as crianças e os adolescentes estão vivenciando um estado de desamparo sem precedentes e estão cada vez mais vulneráveis a traumas variados.

Nesse cenário, a leitura de literatura pode contribuir e muito para promover a saúde mental dos pequenos. A renomada antropóloga francesa, Michele Pètit, que dedicou grande parte de sua carreira a trabalhar com crianças refugiadas e em contextos de guerra, enfatiza o poder transformador da leitura. Em suas experiências, ela testemunhou inúmeras vezes como a simples leitura de textos, trechos ou mesmo de fragmentos pode resgatar crianças e adolescentes da prisão de cenas traumáticas. Para Pètit, essas leituras são uma ferramenta poderosa para que os jovens possam ressignificar suas experiências, dando nome a angústias e dores que ameaçam sua saúde psíquica.

Outro estudioso dedicado à educação e à saúde das crianças, o psicanalista Bruno Bettelheim, acrescenta que a literatura infantil é um dos melhores recursos disponíveis para ajudar as crianças a atribuir significado às suas vivências e encontrar propósito na vida. Essas visões destacam a importância da leitura como um instrumento essencial para o desenvolvimento emocional e psicológico dos jovens, até mesmo em contextos adversos.

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A prática da leitura de literatura infantil pode começar ainda na gestação, quando os pais leem para o bebê que está na barriga. À medida que a criança cresce, essa atividade pode continuar de forma prazerosa e educativa. Enquanto o adulto se guia pelos textos, o pequeno pode acompanhar pelas imagens, o que promove uma interação rica e estimulante. Não é necessário que os pais se preocupem em ser fiéis à história; a imaginação pode fluir livremente, tanto a dos adultos quanto a das crianças.

É fundamental que a leitura não seja imposta como uma obrigação, mas que a criança tenha a liberdade de se expressar, mesmo antes de adquirir fluência na linguagem. Os pais podem ainda dar vida às histórias com encenações e dramatizações, tornando o momento mais lúdico e envolvente. E se a criança pedir para repetir a mesma história várias vezes, isso deve ser encarado positivamente, pois indica uma conexão significativa e um impacto emocional profundo para ela.

Para quem deseja iniciar ou enriquecer a leitura de literatura infantil em casa, diversas sugestões podem ser exploradas, abrangendo clássicos internacionais e brasileiros, de autores de diferentes épocas e estilos. Entre os recomendados estão nomes consagrados como Charles Perrault, Irmãos Grimm e Hans Cristian Andersen, cujas histórias encantam gerações. Representando a rica produção nacional, destacam-se Monteiro Lobato, Lygia Bojunga, José Mauro de Vasconcelos, Ziraldo, Ana Maria Machado, Ruth Rocha, Pedro Bandeira, dentre outros, que oferecem narrativas envolventes e significativas.

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Autores contemporâneos como Ilan Brenman, Otávio Júnior, Daniel Munduruku, Eliane Potiguara e Francisco Neto Pereira Pinto também merecem atenção, proporcionando uma vasta gama de obras que dialogam com a atualidade e com a diversidade cultural. Muitos desses títulos estão disponíveis na Amazon, facilitando o acesso a essa valiosa fonte de conhecimento e entretenimento para crianças e adultos, que é a literatura infantil.

Boa saúde mental para todos!

Dr. Francisco Neto Pereira Pinto é Professor Universitário, Psicanalista e Escritor. Autor dos livros À beira do Araguaia; Saudades do meu gato Dom, O Gato Dom e Você vai ganhar um irmãozinho, todos disponíveis na Amazon. @francisconetopereirapinto

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