Vale do São Patrício
Ceres e Rialma: Lembranças, saudade e paz, marcam visitas do Dia de Finados
A data remete ao luto, à saudade e a homenagens aos mortos. Traz também variados aspectos religiosos e culturais que são aplicados em diversas partes do globo.
Neste feriado do Dia de Finados, desde as primeiras horas deste sábado (2), o Cemitério dos Verdes Vales em Ceres e o Cemitério Municipal de Rialma foram visitados por parentes, amigos e admiradores daqueles que já partiram.
Nesta data, cada luto sendo memorável de um jeito diferente, alguns com orações, outros com cânticos, acendendo velas e alguns deles com toda a família reunida em clima de recordações felizes.
A data remete ao luto, à saudade e a homenagens aos mortos. Traz também variados aspectos religiosos e culturais que são aplicados em diversas partes do mundo.
Essa data do Dia de Finados também foi oportunidade para dezenas de ambulantes que se mobilizaram no entorno dos cemitérios com a venda de velas, ornamentos, água e alimentos.
“Cuidando, limpando e rezando para coisas boas virem. Saudade, lembrança, saudade, a gente vive ao mesmo tempo triste pela perda, mas a vida continua. A gente só sabe que tem a vida e depois a morte. Temos que ajudar as pessoas para que consigamos melhores dias futuros”, disse um leitor do JORNAL DO VALE que esteve hoje no Cemitério dos Verdes Vales em Ceres.
Visitas antecipadas
A visita a entes falecidos, tradição do feriado de Dia de Finados, foi antecipada por muitos em Ceres e Rialma. Seja por costume ou para evitar tumultos, familiares e amigos movimentaram o espaço público. A percepção dos comerciantes que vendem flores e artigos de homenagem na porta do local é de que o movimento está parecido com os anos anteriores.
Um leitor do JORNAL DO VALE preferiu ir ao Cemitério dos Verdes Vales na sexta-feira (1º) para evitar tumultos. “Vir um dia antes é bem mais tranquilo e tem o mesmo sentimento”, mencionou.
Entenda a origem e as celebrações em torno da data
O feriado de Finados celebrado aqui no Brasil e também em alguns países nesta data do dia 2 de novembro. A data também traz variados aspectos religiosos e culturais que são aplicados em diversas partes do mundo.
A data comemorativa é muito antiga no calendário católico. Em um artigo publicado em 2010 pela antropóloga Misia Reesink, ela nos endereça o Dia de Finados ao início no século 11, sendo o dia designado pela Igreja Católica como data em que a Igreja Militante, ou seja, os vivos católicos, se lembra e se apieda da Igreja Penitente, que são as almas ainda não completamente salvas.
Em relação à origem das comemorações, a festa foi instaurada pelo abade Odilon, de Cluny, na França, por volta de 1030, expandindo-se, em pouco tempo, por todo o mundo católico como celebração de seus mortos.
O Dia de Finados tornou-se especial, dedicado à memória das pessoas que faleceram, cabendo aos vivos a iniciativa de ressignificar, ano após ano, os laços para com seus parentes e amigos na ida aos cemitérios, ao visitar os túmulos (tradição forte católica) e frequentar uma missa para “entregar” a alma da pessoa falecida.
Celebrações pelo mundo
O Dia de Finados é uma celebração universal, tendo as suas peculiaridades de acordo com o contexto no qual o grupo ou o indivíduo está inserido. Serve como um momento de relembrar o amigo, parente ou pessoa do convívio que morreu. É fácil perceber essa importante peculiaridade ao pensarmos no filme mexicano “A Vida É Uma Festa” [2017], em que os mexicanos celebram os Dia dos Mortos [Finados] de maneira mais festiva e colorida.
No filme é possível perceber que os mexicanos, diferentemente dos brasileiros, festejam os mortos com flores, retratos das pessoas mortas e pequenas oferendas com velas, além da exposição de caveiras pintadas com cores contrastantes. Por lá, a data é conhecida como Dia de Los Muertos. Também faz parte do ritual dos mexicanos escutar músicas que relembrem seus entes queridos.
A mistura entre as culturas cristã e pré-colombianas – que ocupavam a América antes da chegada dos europeus – acrescentou novos ritos ao Dia de Finados. Em alguns lugares, o Dia dos Mortos é uma expressão cultural das mais importantes e atração turística.
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Cultura
Jaraguá: Descoberta arqueológica é legado para história goiana
O trabalho na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em obras de restauração e requalificação, revela cemitério de mais de 200 anos.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, em Jaraguá no Vale do São Patrício, surgido em 1736, foi erguida 40 anos depois, em 1776, pela irmandade de negros de Nossa Senhora do Rosário e São Benedito. Em seus 248 anos, recebeu obras de manutenção, mas nada tão grande como a que vem sendo executada agora, dentro do projeto Fé, Religiosidade e Devoção, da Secretaria de Estado da Cultura (Secult). O trabalho de restauração e requalificação revelou um grande cemitério com restos mortais possivelmente de africanos escravizados e negros libertos, formado por mais de 200 anos na avaliação de arqueólogos.
A obra, que começou em maio deste ano e está sob a responsabilidade da empresa de engenharia, vencedora do processo licitatório, e tem contribuído para trazer à luz um pouco da história de um dos mais antigos municípios do Estado.
A igreja de arquitetura colonial foi erguida em um terreno em aclive e ao longo dos anos ganhou estruturas urbanísticas a seu redor. Sob o calçamento externo, foram retiradas, em novembro, 35 ossadas humanas, para dar passagem ao canal de drenagem que vai escoar águas pluviais, uma obra necessária para evitar impactos na parte estrutural do templo.
A retirada do assoalho de madeira no interior da igreja também mostrou a existência de 56 campas funerárias, todas numeradas. Ali não houve trabalho de escavação arqueológica e tudo será mantido como foi encontrado. “Será preservado como era antes, embora estruturas de concreto estejam sendo instaladas sob o assoalho para garantir maior durabilidade do piso de madeira”, explica Lucas de Araújo, arquiteto da prefeitura, que tem acompanhado de perto a obra.
Uma outra intervenção importante ocorreu na parede frontal, que estava inclinada e precisou ser refeita com o mesmo material vernacular retirado da igreja, trabalho que exigiu o olhar atento do mestre de obras João Filho da Silva.
A Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos remete ao surgimento de cidade de Jaraguá, que, segundo a historiadora Dulce Madalena Rios Pedroso, “nasceu sob o signo do ouro”. A exploração aurífera começou com negros faiscadores, que eram hábeis em encontrar minas. Naqueles idos, lembra a arqueóloga do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) Margareth de Lourdes Souza, as igrejas eram os locais de sepultamento. “Acredito que seja uma área densamente ocupada e com sepultamentos sobrepostos. Tudo isso tem relevância porque contribui para o conhecimento da história local.” A igreja é tombada pelo Iphan desde 1959 e o órgão tem fiscalizado as intervenções.
O trabalho é minucioso. O telhado foi trocado e as esquadrias de madeira (portas e janelas) substituídas, preservando as características originais. Além de renovar a parte hidráulica e elétrica, no interior serão restaurados os bens artísticos, como o altar-mor, o forro da capela-mor, o altar lateral, o arco cruzeiro, o púlpito e o coro.
O arquiteto Lucas de Araújo ressalta que o templo erguido por negros no período escravocrata é um dos últimos de matriz africana ainda de pé em Goiás, a exemplo da Igreja de Santa Efigênia, em Niquelândia. Além de receber recursos de acessibilidade, banheiros serão construídos na área externa, sem interferir na fachada histórica.
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