Opinião
Confiança é joia rara
De fato, a comunicação e negociação envolvem a habilidade da cortesia. É preciso saber embrulhar para presente as verdades, paradigmas e perspectivas que carregamos. Caso contrário, se trata apenas de uma pedra que, atirada no interlocutor, embora possa ser rara e extremamente valiosa, causará danos.
Alguns ativos são extremamente valiosos e intangíveis, a exemplo do tempo e da confiança. Levamos tempo para construir confiança e ela pode se deteriorar em questão de segundos. Além do tempo, quais são os ingredientes necessários para a construção da confiança?
Gosto de pensar que ela é sinônimo de reputação e se constrói aos poucos com as habilidades da comunicação e da negociação que resumo em 6 Cs. Vejamos cada um deles.
Os 3Cs da Comunicação são amplamente conhecidos na literatura da matéria. O primeiro é a Clareza. Sem ela, não há diálogo compreensível, nem transparência. O segundo é Coerência, ou seja, o alinhamento entre o que se fala e o que se faz, base do princípio da integridade. E o terceiro é a Constância, pois com ela se vai mais longe, não se trata de “fogo de palha”, nem de “voo de galinha”, mas sim de algo consistente porque o esforço se prolonga no tempo. Essa habilidade também envolve a competência de levantar mais rápido quando se cai, ou seja, de corrigir os erros com agilidade e não de tentar ser perfeito.
Os 3Cs da Negociação são inspirados no livro É Possível de Willian Ury. O primeiro é a Criatividade, pois precisamos ser criativos para encontrar opções que não estão claras para todos. O segundo é a Curiosidade. Ser curioso sobre o que o outro pensa auxilia no processo de negociação, economiza tempo e dinheiro. Envolve a habilidade de saber fazer perguntas para entender a perspectiva do outro. A terceira é a Colaboração. Trabalhar junto no processo de “ganha-ganha” onde todos saem melhores do que chegaram no encontro ou no diálogo.
Como gosto muito de metáforas, imaginei algo que tivesse seis faces e fosse muito valioso. A imagem veio rápido na minha mente: um diamante. A comparação é ideal pois se trata de uma pedra rara, valiosa e que se não for entregue com gentileza machuca.
De fato, a comunicação e negociação envolvem a habilidade da cortesia. É preciso saber embrulhar para presente as verdades, paradigmas e perspectivas que carregamos. Caso contrário, se trata apenas de uma pedra que, atirada no interlocutor, embora possa ser rara e extremamente valiosa, causará danos.
Assim é a confiança, uma joia rara construída aos poucos com as seis habilidades acima descritas. Se não for bem cuidada, lapidada, embrulhada para presente, pode se deteriorar.
Quando isso acontece, às vezes é possível restaurar, mas costuma levar o dobro do tempo em que foi construída. Há uma técnica japonesa interessante que é utilizada nesses casos: kinstsugi. Esse já é tema para outro artigo!
Cultivemos a jóia rara da confiança todos os dias. Ela é o maior redutor de complexidade das negociações, reduz os custos, aumenta a agilidade dos processos, fomenta a paz nas relações e amplifica a longevidade das organizações.
Melina Lobo é Conselheira de Administração e Advogada.
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ARTIGO
Proteger infraestruturas críticas nunca foi tão urgente
O aumento de ataques a empresas de saneamento, energia e gás expõe falhas críticas e exige defesas robustas.
Os ataques cibernéticos a empresas de utilities e infraestruturas críticas têm se multiplicado nos últimos anos, evidenciando a vulnerabilidade de setores fundamentais para a sociedade. Em novembro de 2024, uma empresa de saneamento de São Paulo foi alvo de um incidente que repercutiu na mídia e alertou sobre a fragilidade desse segmento. Um ano antes, em novembro de 2023, uma autoridade municipal de água na Pensilvânia, EUA, também enfrentou um ataque significativo. Esses casos são apenas exemplos de um problema muito mais amplo que abrange fornecedores de serviços de gás, energia e outras áreas essenciais.
Qualquer interrupção nos serviços oferecidos por essas empresas tem um potencial disruptivo capaz de gerar caos nas comunidades afetadas. Diante disso, a segurança cibernética dessas infraestruturas deve ser tratada com máxima prioridade. Especialistas têm explorado detalhadamente as defesas necessárias após incidentes recentes, destacando a importância da arquitetura de segurança cibernética em camadas — uma estratégia eficaz na mitigação de riscos.
Essa abordagem envolve múltiplas barreiras que protegem os sistemas de possíveis invasores, dificultando o acesso e minimizando impactos caso ocorra uma brecha. A implementação de soluções de monitoramento constante, autenticação multifator e segmentação de rede são alguns dos elementos cruciais para criar um ambiente seguro. Tais medidas são particularmente relevantes em setores de utilities, onde as consequências de um ataque podem ser desastrosas.
Análises de ataques em infraestruturas críticas têm ressaltado um ponto comum a diversos eventos: a subestimação do potencial destrutivo de ciberataques em empresas que, tradicionalmente, focavam mais na segurança física do que digital. Essa tendência de negligência pode ser catastrófica em um cenário onde hackers estão mais sofisticados e bem financiados.
Desde o Fórum Econômico Mundial em 2023, ficou claro que a cibersegurança em infraestruturas críticas ganhou nova relevância. O relatório final do evento destacou pela primeira vez os ataques a esses segmentos como um dos riscos mais críticos para a estabilidade global, superando as menções genéricas a ataques cibernéticos de anos anteriores. Isso reflete o crescimento da complexidade e do impacto potencial desses incidentes, que vão além da interrupção de serviços, afetando a segurança pública e a economia local.
A defesa contra ciberataques começa com a conscientização e a adoção de políticas de segurança robustas. Empresas de utilities precisam investir em treinamentos para suas equipes e contar com especialistas que possam identificar vulnerabilidades e aplicar correções rapidamente. A atualização de softwares e o uso de inteligência artificial para monitorar atividades suspeitas são outras práticas recomendadas.
Mais do que nunca, é essencial que empresas do setor colaborem entre si e com governos para criar um sistema de resposta rápida a incidentes. Esse tipo de colaboração tem sido destacado como um fator que pode determinar a diferença entre uma contenção eficaz e uma crise generalizada.
Os casos recentes de ataques são lembretes de que nenhuma empresa está imune aos riscos cibernéticos. O que está em jogo não é apenas a continuidade dos serviços, mas o bem-estar de comunidades inteiras. A segurança digital deve ser vista como prioridade estratégica e integrada ao planejamento de qualquer empresa que opere em setores críticos. É um investimento decisivo para prevenir colapsos e proteger a sociedade.
Sérgio Muniz é especialista em cibersegurança.
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