Opinião

Desastres de Cassandra

Para prefeitos, governadores, presidente, vereadores, deputados e senadores, um recado do Padre Zezinho: a decisão é tua, se ouvires a voz de Deus. Se ouvires a voz do mundo querendo te enganar, o trigo já se perdeu, cresceu, ninguém colheu, e o mundo passando fome, de paz, de pão e de Deus.

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Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

Nestes últimos anos, estamos testemunhando desastres naturais sem precedentes em diversas partes do mundo e em regiões inesperadas. No estado de São Paulo, em fevereiro, as mais fortes chuvas já registradas no litoral norte causaram inundações e deslizamentos de terra em áreas costeiras. Morreram 48 pessoas, muitas desaparecidas e foram 1.158 pessoas que perderam suas casas.

Neste mês de setembro, um ciclone extratropical atingiu os estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina, causando inundações, deslizamentos de terra e ventos fortes. O ciclone deixou pelo menos 47 mortos, 46 desaparecidos, cerca de mil feridos e mais de 25 mil pessoas desabrigadas.

Esses desastres não são fenômenos isolados, basta uma consulta rápida para ver que desde outubro de 2021 foram registrados 11 eventos causados por temporais no país, não incluídos os desse ano. Cerca de 500 pessoas haviam morrido em enchentes ou deslizamentos de terra e pedra. Os números são do Cemaden, Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais. Nesse período, o Brasil registrou os maiores volumes de chuva da história em 24 horas.

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As tempestades no Brasil ficaram muito mais fortes e frequentes nos últimos dois anos, e estão aumentando por causa das mudanças climáticas, segundo o Cemaden. E aumentando a vulnerabilidade e exposição das pessoas. Hoje, no Brasil, há 40 mil áreas de risco, onde mais de 10 milhões de brasileiros vivem.

O Cemaden foi criado em 2011, após a tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro, em janeiro daquele ano e é considerada a maior catástrofe climática do Brasil, que matou 918 pessoas, deixou 30 mil desalojados e 99 desaparecidos. O Cemaden está localizado em São José dos Campos, São Paulo, e gerencia radares meteorológicos, pluviômetros e previsões climáticas para prevenir eventos climáticos.

Os desastres naturais estão piorando pelo mundo todo. Mas, o mais surpreendente é que foram previstos há décadas pelos cientistas, e são poucos os que acreditam de verdade, já que não fazem nada. É a Síndrome de Cassandra, a personagem da Ilíada de Homero, troiana, filha do rei Príamo, irmã de Páris, que seduziu Helena e matou Aquiles com uma flecha no tendão. Cassandra tinha o dom da profecia mas ninguém acreditava nela. Os descrentes foram punidos com morte terrível.

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Apesar das evidências, as autoridades políticas ainda não fizeram nada. Ao contrário, mostram descaso. No orçamento federal, os valores destinados para prevenção de desastres naturais vem caindo, R$ 5 bilhões em 2014, R$ 2,8 bi nos dois anos seguintes, R$ 1,3 bi nos últimos dois e R$ 1,2 bi para este ano. Orçamentos baixos e nunca são totalmente gastos, nos últimos 13 anos, dos R$ 64 bilhões nos orçamentos, apenas R$ 40 bilhões foram investidos.

Para prefeitos, governadores, presidente, vereadores, deputados e senadores, um recado do Padre Zezinho: a decisão é tua, se ouvires a voz de Deus. Se ouvires a voz do mundo querendo te enganar, o trigo já se perdeu, cresceu, ninguém colheu, e o mundo passando fome, de paz, de pão e de Deus.

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

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ARTIGO

Interação justa entre varejo e indústria têxtil é crucial na era da sustentabilidade e digitalização

As discussões e conclusões do encontro oferecem valiosos insights para aprimorar a interação de nossa indústria tanto com varejistas nacionais quanto com os compradores internacionais. É importante ressaltar que o modelo tradicional de negócios em nosso setor frequentemente impõe exigências excessivas aos fabricantes, incluindo alterações de última hora em pedidos já confirmados, prazos de pagamento muito longos, pressão constante por preços cada vez mais baixos, ausência de compromissos duradouros e falta de planejamento colaborativo.

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Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e Camila Zelezoglo é gerente de Sustentabilidade e Inovação da Abit.

A relação entre o varejo e a indústria têxtil e de confecção representa um pilar fundamental para o funcionamento saudável de toda a cadeia de moda. No entanto, as práticas comerciais atuais têm gerado tensões que impactam não apenas os negócios, mas também milhões de trabalhadores globalmente. Essa questão foi o foco principal do “Fórum on Due Diligence in the Garment and Footwear Sector”, realizado em fevereiro deste ano, em Paris, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

As discussões e conclusões do encontro oferecem valiosos insights para aprimorar a interação de nossa indústria tanto com varejistas nacionais quanto com os compradores internacionais. É importante ressaltar que o modelo tradicional de negócios em nosso setor frequentemente impõe exigências excessivas aos fabricantes, incluindo alterações de última hora em pedidos já confirmados, prazos de pagamento muito longos, pressão constante por preços cada vez mais baixos, ausência de compromissos duradouros e falta de planejamento colaborativo.

Tais condições adversas geram consequências prejudiciais para todos os envolvidos. Para a indústria, resultam em instabilidade financeira, dificuldade no planejamento produtivo, investimentos limitados em tecnologia e inovação e, por vezes, comprometimento dos padrões de excelência. Os trabalhadores também são afetados. O próprio varejo sofre com problemas de qualidade, atrasos nas entregas, alta rotatividade de fornecedores e riscos à sua reputação.

A propósito, vale observar os dados de 2024 referentes aos prazos das encomendas dos varejistas aos fabricantes, apresentados na Première Vision, em novembro último, pelo Instituto Français de la Mode. O aprovisionamento de longo prazo (seis meses ou mais antes da estação) representou 48% do total, enquanto o médio prazo (seis meses ou menos antes da estação) foi de 33% e o curto prazo (dentro da estação), 19%.

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A criação e adoção voluntária de práticas comerciais mais equilibradas podem melhorar o panorama da cadeia de valor, proporcionando benefícios significativos para todos. O planejamento colaborativo emerge como elemento crucial, abrangendo o estabelecimento conjunto de previsões de demanda, compartilhamento transparente de informações de mercado, definição clara de calendários de desenvolvimento e produção e compromissos de volume consistentes e de longo prazo. A precificação justa desempenha papel igualmente determinante, considerando os custos reais de produção, garantindo margens adequadas para investimentos em melhorias, chancelando o valor agregado e promovendo negociações transparentes.

Para a indústria, esses avanços significam maior estabilidade financeira, capacidade de investimento em inovação, desenvolvimento de produtos diferenciados e relacionamentos comerciais duradouros. Os trabalhadores beneficiam-se com melhores condições laborais e oportunidades mais amplas de crescimento profissional. O varejo, por sua vez, obtém produtos de maior qualidade, fornecedores mais comprometidos, cadeias de suprimento mais confiáveis e melhor reputação corporativa.

A revisão dos processos interativos deve considerar as transformações disruptivas pelas quais o setor têxtil e de confecção está passando globalmente. A digitalização avança rapidamente, viabilizando sistemas integrados de planejamento, plataformas colaborativas avançadas, rastreabilidade completa da cadeia de suprimentos e métricas precisas de desempenho. Ao mesmo tempo, a sustentabilidade impõe-se como imperativo estratégico. Fibras regeneradas, tecnologias de reciclagem mecânica e química, além de novas regulamentações ambientais, estão inaugurando uma nova era para nossa atividade.

​Nesse cenário dinâmico, a construção de relações comerciais mais equilibradas entre varejo e indústria têxtil não representa apenas uma questão ética, mas uma necessidade estratégica para a sustentabilidade do setor. A adoção proativa de melhores práticas comerciais pode criar um círculo virtuoso benéfico para toda a cadeia produtiva, desde os trabalhadores nas fábricas até o consumidor final.

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O Brasil detém condições singulares para liderar esse movimento transformador, por contar com todos os elos da cadeia produtiva e distributiva integrados em seu território. As empresas que encabeçarem as mudanças contribuirão para que o setor seja mais sustentável e se destacarão, pois se posicionarão competitivamente em um mercado cada vez mais consciente e exigente.

​O estabelecimento de modelos comerciais mais justos representa um investimento estratégico no futuro do setor, criando alicerces sólidos para inovação, crescimento sustentável e relações comerciais duradouras. À medida que mais empresas adotem voluntariamente essas práticas, será consolidado um novo paradigma de mercado, demonstrando ser possível harmonizar sucesso comercial e econômico com responsabilidade social e sustentabilidade ambiental.

Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e Camila Zelezoglo é gerente de Sustentabilidade e Inovação da Abit.

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