Opinião
Esteja atento aos sinais de depressão em idosos
A depressão no idoso é um fator muito sério.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), pelo menos seis a cada 100 pessoas, entre 65 e 74 anos, serão diagnosticadas com depressão. Além disso, estima-se que 85% dos idosos residentes em países em desenvolvimento não têm acesso a tratamento de saúde adequado para a depressão.
A depressão tem diferença entre idosos e pessoas de outras idades. Trata-se de um transtorno mental que pode ocorrer em qualquer faixa etária. No adulto é muito comum ter queixas de humor deprimido, sentimentos de desvalor, sentimento de desamparo, culpa e uma incapacidade de lidar com alguns problemas no dia a dia.
Já no idoso a recorrência das queixas é um sofrimento sem uma justificativa, percebemos um idoso mais apático nas suas funções diárias, além de queixas recorrentes de dores físicas e tonturas. Porém, quando a pessoa mais velha busca um médico não existe justificativa para tais sintomas, não se fecha um diagnóstico, e com isso já se pensa em sinais e sintomas dentro de um quadro depressivo.
A depressão no idoso é um fator muito sério. Existe um tabu que o idoso não tem ou não sofre com depressão. Muitas pessoas cometem o suicídio e entre eles estão os idosos. Temos dois fatores de risco que são os biológicos e os socioambientais que podem levar à depressão em idosos.
No fator biológico existe a redução de neurotransmissores recorrente da idade, alguns medicamentos que propiciam a depressão como efeito colateral. Nós temos a depressão vascular, que é pouco falada, e é uma doença do cérebro que vai atingir os vasos sanguíneos. Além disso, temos as dores crônicas e as doenças físicas.
No quadro socioambiental é relacionada à aposentadoria. Muitos idosos que entram em quadro de depressão vem logo após a aposentadoria. Isso acontece porque existe uma diminuição significativa da renda. E isso faz com que esse idoso fique ocioso. Além disso, esse idoso fragilizado, aposentado, pode sofrer com a negligência dos filhos e isso colabora com o estado de tristeza. Outros fatores podem ser a saída dos filhos de casa, além de alguns lutos com a perda de pessoas próximas, parentes ou o cônjuge.
Já enfrentamos um preconceito muito grande com o envelhecer. Nós estamos inseridos numa cultura que reforça padrões em que devemos nos manter jovens. Não é normal envelhecer mal-humorado ou zangado. Esteja atento caso isso aconteça.
A população idosa tem uma resistência maior em buscar ajuda. Ainda existe um estigma na sociedade sobre o tratamento da saúde mental. Hoje temos mais espaço para falar sobre esses assuntos, mas o preconceito ainda é grande, pois ainda existe o receio de serem rotulados como transtornados ou loucos. Esse idoso vai resistir muito mais que um adulto, um adolescente ou um jovem. Ele acredita que vai dar conta da doença ou que é algo passageiro.
Nesse momento é fundamental a ajuda da família. Primeiro, porque vai identificar o problema. Segundo, porque vai apoiar na busca por tratamento. Vale ressaltar que os parentes próximos também vão acompanhar nas consultas. Por exemplo, caso tenha alguma resistência do idoso, a família acompanha, incentiva e retira as desconstruções relacionadas a essa crença de que quem cuida da saúde mental são os transtornados ou loucos. É importante reforçar que cuidar da saúde mental é necessário em qualquer idade.
Em relação ao tratamento, há casos que não acumulam muitas patologias ou comorbidades. É importante incentivar a pessoa a estar mais presente socialmente, fazer caminhadas, praticar algum esporte, melhorar o físico e estar ativo socialmente. Além disso, ele deve procurar uma psicoterapia ou terapias alternativas como musicoterapia e dançaterapia, o que permite a pessoa estar mais ativa.
Caso essas terapias não funcionem, sugiro procurar um psiquiatra para inserir medicações. A família é muito importante nesse momento no olhar e no cuidado. Qualquer desconfiança de um quadro depressivo, busque um psicólogo.
Alessandra Augusto é formada em Psicologia.
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ARTIGO
PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.
A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.
A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.
A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.
Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.
André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).
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