Opinião
Falta clima no mercado de capitais
Apesar de estarmos vivenciando uma crescente de negócios voltados ao desenvolvimento de soluções sustentáveis focadas em impulsionar uma economia verde, com baixa emissão de carbono e mitigar impactos das mudanças climáticas, a destinação de recursos às tais climate techs é ainda baixa.
Quando nos deparamos com a tragédia no Rio Grande do Sul, é válida a reflexão sobre como podemos mitigar ou até mesmo evitar novas tragédias climáticas por meio de uma maior exposição de negócios de impacto ambiental ao mercado de capitais.
Apesar de estarmos vivenciando uma crescente de negócios voltados ao desenvolvimento de soluções sustentáveis focadas em impulsionar uma economia verde, com baixa emissão de carbono e mitigar impactos das mudanças climáticas, a destinação de recursos às tais climate techs é ainda baixa.
Globalmente, os investimentos no setor atingiram cerca de US$ 70,1 bilhões em 2022, mas retrocederam 30% no ano passado, o que já é sinal de alerta. Na América Latina, a exposição desses ativos ao mercado de capitais ainda é irrisória.
Atualmente, a principal categoria de negócios associada a investimentos sustentáveis é a de veículos elétricos: o setor de transportes representa 16,2% da emissão de gases de efeito estufa, de acordo com um levantamento da KPMG.
Apesar disso, mais da metade dos investimentos em climate tech entre 2015-2020 foram destinados a esse mercado, uma participação desproporcional frente a outras indústrias em que o impacto ambiental é bastante superior.
De acordo com Jamil Wyne, fundador do Climate Tech Bootcamp, isso acontece graças ao viés da familiaridade, que nos torna mais propensos a investir em negócios que temos maior facilidade em compreender.
Enquanto a maior parte dos investimentos climáticos é destinada a tecnologias familiares (como os veículos elétricos), apenas 7,5% dos investimentos entre 2019 e 2020 foram para startups que ajudam a sociedade a se preparar para os impactos das mudanças climáticas. Segundo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, há uma escassez de até US$ 366 bilhões para projetos que poderiam ajudar a sociedade a se adaptar ao novo mundo.
Desde 2010, o número global de climate tech mais do que quadruplicou. Se acreditamos no potencial do mercado de capitais de desenvolvimento econômico e social do país, e também na necessidade urgente de adaptação da sociedade para as mudanças climáticas, que afetam principalmente populações e países de maior vulnerabilidade social, é o momento de nossa carteira de investimentos traduzir essas crenças.
Camila Nasser é cofundadora e CEO do Kria, que é uma das principais plataformas de investimento em startups.
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ARTIGO
PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.
A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.
A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.
A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.
Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.
André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).
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