Opinião

O etanol do Brasil na luta contra mudanças climáticas

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São relevantes e estratégicas as informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, de que o Brasil ampliou o número de destinos das exportações de etanol de 19 para 37 países, entre 2019 e 2020. Evidencia-se, nessas estatísticas, que o mundo vai reconhecendo aos poucos a importância de nosso álcool como insumo energético e industrial mais limpo. Um produto de fonte renovável e biocombustível fundamental para a agenda de proteção ambiental, combate às mudanças climáticas e crescimento econômico baseado na sustentabilidade.
É interessante notar que alguns dos mercados reapareceram entre os principais compradores, depois de muito tempo excluídos das nossas vendas externas de etanol. É o caso da China e da Arábia Saudita, países para os quais o Brasil embarcou, em 2020, 15 milhões e 11,6 milhões de litros, respectivamente. Destino inédito foi a Venezuela, que importou 6,9 milhões de litros.
Verificaram-se, também, aumentos na participação de diversas nações em nossas exportações, como Coreia do Sul, que respondia por 27,1% das compras, passando a 35,6%, e Holanda, que saltou de 3,5% para 10,1%. Num conjunto de compradores individualmente menos expressivos, a expansão foi de 3,7% para 13,7% do volume total. Os embarques para a Coreia do Sul cresceram 84% e quadruplicaram no caso da Holanda. Dentre as razões para tais resultados está o aumento na demanda por álcool para produção de itens sanitários.
A ampliação do número de destinos reduz a dependência dos norte-americanos como compradores de nosso etanol. Para dimensionarmos com clareza o significado da nova tendência de diversificação, basta analisarmos alguns números: os Estados Unidos representaram entre 50% e 60% do volume de etanol que o Brasil vendeu ao mercado externo nos últimos cinco anos. Em 2020, porém, sua participação caiu para 36%, de acordo com a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Outra boa notícia é que, na safra 2020/2021 de cana-de-açúcar, estamos registrando avanços expressivos na implantação da Política Nacional de Biocombustíveis (Renovabio): 85% da produção nacional de etanol estão certificados e há recorde na oferta da matéria-prima. Nesta primeira temporada sob as diretrizes do programa, 65% das empresas brasileiras produtoras estão qualificadas a emitir créditos de descarbonização (CBios). Hoje, são 215 unidades produtoras, que comercializaram cerca de 20 bilhões de litros do biocombustível na safra 2019/2020.
É gratificante constatar que mais de 17 milhões de CBios já foram registrados até 22 de dezembro de 2020, dos quais 80% haviam sido adquiridos para o cumprimento das metas pelas distribuidoras. A expectativa da União da indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) é de que, na safra 2020/2021, o número atinja 23 milhões de CBios.
Cada vez mais, o etanol do Brasil vai se consolidando como o biocombustível referencial da conversão do Planeta à economia sem combustíveis fósseis. Os mercados vão percebendo isso, cientes de que nosso produto tem origem sustentável e certificada e, além de reduzir muito a emissão de carbono na queima, contribui para seu sequestro na atmosfera, por meio dos CBios. Nosso país, queiram ou não, é protagonista na luta da humanidade contra as mudanças climáticas.
João Guilherme Sabino Ometto é engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos – EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).

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ARTIGO

PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação. 

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André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.

A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.

A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.

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A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.

Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.

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A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).

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