O Vilão que mata a fome e salva a Economia Brasileira

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Desserviço. Isso é o que a classe artística presta quando fala mal do que não conhece: a agropecuária brasileira. Produtor rural desmata, maltrata bicho e envenena os alimentos com produtos químicos. Um discurso reto, ideológico, mas que não traz clareza alguma à sociedade. Pelo contrário: distorce a realidade; difama quem mata a fome e trabalha para o crescimento do País; permite que os leigos permaneçam na ignorância e dá munição para que a concorrência do mercado internacional deite e role em cima de um discurso mentiroso.

Então, com todo o respeito que tenho pelo artista, porque também dedico o meu tempo à arte, sugiro que estude a agropecuária brasileira antes de bradar bobagens. Como formador ou formadora de opinião pública, você, artista, que se diz ativista, mas não estuda a questão a fundo, está cometendo uma injustiça com os profissionais da agropecuária brasileira ao proliferar tanta besteira.
Eu não estou aqui para defender e passar a mão na cabeça de produtor rural que não faz a lição de casa, ou seja, que não se preocupa em produzir com responsabilidade, sustentabilidade e nem dosar a aplicação de defensivo agrícola. Mas é no mínimo uma irresponsabilidade colocar todo mundo no mesmo balaio.

A sociedade brasileira tem que criar vergonha na cara e parar com essa modinha, porque virou modinha, da ditadura dos extremos: ou é do bem ou é do mal. Não existe uma apuração dos fatos, um aprofundamento, um estudo de caso e uma reflexão para que sejam levados em conta os prós e contras de uma questão. Não, não existe isso.

O que existe é posar de bacana, de intelectualóide, abraçar uma causa para se manter firme e forte na mídia e detonar um setor inteiro sem saber o que este mesmo setor faz de bom para o País. Então, eu pergunto: você sabe o que a agropecuária faz pelo Brasil? Vou resumir: carrega a economia nas costas e, repito, coloca comida na sua mesa. Só isso.

E ainda assim, você sai ofendendo o produtor rural, dizendo que ele não presta. Imagine se alguém fizesse isso com a sua arte? Consegue imaginar? Você, que é mais jovem, já ouviu dizer que na década de 60 quem fazia cinema ou televisão não prestava e era discriminado? Percebe que estamos fazendo a mesma coisa com o produtor rural? E de maneira injusta, por meio de ilações.
Você sabia que o setor agropecuário brasileiro é o que possui o código florestal mais rígido do mundo? Pois é, o produtor rural não tem direito a fazer empréstimo no banco se não estiver em dia com as obrigações ambientais. Ao contrário do artista que recebe subsídio do governo para produzir espetáculos.

Quer mais um exemplo? O produtor rural também não pode plantar ou criar se não tiver uma APP (Área de Preservação Ambiental) estabelecida por lei. Pergunta: alguém proíbe você de fazer a sua arte por alguma razão?

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Vamos em frente: você sabia que mais de 66% da vegetação nativa brasileira é preservada e que desse total mais de 20% são preservados graças ao produtor rural? Nos Estados Unidos inteiro, que tem 1 milhão e 318 mil quilômetros quadrados de território a mais que o Brasil, são preservados apenas 19,9%. Faça as contas: a fatia de preservação ambiental do produtor rural brasileiro é maior do que a parte de preservação dos Estados Unidos inteiro.

E vocês ficam aí achando que os Estados Unidos são o melhor País do mundo quando vão para a Disney ou fazer compras em Miami. Nada contra em fazer compras em Miami. Eu também já fiz compras em Miami, é bem mais em conta, mas eu não me esqueço de ter a consciência de que, quando o assunto é preservação ambiental, o Brasil dá uma surra, leva a nocaute, muitos países de primeiro mundo.

E o que o setor gera de riqueza e emprego aqui dentro? Fique sabendo que só a pecuária gera mais de 3 milhões de empregos e junto com o agronegócio representa 31% do PIB. Ambos, pecuária e agronegócio, são responsáveis pelo superávit da balança comercial, que totalizou mais de U$ 77 bilhões só em 2016 e estamos em 2018, ou seja, estes números devem ser bem maiores porque é um setor que cresce cada ano.

O Brasil é hostilizado por ser um dos maiores consumidores mundiais de defensivo agrícola – batizado pejorativamente de agrotóxico – por um motivo lógico: o Brasil é um dos países que mais produzem comida no planeta; logo, é óbvio que será um dos que mais utilizam defensivos. Mas não é porque usa o produto em grande quantidade, gente, mas porque produz mais comida do que os outros países, consegue compreender a diferença?

Nós, da classe artística, defendemos o combate à fome na África, mas, contraditoriamente, jogamos contra e ofendemos aquele que é capaz de acabar com a fome no mundo, que é o produtor rural. Só ele pode acabar com a fome de alguém; inclusive, a minha e a sua fome. Todo santo dia, logo que acordamos, tomamos café da manhã para conseguirmos trabalhar direito, porque saco vazio não para em pé, segundo a sabedoria popular.

O Brasil é apontado pela Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (a FAO) como o celeiro que vai alimentar o mundo, mas o que deveria ser motivo de orgulho vira pauta de desmatamento.

Outro dia assisti ao filme Okjja, uma produção sul-coreana-americana de 2017, e quase fui picada pelo bichinho da hipocrisia. O roteiro retrata a história de um animal criado em laboratório (um misto de suíno com hipopótamo) para saciar a gula humana. É triste a comparação que fazem entre o confinamento do animal e os campos de concentração da época do nazismo. Toca o coração. Leva às lágrimas. Difícil não sentir um nó na garganta. O impacto para mim foi tão grande que tive vontade de virar vegetariana ao longo do filme e vegana nas cenas finais.

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Fui acometida por uma falsidade que teve um tempo de vida curto. Simples: 40 minutos mais tarde ao término do longa metragem, eu já estava em frente à geladeira desejando uma fatia de presunto. Pelo menos, reconheço a minha efêmera hipocrisia. Pior são os ambientalistas extremistas que não se reconhecem falsos e fingem não ter noção da própria sonsice. Pensam uma coisa, falam outra e agem de forma completamente diferente o tempo todo. Em outras palavras, são aqueles que criticam a agropecuária, mas dependem dela nas atitudes cotidianas mais banais, como o uso de cosméticos, por exemplo.

Portanto, se você é do time que fala mal da agropecuária sem saber o que está dizendo, anote aí a minha sugestão: pare de usar produtos de couro, de passar creme no corpo, de comer gelatina, tomar sorvete, usar roupas, dirigir carro a álcool, tomar cerveja, vinho, caipirinha e café. Pare de fumar, porque tabaco também é agricultura. Enfim, pare de comer. Aí, sim, depois de total abstinência, você poderá falar alguma coisa, mas não sei se você vai ter energia para isso, porque o que nos dá energia é a comida. No mais, tudo o que disser será colóquio flácido para acalentar bovino; traduzindo: conversa mole para boi dormir.

Por fim, como sou alguém que trabalha com arte e agropecuária, eu faço um apelo: vamos dar um basta à aniquilação da imagem do produtor rural brasileiro. Quer salvar o mundo, deixe um pouco de lado os textos de Stanislavski ou de Tchechov e estude a legislação ambiental russa. Tenho certeza que você verá o produtor brasileiro com outros olhos.

Mas eu não quero terminar este texto brigando ou catequizando ninguém, não. Tô aqui para tentar mediar as pazes entre a classe artística e a produção rural brasileira. E eu me coloco dos dois lados, porque sou apaixonada tanto por arte quanto por agronegócio. Existe uma razão fortíssima para eu defender os dois segmentos.

O artista produz arte, que é o alimento para a alma. Sem arte e sem cultura, a gente mata um povo aos poucos. Daí o meu grande respeito e admiração pela classe artística. Mas o produtor rural produz comida, que é o alimento para o corpo. E todo artista sabe que sem corpo não existe arte.
Vamos respeitar todas as classes, porque só assim construiremos um Brasil melhor.

Por Lilian Dias, que é jornalista e especialista em agronegócio

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PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação. 

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André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.

A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.

A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.

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A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.

Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.

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A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).

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