A necessidade da família na escola, por Thaymara Correia da Silva
Conforme a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, Artigo 227 “É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária”, ou seja, a criança é responsabilidade de todos, mas a família é seu primeiro grupo social, e os demais aos poucos vão se inserindo. Chega então o momento em que o pequeno cidadão passa a fazer parte da escola, que é um excelente lugar para se desenvolver empatia, criatividade, liderança e muitas outras habilidades que contribuem positivamente na convivência e formação de um cidadão. Seria esse o processo natural dessa formação, no entanto os valores tem se invertido.
A maioria dos pais não têm controle sobre a vida dos filhos e transferem essa responsabilidade à escola. Em uma pesquisa realizada pela professora e escritora Tania Zagury, para escrever o livro “Professor refém”, 2 mil professores de 42 cidades participaram, e eles apontaram que um dos maiores problemas enfrentados dentro da sala de aula é a indisciplina dos alunos, onde a falta de parceria com os pais reina. Os pais, por sua vez, não têm controle da situação, transferem a responsabilidade para a escola e o professor se vê refém dentro da sala de aula.
Em uma aula de 50 minutos que deveria ser muito bem aproveitada, o professor tem que lidar com a indisciplina, fazer chamada, parar a aula para chamar a atenção de uns, separar a briga de outros, monitorar a licença e ainda passar os conteúdos do currículo para os poucos alunos que se interessam. E em se tratando de interesse, nessa mesma pesquisa os professores falam sobre as dificuldades de se competir com as “delícias modernas”, pois para os jovens e adolescentes as aulas não são tão interessantes como as tecnologias e é muito difícil para o professor competir com isso. Várias metodologias são vistas e revistas pelos professores para que a aula se torne mais atrativa, mas muito ainda precisa ser revisto.
Em suma, se o primeiro grupo social da criança falhar, seja por proteger de mais, seja por proteger de menos, os demais grupos sociais terão pouco sucesso com esse cidadão, pois se desde cedo a criança não souber o que é ter limites, não aprender a lidar com o “não” ou “agora não”, e ainda não sentir que os pais os assistem nas demais áreas de sua vida, dificilmente a escola dará conta desse papel. E quando se fala em pais assistirem seus filhos, não se trata de ensinar as atividades curriculares, pois disso a escola se encarrega. Mas se trata de saber se o filho realmente está estudando, se está conseguindo acompanhar os conteúdos e atividades, conversar com os professores e fazer visitas na escola regularmente. É ideal que os pais de fato se preocupem com o desenvolvimento do filho porque são atitudes como essas que contribuem positivamente na vida desses jovens cidadãos. Família e a escola precisam ser parceiras e não inimigas, do contrário teremos cidadãos mal formados.
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ARTIGO
PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.
A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.
A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.
A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.
Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.
A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.
A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.
André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).
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