Opinião

O soro anticovid do Butantan

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A crise do coronavírus não nos traz somente más notícias. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária, Anvisa, deu o aval para que o Instituto Butantan inicie os testes do soro anti-Covid em humanos já em abril. Os últimos documentos foram entregues e as observações aos preparativos do estudo estão sendo adotadas pelo instituto.

Os cientistas do Butantan tiveram que realizar novos testes para atender os pedidos da agência, atrasando o processo de liberação em cerca de dois meses. Os cientistas do Instituto nunca tiveram tantos entraves para a liberação de um soro. O Butantan produz soros há mais de 120 anos e é um laboratório de referência na produção desses compostos na América Latina. O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), chegou a cobrar publicamente a agência regulatória pela liberação.

O Butantan já tinha três mil frascos do soro prontos para serem utilizados no estudo clínico no dia 2 de março. Espera-se que o soro evite o agravamento dos sintomas e cure os contaminados pela Covid. O soro foi totalmente desenvolvido pelo Butantan e atuará no tratamento da doença, ao contrário da vacina, que busca prevenir a infecção.

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O soro já passou pelos testes pré-clínicos e demonstrou que é seguro e efetivo em dois de estudos animais. Os testes feitos em hamsters mostraram uma eficácia promissora, redução considerável da carga viral, preservação das estruturas pulmonares e diminuição nos processos inflamatórios. Isso em nada surpreende já que o Butatan é responsável pelo fornecimento de 100% dos soros antiofídicos do Brasil.

Para obter o soro contra a Covid, o novo coronavírus foi isolado de um paciente brasileiro e, então, cultivado, inativado, submetido a vários testes em camundongos e, por último, aplicado em cavalos que produzem anticorpos. O plasma resultante foi coletado e processado. O plasma é a parte líquida do sangue desses animais. O Butantan possui uma fazenda própria com diversos cavalos e uma fábrica própria para a produção do soro.

Com o aval da ANVISA, o soro será aplicado em pacientes adultos que estejam hospitalizados e apresentem sintomas claramente associados à Covid há poucos dias. O objetivo é evitar que o estado de saúde do indivíduo seja agravado pelo vírus, bloqueando a infecção ainda nos primeiros sintomas. A pesquisa inicial será realizada com pacientes transplantados do Hospital do Rim, conduzidas pelo médico nefrologista José Medina, e com pacientes com comorbidades no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, com o médico infectologista Esper Kallas. Ambos participam do Centro de Contingência de São Paulo.

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O soro que será aplicado em adultos recém-infectados com o coronavírus servirá para que os cientistas descubram a quantidade de doses que deverão ser aplicadas em cada doente. O Instituto usará o conhecimento que tem no uso de soros contra picadas de cobra.

Em dezembro, a Argentina começou a usar essa mesma técnica no hospital de campanha do distrito de Corrientes, 45 internados receberam o soro em fevereiro, destes, 42 tiveram alta em uma semana. Acompanharemos com interesse redobrado.

Mario Eugenio Saturno é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano

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PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação. 

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André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.

A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.

A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.

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A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.

Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.

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A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).

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