Opinião

A Cidade Tessalônica de São Paulo

Em Tessalônica acontece o mesmo tipo de agitação ocorrida em Jerusalém por ocasião do nascimento de Jesus.

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Nas cartas de Paulo, o Evangelho (vida, morte e ressurreição de Jesus) é o fermento para a transformação social. Ele cria novas relações na sociedade, fazendo surgir no mundo um novo amanhecer de vida e liberdade.

Na segunda viagem de Paulo, descrita por Lucas nos Atos dos Apóstolos (15,39-18,22), nos anos de 49 a 52 d.C.), acompanhado de Silas (chamado também de Silvano), eles visitaram as mesmas comunidades da primeira viagem: Derbe, Listra e Icônio (At 16,1ss). Em Derbe, Timóteo juntou-se a eles. E essa equipe mais tarde escreverá a carta aos Tessalonicenses. Não está claro se Lucas fez parte do grupo.

Antes, Paulo esteve nas regiões da Galácia (At 16,6), mas o livro dos Atos não registra nada do que aconteceu aí, mas pela carta aos Gálatas, sabemos da doença que reteve Paulo nesse local, fato que propiciou a fundação das comunidades gálatas.

Para Lucas, o mais notável nesta segunda viagem e que está prestes a acontecer é a entrada do Evangelho na Europa. E isso aconteceu quando eles chegaram a Filipos (At 16,11-40), fundando aí uma comunidade cristã.

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Em Filipos, Paulo e Silas foram flagelados e postos na prisão. Nessa ocasião Paulo fez valer seus direitos de cidadão romano, obtendo, dessa forma, a liberdade. Feridos no corpo e machucados no espírito, Paulo e Silas dirigem-se para a Tessalônica (At 17,1), onde foram bem acolhidos ao anunciar-lhes o Evangelho de Deus, mesmo diante de forte oposição (1Ts 2,1-2), pois “os judeus ficaram com inveja e reuniram alguns indivíduos maus e vagabundos, e provocaram um tumulto, alvoroçando a cidade” (At 17,5). A fama do apóstolo já havia se espalhado: “todos eles vão contra a lei do Imperador, afirmando que existe outro rei chamado Jesus” (At 17,5-8).

Em Tessalônica acontece o mesmo tipo de agitação ocorrida em Jerusalém por ocasião do nascimento de Jesus. E, as lideranças políticas de Tessalônica têm medo daquilo que Paulo e Silas estavam anunciando: partindo das Escrituras, Paulo explicava e demonstrava para os judeus que o Messias devia morrer e ressuscitar dos mortos. E acrescentava: o Messias (isto é, o Rei) é este Jesus que eu anuncio a vocês (At 17,2-3).

A Cidade de Tessalônica, como Corinto, era uma metrópole cosmopolita, cujos habitantes vinham de toda a parte do mundo conhecido na época. Do Norte, vieram os germânicos com seu paganismo. Da Acaia, vieram os gregos com sua filosofia. Do Ocidente, vieram os romanos com poder e riqueza. Por fim, do Oriente, vieram também muitos judeus com seu legalismo religioso. Mesmo com todo sincretismo presente ali, Tessalônica foi apelidada de “a cidade ortodoxa” por causa do seu caráter cristão.

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O Evangelho anunciado por Paulo e Silas mexerá com os interesses e privilégios da classe dominante, pois é, ao mesmo tempo, denúncia de uma sociedade injusta e anúncio do mundo novo e da vida plena para todos. E isso acontece sem oposições por parte dos que não estão interessados em mudanças a favor do povo que sofre. Por causa das oposições repentinas, Paulo e Silas têm que partir para Beréia de noite (At 17,1a).

Mario Eugenio Saturno (cientecfan. blogspot.com) é Tecnologista Sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e congregado mariano.

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ARTIGO

Interação justa entre varejo e indústria têxtil é crucial na era da sustentabilidade e digitalização

As discussões e conclusões do encontro oferecem valiosos insights para aprimorar a interação de nossa indústria tanto com varejistas nacionais quanto com os compradores internacionais. É importante ressaltar que o modelo tradicional de negócios em nosso setor frequentemente impõe exigências excessivas aos fabricantes, incluindo alterações de última hora em pedidos já confirmados, prazos de pagamento muito longos, pressão constante por preços cada vez mais baixos, ausência de compromissos duradouros e falta de planejamento colaborativo.

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Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e Camila Zelezoglo é gerente de Sustentabilidade e Inovação da Abit.

A relação entre o varejo e a indústria têxtil e de confecção representa um pilar fundamental para o funcionamento saudável de toda a cadeia de moda. No entanto, as práticas comerciais atuais têm gerado tensões que impactam não apenas os negócios, mas também milhões de trabalhadores globalmente. Essa questão foi o foco principal do “Fórum on Due Diligence in the Garment and Footwear Sector”, realizado em fevereiro deste ano, em Paris, pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

As discussões e conclusões do encontro oferecem valiosos insights para aprimorar a interação de nossa indústria tanto com varejistas nacionais quanto com os compradores internacionais. É importante ressaltar que o modelo tradicional de negócios em nosso setor frequentemente impõe exigências excessivas aos fabricantes, incluindo alterações de última hora em pedidos já confirmados, prazos de pagamento muito longos, pressão constante por preços cada vez mais baixos, ausência de compromissos duradouros e falta de planejamento colaborativo.

Tais condições adversas geram consequências prejudiciais para todos os envolvidos. Para a indústria, resultam em instabilidade financeira, dificuldade no planejamento produtivo, investimentos limitados em tecnologia e inovação e, por vezes, comprometimento dos padrões de excelência. Os trabalhadores também são afetados. O próprio varejo sofre com problemas de qualidade, atrasos nas entregas, alta rotatividade de fornecedores e riscos à sua reputação.

A propósito, vale observar os dados de 2024 referentes aos prazos das encomendas dos varejistas aos fabricantes, apresentados na Première Vision, em novembro último, pelo Instituto Français de la Mode. O aprovisionamento de longo prazo (seis meses ou mais antes da estação) representou 48% do total, enquanto o médio prazo (seis meses ou menos antes da estação) foi de 33% e o curto prazo (dentro da estação), 19%.

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A criação e adoção voluntária de práticas comerciais mais equilibradas podem melhorar o panorama da cadeia de valor, proporcionando benefícios significativos para todos. O planejamento colaborativo emerge como elemento crucial, abrangendo o estabelecimento conjunto de previsões de demanda, compartilhamento transparente de informações de mercado, definição clara de calendários de desenvolvimento e produção e compromissos de volume consistentes e de longo prazo. A precificação justa desempenha papel igualmente determinante, considerando os custos reais de produção, garantindo margens adequadas para investimentos em melhorias, chancelando o valor agregado e promovendo negociações transparentes.

Para a indústria, esses avanços significam maior estabilidade financeira, capacidade de investimento em inovação, desenvolvimento de produtos diferenciados e relacionamentos comerciais duradouros. Os trabalhadores beneficiam-se com melhores condições laborais e oportunidades mais amplas de crescimento profissional. O varejo, por sua vez, obtém produtos de maior qualidade, fornecedores mais comprometidos, cadeias de suprimento mais confiáveis e melhor reputação corporativa.

A revisão dos processos interativos deve considerar as transformações disruptivas pelas quais o setor têxtil e de confecção está passando globalmente. A digitalização avança rapidamente, viabilizando sistemas integrados de planejamento, plataformas colaborativas avançadas, rastreabilidade completa da cadeia de suprimentos e métricas precisas de desempenho. Ao mesmo tempo, a sustentabilidade impõe-se como imperativo estratégico. Fibras regeneradas, tecnologias de reciclagem mecânica e química, além de novas regulamentações ambientais, estão inaugurando uma nova era para nossa atividade.

​Nesse cenário dinâmico, a construção de relações comerciais mais equilibradas entre varejo e indústria têxtil não representa apenas uma questão ética, mas uma necessidade estratégica para a sustentabilidade do setor. A adoção proativa de melhores práticas comerciais pode criar um círculo virtuoso benéfico para toda a cadeia produtiva, desde os trabalhadores nas fábricas até o consumidor final.

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O Brasil detém condições singulares para liderar esse movimento transformador, por contar com todos os elos da cadeia produtiva e distributiva integrados em seu território. As empresas que encabeçarem as mudanças contribuirão para que o setor seja mais sustentável e se destacarão, pois se posicionarão competitivamente em um mercado cada vez mais consciente e exigente.

​O estabelecimento de modelos comerciais mais justos representa um investimento estratégico no futuro do setor, criando alicerces sólidos para inovação, crescimento sustentável e relações comerciais duradouras. À medida que mais empresas adotem voluntariamente essas práticas, será consolidado um novo paradigma de mercado, demonstrando ser possível harmonizar sucesso comercial e econômico com responsabilidade social e sustentabilidade ambiental.

Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e Camila Zelezoglo é gerente de Sustentabilidade e Inovação da Abit.

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