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Brasil consolida propostas científicas para a COP30 em encontro no Rio de Janeiro

Mesa de abertura do evento. Foto: Lucas Landau/Finep

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Urgência climática e ciência brasileira. Esses foram os assuntos que permearam o Workshop Integração e Fortalecimento da Ciência da Agenda Climática. O encontro foi promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), a Academia Brasileira de Ciências (ABC) e a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), no Rio de Janeiro. Foram reunidos cerca de cem dos principais cientistas do País em debates que resultarão em um documento com propostas a serem apresentadas na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que terá sede em Belém (PA) em 2025.  

A ministra Luciana Santos (MCTI) afirmou, em vídeo, que seria um momento para mapear temas prioritários, identificar lacunas e desenhar proposições que dialoguem com os compromissos internacionais e as demandas nacionais. “O MCTI reafirma seu compromisso de fortalecer redes de ciência em todas as regiões do País e garantir que a produção científica brasileira tenha voz ativa nos fóruns globais”. A discussão foi gravada e está disponível no Youtube.   

Brasil consolida propostas científicas para a COP30 em encontro no Rio de Janeiro
Ministra Luciana Santos em vídeo enviado ao evento. Foto: Lucas Landau/Finep

A diretora-executiva da COP30, Ana Toni, reforçou: “será a COP da verdade, e a verdade é baseada na ciência”. O encontro contou com quatro painéis que permearam o contexto nacional de pesquisa, internacional, a situação atual da Amazônia e a apresentação das proposições para a COP30. Após isso, foi feita uma síntese dos debates e o encerramento.  

O secretário-executivo do MCTI, Luis Fernandes, também esteve presente no Workshop. Ao final dos debates, a autoridade valorizou o diálogo construído e sua importância em diversos campos. “O debate aqui é fundamental porque traz para o tema ciência o enfrentamento do negacionismo”, iniciou.  

Brasil consolida propostas científicas para a COP30 em encontro no Rio de Janeiro
Luis Fernandes durante participação no evento. Foto: Lucas Landau/Finep

Fernandes disse ainda que a COP30 é uma oportunidade de construir pontes de cooperação internacional e multilateralista. “A ciência tem um papel particular nisso. Daqui vem uma agenda que colabora com a da COP30. A Finep sediar esse evento contribui com o pensamento crítico e o mundo. Trago a saudação do MCTI e o registro da importância de todas essas contribuições aqui feitas à COP30”.   

Brasil como protagonista  

Um consenso entre os participantes do workshop é que o País assume um protagonismo especial na COP30 e que o destaque do Brasil traz a oportunidade de restabelecer o lugar da sua ciência após um período de negacionismo. De acordo com os especialistas, a expansão científica deve integrar a base já existente, trazendo identidade à produção científica brasileira.  

A secretária de Políticas e Programas Estratégicos (Seppe), do MCTI, Andrea Latgé, falou no primeiro painel do evento e destacou projetos liderados pela pasta que apoiam a urgência climática. Para ela, existe alta necessidade de um trabalho transversal.  

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Andrea Latgé durante participação no evento. Foto: Lucas Landau/Finep.

“O governo tem que estar junto, os ministérios têm que estar colados. Um tem que falar a linguagem do outro. É ótimo ter divergências, elas melhoram nossos resultados, mas a gente tem que fazer política pública unida e discutindo todos os lados dos problemas”, disparou. Ela lembrou ainda que o MCTI lidera estudos que subsidiam a agenda climática brasileira, além de alertar sobre desastres geohidrológicos (Cemanden) e mapeamento de riscos climáticos (Adapta Brasil). “Programas de ponta e plataformas de mapeamento são nossa rotina e radar”, completou. 

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Valorização da ciência 

Grande autoridade do clima, o cientista brasileiro e pesquisador sênior do Instituto de Estudos Avançados (IEA) da Universidade de São Paulo (USP) Carlos Nobre, esteve presente no evento durante o primeiro painel. Em sua fala, relembrou grandes conquistas alcançadas pelo setor científico, entre elas a Rede Clima, onde participou da criação, em 2007.  

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Carlos Nobre durante participação no evento. Foto: Lucas Landau/Finep

A Rede Clima (Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas Globais) é uma rede de pesquisadores e especialistas que dissemina conhecimento sobre as mudanças climáticas no Brasil. “Não há dúvida que foi superimportante para dar uma grande escala à qualidade da pesquisa sobre toda a emergência climática que vivemos”, disse.  

Nobre é um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2007. O climatologista foi reconhecido junto de uma equipe internacional de cientistas do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e Al Gore, por seus esforços em alertar o mundo sobre os perigos do aquecimento global e defender a preservação ambiental.  

Segundo ele, a COP30 precisa ser tratada como a mais importantes já realizada. “A COP30 tem que ser a mais importante das 30 COPs, porque o Acordo de Paris e a COP 26 foram muito importantes, mas nós temos que fazer essa ainda maior”, disse.  

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Mercedes Bustamante durante sua participação no evento. Foto: Lucas Landau/Finep

Já a professora do Departamento de Ecologia da Universidade de Brasília (UnB) Mercedes Bustamante, destacou a importância da discussão da desigualdade entre gerações. “Existe uma disparidade entre gerações passadas, responsáveis pelas emissões, e as futuras, que viverão seus impactos”, determinou. Ela atribuiu a recuperação deste cenário a uma ação múltipla em todos os setores. “Sem uma ação climática ambiciosa, o desenvolvimento sustentável não pode ser alcançado”, finalizou. 

A base da ciência brasileira  

Brasil consolida propostas científicas para a COP30 em encontro no Rio de Janeiro
Ricardo Galvão durante participação no evento. Foto: Lucas Landau/Finep

O presidente do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Ricardo Galvão, destacou a necessidade do combate às fake news, ao negacionismo e às mentiras. Para ele, a base da ciência brasileira está concentrada nos Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs) e nas universidades. No entanto, segundo a autoridade, é preciso aumentar a integração entre os institutos, universidades e pesquisadores. “Universidades até muito próximas trabalham sobre mesmos temas, com quase nenhuma articulação.”

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O presidente da Finep, Luis Antonio Elias, fez a mesma crítica e afirmou ser necessário abraçar as unidades de pesquisa. “Temos que reforçar a importância das unidades de pesquisa, pela força que elas têm. Precisamos, como atores políticos, como seres, pensar sempre adiante”, disse.

 

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Luis Antonio Elias no evento. Foto: Lucas Landau/Finep

Elias afirmou ainda que o País tem muitas características aliadas à luta contra as mudanças climáticas. “O Brasil tem ciência de qualidade, diversidade de ecossistemas, matriz energética limpa, capacidade de inovação e, cada vez mais, compromisso político com a sustentabilidade. Podemos e devemos ser protagonistas globais na construção de um futuro sustentável, próspero e justo”, afirmou.

Agenda do Clima no MCTI  

O diretor do Departamento para o Clima e Sustentabilidade (DECLS) da Seppe, Osvaldo Moraes, participou do segundo painel do evento e destacou ações do MCTI na Agenda do Clima. Ele detalhou o Inventário Nacional de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa (GEE).  

O programa promove o desenvolvimento de redes de pesquisa multi-institucionais e interdisciplinares, com foco no enfrentamento de grandes desafios. “Tudo o que a gente faz está ancorado em ciência e tecnologia feitas pelas unidades de pesquisa. Todo o sistema é irrigado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico [FNDCT], CNPq e Finep”, disse.  

O diretor expôs ainda dados da produção científica por meio de artigos e estudos ilustrados na apresentação. “Se a temperatura permanecer por mais de 1,5 grau, aproximadamente 50% das espécies correm risco de extinção. A ciência está dando sinais claros de que tudo que estamos fazendo de NDC [Contribuição Nacionalmente Determinada, termo do Acordo de Paris que se refere aos compromissos de cada país para reduzir as emissões de gases de efeito estufa] pode não estar funcionando”, continuou.  

Dentro do MCTI, ele destacou a necessidade de aproximação do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia. “Estamos tentando superar isso com o lançamento do livro Mudanças Climáticas no Brasil: Estado da Arte e Fronteiras do Conhecimento, com capítulos liderados por pesquisadores da área. Esse esforço busca uma cooperação para além do que está dentro do ministério”. O livro será lançado na COP30.  

Demais pesquisadores participantes destacaram a necessidade de metas climáticas mais ambiciosas, diálogo amplo e transversal, alinhamento de pesquisas, valorização do Acordo de Paris, popularização da ciência, conscientização na base da educação, ações interdisciplinares e investimento massivo.  

O workshop foi finalizado com a reafirmação do compromisso coletivo entre governo, comunidade científica e sociedade civil em fortalecer a ciência brasileira como base estratégica para enfrentar a crise climática. As propostas debatidas serão sistematizadas em um documento a ser apresentado na COP30, reforçando o papel do Brasil como protagonista global nas negociações climáticas e evidenciando que somente com ciência, integração e ação coordenada será possível avançar rumo a um futuro sustentável. 

Fonte: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação

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