Opinião
Os ladrões da Seguridade Social
A folha, o faturamento e o lucro foram estruturados, na Constituição de 1988, como contribuições diretas. Desse modo, a sociedade financia diretamente o sistema de seguridade social por intermédio dessas três modalidades de tributos, denominadas contribuições sociais. Posteriormente, sobreveio outra contribuição, que está prestes a ser revogada pela reforma tributária, que incide sobre importação de bens e produtos do exterior, acrescentada ao artigo 195 da Constituição.
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Caros leitores, a intenção deste breve artigo é explicar, minimamente, o financiamento da Seguridade Social, do qual a contribuição sobre a folha de salários, paga pelas empresas, é apenas uma das receitas. Contudo, trata-se de parcela significativa. Então, como funciona isso? Toda a sociedade financia a Seguridade Social, consoante comando constitucional.
A folha, o faturamento e o lucro foram estruturados, na Constituição de 1988, como contribuições diretas. Desse modo, a sociedade financia diretamente o sistema de seguridade social por intermédio dessas três modalidades de tributos, denominadas contribuições sociais. Posteriormente, sobreveio outra contribuição, que está prestes a ser revogada pela reforma tributária, que incide sobre importação de bens e produtos do exterior, acrescentada ao artigo 195 da Constituição.
Ademais, as pessoas políticas – União, Estados, Distrito Federal e Municípios, também devem financiar a Seguridade Social, mediante destinação de parcela das respectivas receitas de impostos.
Todo o montante amealhado é alocado a um fundo, de natureza contábil, do qual serão sacadas as prestações da Seguridade Social. Prestações são espécies de benefícios e serviços, geridas e administradas pelos três subsistemas de seguridade: o Sistema Único de Saúde (SUS), o Sistema Único de Assistência Social (SUAS) e o Regime Geral de Previdência Social (RGPS).
Ao lado desse sistema geral, existem os regimes próprios dos servidores públicos, cuja contabilidade é apartada.
Imaginemos que se trata de uma grande caixa – e, antigamente, as instituições de previdência eram assim chamadas, caixas de aposentadoria e pensões, por exemplo, Caixa de Aposentadorias e Pensões dos Bancários. Para essa caixa, são vertidas as contribuições sociais e os aportes orçamentários das pessoas políticas, e, dessa caixa, saem as prestações.
Retenhamos a imagem de uma caixa d’água. Entradas e saídas.
Ora, na hidráulica das caixas, há um ladrão, aquele dispositivo regulador do excedente de água, que evita o transbordamento da caixa. Pois fiquem sabendo que, na Seguridade Social, a caixa teve acoplados dois ladrões.
Quer dizer que nem todo o montante arrecadado vai para a saúde, para a previdência e para a assistência.
Dois ladrões, oficialmente instalados, retiram parte das receitas da seguridade social e as destinam a outros fins.
O primeiro ladrão tem um nome disfarçado: EPU – Encargos Previdenciários da União.
Você pode pensar que é algo normal.
Mas, não. Esclareci há pouco que os servidores públicos fazem parte de regimes apartados, denominados regimes próprios. Só que o Regime Geral, por inexplicável distorção, paga parte da conta das prestações devidas pelos regimes próprios.
É um ladrão oficial que tira dinheiro da massa total e verte para o regime de servidores públicos. Tal desvio ocorre há muitos anos.
Então, o regime previdenciário dos trabalhadores em geral, que deveria estar sendo custeado pelas contribuições dos trabalhadores e das empresas, como define a lei, perde uma parte da sua arrecadação e subsidia os benefícios devidos aos dependentes dos servidores públicos.
O desvio é inexplicável.
O segundo ladrão foi encravado na Constituição. Instituído pela Emenda Constitucional de Revisão n 1, de 1994, deveria durar dois anos. Foi chamado de Fundo Social de Emergência. Mudou de nome e se transformou em Fundo de Estabilização Fiscal, que duraria mais três anos, conforme a Emenda Constitucional nº 10, de março de 1994. E assim foi ficando, até receber novo batismo como Desvinculação das Receitas da União – DRU – que foi sendo prorrogado e terminaria, pela Emenda Constitucional n. 93, de 2016, em 2023.
Uma emergência que se arrastou desde 1994 até 2023.
Parecia que iria terminar, mas não. Agora a Emenda Constitucional nº 132, de 2023, estende até 2032 a eficácia. Quase quarenta anos de desvio de recursos da seguridade social.
O que acontecerá com a reforma tributária? O ladrão também vai operar sobre a contribuição que acaba de ser proposta, em substituição ao COFINS e ao PIS/PASEP, juntamente com a da importação de bens vindos do exterior?
É o ladrão que toma novo formato, no seio da reforma tributária.
Portanto, uma parte dos “dinheiros” da Seguridade Social será desviada grosseiramente das finalidades da Saúde, da Previdência Social e da Assistência Social.
Tudo convivendo com o discurso oficial que proclama o déficit do sistema previdenciário.
E é o momento da Reforma Previdência.
Houve várias reformas previdenciárias. Quatro emendas constitucionais. Já se discute nos bastidores a elaboração de outra PEC para reformar a Previdência novamente. Porque não dá para continuar como está.
E o estranhável mundo de duas realidades paralelas, o da Reforma Tributária, que deve tratar das entradas para a caixa, com estrita observância do critério constitucional do equilíbrio financeiro e atuarial do sistema; e a realidade da Reforma Previdenciária, que cuida e deve cuidar da saída.
Tratam-se de realidades distintas, mas que se interpenetram.
As pensões e as aposentadorias, as pensões, os auxílios e as sempre crescentes despesas da saúde e da assistência social serão sustentáveis no médio e no longo prazo? Possivelmente não, porque todas as projeções até aqui formuladas não se viram confirmadas pelos dados de realidade.
A Reforma Tributária, promulgada pela Emenda Constitucional nº 132, de dezembro de 2023, insere no art. 195, o inciso V, que cria a contribuição social sobre bens e serviços, que passará a vigorar em 2027.
Na mesma Emenda, são eliminadas diversas fontes de custeio, em manifesta interface com o sistema de proteção social, mas com impressionante descompromisso com o potencial de dispêndio futuro das saídas do caixa da Seguridade Social. A Reforma Previdenciária não amadurece, porque cada uma das quatro que já foram feitas até agora nem mesmo produz seus frutos e já se vê transformada em outra reforma. Fenômeno que se repete desde 1998.
Muito provavelmente, aos leitores deste texto, não estará garantido o direito de, com previdência, projetarem o respectivo futuro previdenciário. Se é que haverá algum futuro para o vigente modelo.
Recomendo, expressamente, que cuidem de contratar, o quanto antes, seus planos de Previdência Complementar. Aproveitem-se do incentivo fiscal que, por enquanto, ainda lhes dá vantagem expressiva.
Wagner Balera é advogado
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ARTIGO
Brasil precisa acelerar o ritmo das agendas prioritárias muito antes do Carnaval chegar
Um desafio particularmente grave e urgente é o combate ao crime organizado, que tem demonstrado crescente ousadia e capacidade de articulação. As facções não apenas causam perdas irreparáveis de vidas humanas, mas também geram impactos econômicos substanciais, afetando o comércio, o turismo e os investimentos em diversas regiões. A sensação de insegurança e os custos diretos e indiretos da violência representam um pesado fardo para o desenvolvimento nacional, exigindo resposta coordenada e efetiva do Estado em todas as suas esferas.
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O ano de 2024 deixou um legado misto para a economia brasileira. Por um lado, apresentou resultados positivos concretos: crescimento econômico relevante, mas ainda aquém das nossas necessidades, taxa de desemprego em níveis baixos para nossos padrões, aumento da renda média e avanços na redução das desigualdades sociais. Esta fotografia do momento retrata um país que conseguiu superar diversos desafios e manter sua trajetória de desenvolvimento.
No entanto, o horizonte de 2025 apresenta alguns pontos de atenção. A sustentabilidade fiscal permanece como fonte de preocupação para os mercados, refletindo-se na valorização do dólar e na manutenção de taxas de juros elevadas. As projeções indicam uma desaceleração do aumento do PIB e uma redução no ritmo dos investimentos, sinalizando a necessidade de ações corretivas imediatas.
Nesse contexto, a agenda da Nova Indústria Brasil (NIB) emerge como pauta fundamental para o crescimento sustentável. O fortalecimento da base manufatureira, de modo a aumentar a participação mundial do Brasil no comércio de bens e produtos de maior valor agregado, é essencial para gerar empregos qualificados e reduzir vulnerabilidades externas. A transição energética e a economia verde apresentam oportunidades únicas para o País recuperar seu protagonismo no setor, aproveitando nossas vantagens competitivas em energia limpa e biodiversidade.
Um desafio particularmente grave e urgente é o combate ao crime organizado, que tem demonstrado crescente ousadia e capacidade de articulação. As facções não apenas causam perdas irreparáveis de vidas humanas, mas também geram impactos econômicos substanciais, afetando o comércio, o turismo e os investimentos em diversas regiões. A sensação de insegurança e os custos diretos e indiretos da violência representam um pesado fardo para o desenvolvimento nacional, exigindo resposta coordenada e efetiva do Estado em todas as suas esferas.
O cenário internacional adiciona ingredientes de complexidade e incerteza para 2025. Os conflitos mais visíveis entre Rússia e Ucrânia e no Oriente Médio arrastam-se sem perspectiva clara de resolução e continuam impactando as cadeias globais de suprimentos e os preços das commodities. Em paralelo, as crescentes tensões entre China e Estados Unidos – especialmente no campo tecnológico e comercial – geram instabilidade nos mercados internacionais e exigem um delicado exercício de equilíbrio diplomático dos demais países.
A volta de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos é uma nova variável na equação geopolítica global. As incertezas quanto ao posicionamento norte-americano em questões cruciais – desde acordos comerciais até compromissos climáticos – podem afetar significativamente o ambiente do comércio exterior e exigir readequações nas estratégias diplomáticas e comerciais do Brasil. Tal cenário reforça ainda mais a importância de fortalecermos nossa base industrial e reduzirmos dependências externas estratégicas. Ademais, esse quadro, com potencial aumento expressivo do imposto de importação sobre os produtos chineses por parte dos EUA, levará a desvios de comércio, e o Brasil será um dos estuários desse redirecionamento, com o setor têxtil e de confecção sendo especialmente afetado. Em 2024, por exemplo, a importação de produtos têxteis e confeccionados cresceu seis vezes mais do que a produção e o consumo locais.
O ano de 2025 é decisivo, demandando ação coordenada e determinada em diversas frentes. O desequilíbrio fiscal, a trajetória ascendente da dívida pública e a necessidade de fortalecer a política industrial moderna e competitiva são desafios que precisam ser enfrentados com eficácia e pragmatismo. Não há espaço para procrastinação ou soluções paliativas. O momento exige reformas estruturantes, como a administrativa, que seguiu adormecida em 2024, e medidas efetivas de equilíbrio e bom senso na dosimetria dos juros e política fiscal.
No âmbito político-institucional, enfrentaremos uma agenda intensa no Congresso Nacional e no Poder Judiciário. As decisões tomadas nessas esferas terão impacto direto na capacidade do Brasil de endereçar seus problemas mais urgentes, desde a segurança pública até a manutenção de uma trajetória de crescimento sustentado e sustentável, passando pela criação de um ambiente favorável aos investimentos produtivos e à inovação tecnológica.
Em paralelo, 2025 coloca o País em posição destacada no cenário internacional. A presidência do BRICS oferece oportunidade única para exercermos liderança em questões globais estratégicas, especialmente em um momento de realinhamento das forças geopolíticas mundiais. Ademais, a realização da COP 30 em Belém do Pará, em novembro, reforça o protagonismo brasileiro nas discussões sobre sustentabilidade e mudanças climáticas, tema que ganha ainda mais relevância diante das incertezas sobre o comprometimento das grandes potências com as metas ambientais do planeta e que pode catalisar nossa reindustrialização verde.
O questionável estigma popular de que o ano brasileiro só começa após o Carnaval precisa ser deixado de lado. Os desafios e oportunidades que se apresentam não podem esperar. É imperativo iniciar 2025 a pleno vapor, com senso de urgência e determinação, mobilizando todos os setores da sociedade e do poder público em torno de uma agenda comum de desenvolvimento e segurança. O País não pode, como consta em conhecido verso de Chico Buarque de Holanda, ficar “se guardando para quando o Carnaval chegar”. É hora de manter a sintonia, a afinação, o ritmo e a harmonia no âmbito das agendas prioritárias.
É premente arregaçar as mangas e trabalhar pela construção do futuro que o Brasil merece, tendo em vista não apenas os desafios domésticos, mas também seu papel em um mundo cada vez mais complexo e interconectado. Um país mais forte industrialmente e em outros segmentos da economia será mais resiliente e capaz de garantir bem-estar e vida melhor para sua população.
Fernando Valente Pimentel é diretor-superintendente e presidente emérito da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit).
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