Opinião

Saiba por que você não deve tirar ‘férias silenciosas’

O fato é que, mais do que nunca, precisa existir transparência, tanto por parte dos gestores quanto dos integrantes da equipe. Acredito que tudo pode ser conversado e negociado previamente, como sair um dia mais cedo, entrar no outro dia mais tarde, e até mesmo se ausentar. Entendo que muitas empresas não dão liberdade, porém, é preciso que tentem entrar em acordos com os colaboradores, que por outro lado, não devem agir de má fé e nem abusar nos pedidos, para que a relação não fique desgastada e seja funcional.

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Pedro Signorelli é um dos maiores especialistas do Brasil em gestão.

Você já ouviu falar no termo ‘férias silenciosas’, também chamado de ‘quiet vacations’? Não, apesar de estarmos em julho, período conhecido pelas férias escolares, os termos não se relacionam diretamente. Férias silenciosas foi o nome dado para a atitude de alguns funcionários, que atuam nos modelos híbrido e – principalmente – remoto, de tirar folga durante o período de trabalho sem informar a chefia.

Essa nova tendência vai totalmente ao encontro com outros movimentos que já estiveram bastante em alta, como o ‘quiet quitting’, onde as pessoas decidiram limitar suas tarefas às estritamente necessárias dentro da descrição de seu trabalho, evitando longas jornadas e sobrecarga. No entanto, será que a ação de tirar essas férias silenciosas é justa para todos os envolvidos?

Business Insider divulgou um levantamento feito pelo instituto de pesquisa The Harris Poll, que falou com 1.170 americanos empregados em abril deste ano. Cerca de 40% dos Millennials (pessoas entre 28 a 43 anos), entrevistados revelaram que já tiraram uma folga do trabalho sem realmente informar o seu empregador. Enquanto 24% dos membros da Geração Z (pessoas de 13 a 27 anos), relataram ter feito o mesmo.

Além disso, a geração Millennial que participou do levantamento foi mais propensa a dizer que tomou medidas para fazer parecer que está trabalhando, quando na verdade, não está. Para mim, isso é um sinal de problema, pois apesar da amostra analisada ter sido pequena, o número de pessoas que afirmaram ter tirado férias silenciosas foi significativo, o que não me parece tão correto, se pararmos para pensar.

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Um dos pontos positivos do trabalho remoto, o famoso home office, modelo adotado por milhares de empresas durante a pandemia e que se mantém até hoje por algumas, é você fazer o seu trabalho de casa, ou de qualquer lugar, desde que consiga entregar um serviço de qualidade e cumpra todas as tarefas que tenham sido solicitadas. Porém, me questiono como alguém faz isso sem combinar o jogo com transparência.

Todos já sabem, ou pelo menos deveriam saber, que a base para o bom funcionamento do home office é justamente a confiança estabelecida entre gestor e colaborador, onde se espera que as pessoas falem a verdade sobre o que estão fazendo e sobre a localização em que se encontram. Pois, a partir do momento em que essa confiança se quebra, a chance do líder adotar um microgerenciamento é muito maior e isso não será bom para ninguém.

Vejo funcionários reclamando de microgerenciamento, se queixando que os gestores ficam pressionando, perguntando sobre cada tarefa e pedindo atualização de suas ações, o que acaba gerando desgaste. É claro que alguns líderes fazem isso por que querem, o que é péssimo, porém, não desconfio que alguns adotem essa postura diante de uma eventual desconfiança que surgiu.

Acredito que é possível existir um equilíbrio, pois pessoas que trabalham em home office e até em modelos híbridos, geralmente têm um pouco mais de flexibilidade de horários e possuem a vantagem de estarem em casa. No entanto, se afastar do trabalho sem informar, em momentos em que deveria estar à disposição da empresa, interagindo com colegas, para focar em atividades pessoais não é algo que deva ser incentivado.

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Pense na seguinte situação: você trabalha remotamente e faz tudo direitinho, cumprindo suas atividades, mas diante de casos de ‘férias silenciosas’, sua empresa volta a adotar o modelo presencial por se sentir “enganada”? Você, provavelmente, não iria gostar, e mesmo tendo agido de forma correta, seria prejudicado, pois a maioria iria pagar o preço por causa da atitude de alguns.

O fato é que, mais do que nunca, precisa existir transparência, tanto por parte dos gestores quanto dos integrantes da equipe. Acredito que tudo pode ser conversado e negociado previamente, como sair um dia mais cedo, entrar no outro dia mais tarde, e até mesmo se ausentar. Entendo que muitas empresas não dão liberdade, porém, é preciso que tentem entrar em acordos com os colaboradores, que por outro lado, não devem agir de má fé e nem abusar nos pedidos, para que a relação não fique desgastada e seja funcional.

Pedro Signorelli é um dos maiores especialistas do Brasil em gestão.

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ARTIGO

PEC 6X1: oportunidade para o debate franco acerca da legislação trabalhista

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação. 

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André Naves é Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política.

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 6X1, de autoria da deputada federal Erika Hilton (PSOL-SP), tem como objetivo a redução da jornada de trabalho de 44 para 36 horas semanais, mantendo os salários e reorganizando a carga semanal em até quatro dias. Essa proposta vem ao encontro de tendências globais, onde o debate sobre a jornada de trabalho e sua adaptação aos novos tempos — especialmente com o avanço da tecnologia e da inteligência artificial — tem ganhado força.

A PEC 6×1, inspirada pelo Movimento Vida Além do Trabalho (VAT), idealizado pelo vereador Rick Azevedo (PSOL-RJ), pode ser vista como um ponto de partida para uma análise mais profunda sobre o sistema trabalhista brasileiro e suas limitações, tanto para trabalhadores quanto para empregadores.

A questão da jornada de trabalho reduzida é sustentada por um contexto de aumento da produtividade, impulsionado pelas inovações tecnológicas. Essas inovações permitiram que, em alguns setores, menos horas de trabalho resultassem em níveis de produção iguais ou superiores aos modelos tradicionais. No entanto, a discussão sobre a redução da jornada de trabalho não se limita aos ganhos de produtividade. Ela também envolve uma série de outros fatores, como qualidade de vida, saúde mental, e até mesmo a busca por um equilíbrio entre vida pessoal e profissional.

Em termos práticos, a PEC 6X1 procura responder à demanda por uma jornada de trabalho que promova o bem-estar dos trabalhadores sem sacrificar o desempenho econômico. Entretanto, há obstáculos no que diz respeito à aplicabilidade da medida no contexto brasileiro. O arcabouço jurídico trabalhista do país, com regulamentações amplas, visa proteger o trabalhador, mas frequentemente é apontado como um fator que engessa a iniciativa privada e dificulta a criação de empregos.

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A complexidade e os custos associados ao cumprimento das leis trabalhistas brasileiras muitas vezes desestimulam empresários, especialmente os pequenos e médios, de contratar formalmente. O excesso regulatório pode ser, em parte, responsável pela baixa produtividade e pela informalidade ainda presente no mercado de trabalho brasileiro.

Além disso, o Brasil já enfrenta desafios específicos em relação ao mercado de trabalho, como a escassez de mão de obra em algumas regiões e o aumento da informalidade. Há também uma pressão social crescente para ajustar programas de assistência, como o Bolsa Família, para que realmente sirvam como apoio temporário, incentivando a entrada no mercado de trabalho. Isso alinha-se à célebre frase do ex-presidente americano Ronald Reagan, para quem “o melhor programa social é o emprego”. Nesse sentido, um mercado de trabalho desburocratizado e uma política de assistência social orientada para a autonomia individual poderiam ser fundamentais para garantir uma economia mais forte e inclusiva.

A baixa produtividade nacional está também associada a uma qualidade educacional deficiente, fator que dificulta a implementação de uma jornada reduzida sem impacto negativo na produção. O recente relatório da McKinsey sobre o futuro do trabalho destaca que, para competir em um mercado global, é necessário cultivar habilidades de criatividade, autoaprendizado e flexibilidade. O Brasil, com uma educação pública ainda deficiente, precisaria investir significativamente nesses aspectos para que seus trabalhadores pudessem se beneficiar plenamente de uma jornada reduzida e competir em uma economia mundial em transformação.

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A PEC 6X1, assim, abre uma oportunidade rara para rever os princípios que sustentam o sistema trabalhista brasileiro e questionar se esse modelo atende às necessidades contemporâneas de um mundo em rápida mudança. Trata-se de uma chance para empreender uma reforma que, ao mesmo tempo que preserva a dignidade dos trabalhadores, valorize a iniciativa privada e encoraje a criação de empregos de qualidade. Como se diz, “quando o cavalo selado passa, é hora de pular e aproveitar a chance”.

André Naves é Defensor Público Federal formado em Direito pela USP; especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; mestre em Economia Política pela PUC/SP; cientista político pela Hillsdale College; doutor em Economia pela Princeton University; escritor e professor (Instagram: @andrenaves.def).

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