Operação Paideia

São Simão: Denúncias apontam início de abusos há 20 anos por prefeito

Após adolescente gravar videochamada em que prefeito mostra partes íntimas, outras vítimas procuraram MP-GO. Jornalista, hoje com 30 anos, disse que foi abusado entre 2001 e 2007.

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Um garoto de 15 anos morador do município de São Simão, gravou videochamadas há aproximadamente 15 dias, realizadas pelo prefeito da cidade, Francisco de Assis Peixoto (PSDB), nas quais ele teria mostrado partes íntimas e também realizado masturbação. As imagens foram entregues junto com o aparelho celular na Delegacia de Polícia Civil da cidade e também para o Ministério Público do Estado de Goiás (MP-GO) e o assunto começou a ser compartilhado nos grupos de WhatsApp locais. A partir daí, pelo menos sete vítimas, conforme reportagem da TV Anhanguera, registraram formalmente casos que teriam sido cometidos pelo mesmo agressor, incluindo um jornalista, hoje com 30 anos. O profissional de comunicação teria sido abusado entre 2001 e 2007.

Na quarta-feira (28), Assis, como é conhecido, foi preso em Goiânia, na Operação Paideia, realizada pelo MP-GO com apoio da Polícia Civil (PC). Foram cumpridos também três mandados de busca e apreensão na prefeitura da cidade e em um hotel que pertence a familiares do prefeito. Promotor do caso, Fabrício Lamas, diz que o processo corre em segredo a fim de preservar as vítimas. O prefeito não possui assessoria própria e quem respondeu por ele foi a própria equipe de comunicação da prefeitura. Em nota, disseram apenas que “São acusações infundadas, que serão esclarecidas ao longo das investigações”.

A mãe do adolescente de 15 anos conta que o primeiro contato aconteceu em 16 de julho e se repetiu nos dois dias seguintes. O garoto, que é muito tímido, recebeu uma mensagem pelo WhastApp escrita ‘bem-vindo’. A pessoa disse que o número era da assessoria da Prefeitura de São Simão e que era utilizado para pesquisa de opinião sobre a gestão e a cidade. “Achei que esse telefone era de **”, disse em uma mensagem. O menino respondeu dizendo que tinha o mesmo nome. A partir daí, uma mensagem dizia que o celular seria transferido para o prefeito.

“Meu filho me mostrou e eu achei que era golpe. Em seguida, a pessoa mandou oi, disse que era o prefeito Assis Peixoto. Foi aí que ele respondeu. Meu filho mandou uma mensagem de voz, perguntou como teria certeza que era o prefeito e ele respondeu com outra mensagem em áudio. Ele começou a mandar figurinhas pornográficas, falando que queria encontrar meu filho, pediu mensagem de voz. Que era para marcar um lugar, que onde ele marcasse, iria”, relata a mãe.

No dia seguinte, segundo a mãe, Assis mandou mensagem perguntando se o menino estava sabendo da festa junina de um supermercado na cidade. “Se quiser, vou te buscar”, teria dito por mensagem. A mãe, que afirma não saber como o prefeito conseguiu o contato do filho, disse que foi ainda no sábado que ele fez videochamada, mostrou as partes íntimas e se masturbou. “Meu filho teve a ideia de filmar, conseguiu as imagens absurdas e me mostrou. São vários vídeos, cinco ou seis. Não é fácil pra uma mãe ter que ver o que eu vi não, mas tem de aguentar e mostrar para ter provas e provar que ele é um monstro. Isso acontece há muitos anos e ninguém nunca conseguiu colocar esse homem na cadeia”, acrescenta.

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O menino de 15 anos preferiu não falar com a imprensa. Questionada se sente medo, ela diz que agora não, mas alívio. “Essas duas semanas foram as piores da minha vida. Hoje estou bem melhor porque eu vi a justiça sendo feita”, finaliza.

O prefeito de São Simão, Francisco Assis Peixoto (PSDB), preferiu ficar em silêncio durante depoimento prestado ao MP-GO ontem. Conforme o MP-GO, as investigações continuam e devem ser concluídas na próxima semana. O órgão informou que denúncias podem ser direcionadas à Promotoria de Justiça de São Simão, pelos números 64 3658-1242 e 64 99347-4647, ou por intermédio do sistema MP Cidadão. “Os nomes dos denunciantes permanecerão em sigilo”.

Francisco de Assis Peixoto (PSDB), conhecido como Assis Peixoto, de foi eleito para a gestão de 2021-2024 com 40,65% dos votos.

Em entrevista à TV Anhanguera, o advogado do prefeito disse que “a prisão neste momento é totalmente desnecessária” e que vai protocolar pedido de habeas corpus. A reportagem entrou em contato com a assessoria de comunicação do diretório estadual para questionar se haveria um posicionamento sobre o caso, mas o PSDB-GO afirmou que só vai se manifestar após ter acesso ao processo.

 

Jornalista diz que foi abusado por prefeito 

Servidor da prefeitura de São Simão, o jornalista Luís Manuel Araújo, de 30 anos, usou as próprias redes sociais para afirmar que sofreu abusos sexuais praticados pelo prefeito Assis Peixoto (PSDB) entre os anos de 2001 e 2007. Em texto e vídeo, ele diz que foi um dos inúmeros “garotos do Assis” e que vai processá-lo por danos morais e materiais em decorrência dos abusos que diz ter sofrido entre 9 e 16 anos. A manifestação pública ocorreu após um adolescente de 15 anos gravar videochamadas nas quais o prefeito teria cometido crimes. Luís prestou depoimento no Ministério Público.

“Tô aqui relatando minha história de vida, o que eu vivi, o que guardei no meu coração esses 20 anos praticamente. Eu acho que mais do que eu merecer a verdade, a sociedade merece essa verdade. Do fundo do meu coração, achei que ele tinha parado com isso, que era uma fase, que passou, que não estava acontecendo mais. No fundo do meu coração eu tinha perdoado, eu deixei isso no passado. Eu falei: eu preciso tocar minha vida em frente. Eu não tenho provas e ele é uma pessoa que já ajudou tanta gente nesta cidade. Acho que pegaria mal eu tocar neste assunto. Ia ofender muita gente”, diz o jornalista em um vídeo publicado no Facebook.

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Luís afirma que as novas denúncias acabaram servindo de gatilho e o fazendo recordar tudo que viveu e perceber que o que acontecia há 15, 20 anos, continua se repetindo. Ele pede ainda que as pessoas não façam, neste momento, avaliações políticas sobre a situação ainda que sintam gratidão ao prefeito. “É uma coisa que aconteceu comigo e eu não gostaria que acontecesse com outras pessoas. Eu acho que preciso fazer isso para me libertar do que aconteceu e tocar minha vida em frente”, acrescenta.

O jornalista diz que possui vários traumas e que diariamente toma cinco remédios psiquiátricos desde que iniciou o tratamento. Além disso, engordou 30 kg e possui hoje problemas de memória e concentração que inclusive dificultam o trabalho e os relacionamentos. “Eu não estou culpando diretamente ele, mas o processo, o tempo do abuso, dessa situação, e o sofrimento dia após dia são os desdobramentos. O abuso pode acontecer num dia só, mas as marcas e as consequências elas vão repercutindo dia após dia. E a ideia entra na sua cabeça e você não sabe o que faz, se você chora, se você morre, se você grita, se você finge que nada está acontecendo”, diz.

Ele não acredita ser o único já adulto a ter sofrido abusos na infância e adolescência e afirma que outras pessoas passaram pelas mesmas coisas debaixo dos olhos de uma comunidade. Homens que hoje são adultos, casados, com filhos. “Talvez ainda carreguem tristeza no coração. A verdade é que São Simão precisa se libertar da pedofilia. Estou há 20 anos guardando isso dentro de mim, de pé. Eu sobrevivi e vou sobreviver. Daqui por diante que a gente escolha direito o político que a gente vai votar”, finaliza.

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JUSTIÇA

Relator do TRE-RJ vota pela cassação de Cláudio Castro e vice

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O processo que julga a cassação do mandato de Cláudio Castro, governador do Rio de Janeiro, teve nesta sexta-feira (17) a primeira sessão no Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ). O desembargador Peterson Barroso Simão, relator do processo, votou a favor da denúncia. Como houve pedido de vista do desembargador Marcello Granado, o julgamento será retomado na próxima quinta-feira (23), às 15h30.

As acusações envolvem supostas contratações irregulares feitas por meio da Fundação Ceperj e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) para conseguir vantagens na reeleição ao governo estadual, nas eleições de 2022. A chamada “folha de pagamento secreta” envolvia 27 mil cargos temporários no Ceperj e 18 mil na Uerj. Os réus são investigados por abuso de poder econômico, político, de autoridade e a utilização indevida dos meios de comunicação social.

“As contratações foram realizadas com urgência e sem critérios objetivos. A contraprestação do serviço não foi comprovada. Os órgãos públicos do governo dificultaram e muito o acesso às informações que deveriam ser públicas. Foram contratadas pessoas que não moravam no estado do Rio de Janeiro. E há notícias até de pagamentos para presidiários, funcionários fantasmas e servidores públicos com acumulação de cargo indevido. Tais atitudes comprometeram a legitimidade do pleito de 2022, trazendo natural desequilíbrio entre os candidatos”, disse o desembargador durante a leitura do voto.

Além de Cláudio Castro, são réus o vice-governador Thiago Pampolha; o presidente da Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj), Rodrigo Bacellar; os deputados federais Aureo Lídio Ribeiro e Max Rodrigues Lemos; o deputado estadual Leonardo Vieira Mendes; o suplente de deputado federal Gutemberg de Paula Fonseca; o suplente de deputado estadual e secretário estadual de Ambiente e Sustentabilidade, Bernardo Chim Rossi; o suplente de deputado federal Marcus Venissius da Silva Barbosa; a secretária estadual de Cultura e Economia Criativa, Danielle Christian Ribeiro Barros; o ex-subsecretário de Habitação da Secretaria Estadual de Infraestrutura Allan Borges Nogueira; o ex-secretário estadual de Trabalho e Renda Patrique Welber Atela de Faria e o ex-presidente da Fundação Ceperj Gabriel Rodrigues Lopes.

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Na sessão de hoje, o relator Peterson Barroso Simão votou pela cassação dos mandatos de Cláudio Castro, Thiago Pampolha e Rodrigo Bacellar. Também defendeu a inelegibilidade de Castro, Bacellar, Allan Borges e Gabriel Rodrigues Lopes por oito anos, contados a partir de 2022. No caso desse último, também houve voto para que seja multado no valor de R$ 106 mil. Em relação aos demais réus, Simão votou pela absolvição, por insuficiência de provas.

São duas ações de investigação na Justiça Eleitoral. Uma delas ajuizada por Marcelo Freixo e coligação A Vida Melhorar, que foram derrotados por Cláudio Castro na eleição de 2022. E a outra foi ajuizada pelo Ministério Público Eleitoral.

Por envolver cassação de mandato, todos os sete integrantes da Corte devem votar no processo. Além do relator, vão se manifestar o desembargador federal Marcello Granado, os desembargadores eleitorais Daniela Bandeira de Freitas, Gerardo Carnevale Ney da Silva, Fernando Marques de Campos Cabral Filho, Kátia Valverde Junqueira e o presidente da Corte, desembargador Henrique Figueira.

Acusação e defesa

Durante o julgamento, o advogado de acusação Henrique Fagundes Telles trouxe números de servidores que atuam em outros departamentos do estado para dimensionar o que representava a “folha de pagamento secreta” da Ceperj. Citou o exemplo dos professores da rede pública, que estão contabilizados em 27.665. E acusou o governador de ter desfigurado completamente o órgão para funcionar como uma máquina de campanha eleitoral.

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“Tenho absoluta certeza de que as eleições de 2022 e o projeto de reeleger o governador Cláudio Castro foi a verdadeira motivação de se utilizar a Fundação Ceperj. Ela era voltada para dados estatísticos e para a capacitação dos servidores. Isso, até o governador entender que valia colocar ela para ser o braço da sua campanha”, disse o advogado.

A procuradora regional Eleitoral, Neide Mara Cavalcanti Cardoso de Oliveira, disse que as medidas implementadas pela Ceperj não eram atos de gestão, e sim atos eleitorais. E afirmou que as investigações indicam que os servidores temporários eram coagidos a participar da campanha irregular, inclusive nas redes sociais, caso contrário eram desligados do cargo.

“A máquina pública foi manejada com evidente desvio de finalidade. A ampliação dos projetos, a forma como foram executados, de modo a beneficiar os investigados, nada justifica uma mudança de rumos assim tão drástica em ano eleitoral”, disse a procuradora. “Nenhum outro candidato teria condições de se valer de algo parecido para fazer frente a investida ilícita do poder governamental da vez. Foi um jogo desleal e desigual”.

À frente da defesa do governador Cláudio Castro, o advogado Eduardo Damian eximiu o político de responsabilidade, por considerar que tanto a diretoria da Ceperj como da Uerj tem autonomia administrativa para executar projetos. Ele garantiu que o governador pediu uma auditoria imediatamente quando soube das acusações, o que demonstraria boa fé e colaboração.

“Aqui não está se buscando uma responsabilização administrativa, aqui está se buscando anular a vontade de 4,960 milhões de eleitores. Por conta de contratações que não adentraram no período eleitoral e que não foram feitas pelo governador. Ele determinou a paralisação das contratações no período eleitoral”, disse o advogado.

Fonte: Justiça

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